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Tudo sobre a doença que pode ser causada pelo uso do absorvente interno

A Síndrome do Choque Tóxico (SCT) é grave e muitas vezes difícil de ser diagnosticada. Entenda essa infecção bacteriana que tem preocupado mulheres do mundo todo.

Por Gabriela Kimura
Atualizado em 11 abr 2024, 19h54 - Publicado em 6 jul 2015, 16h50
Luiz Carvalho (/)
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Recentemente o caso da modelo americana Lauren Wasser trouxe à tona uma antiga discussão: a segurança dos absorventes internos. Ela chamou a atenção do mundo todo para algo que é parte do cotidiano de milhões de mulheres e, principalmente, para a gravidade da doença. No começo Lauren só sentiu sonolenta e com a sensação de que estava ficando gripada, mas chegou a um ponto que não conseguia mais se levantar e encarou a morte de perto. Teve uma perna amputada e sofre com sequelas desde 2012, quando tudo aconteceu.

A enfermidade é uma grave infecção bacteriana que evolui rapidamente e pode levar à morte. Esclareça suas dúvidas sobre as causas, sintomas, tratamentos e precauções:

O que é isso?

Os primeiros casos de Síndrome do Choque Tóxico apareceram em 1978, nos Estados Unidos, mas eram notificados como pediátricos (ou não relacionados a menstruação). Somente nos anos 1980 é que se percebeu a ligação entre a SCT e mulheres em período menstrual, principalmente com o uso de absorventes internos de alta absorção, as novidades da época.

A SCT é uma doença decorrente de uma infecção bacteriana estafilocócica. Essa bactéria é normalmente encontrada na pele, mas só se torna um problema quando ocorre uma proliferação intensa, gerando a toxina TSST-1 (toxyc shock syndrome toxine-1). Essas toxinas causam a doença porque são superantígenas, ou seja, são capazes de ativar um número grande de células T (as responsáveis pela defesa do organismo) de uma só vez, resultando em uma produção massiva de citocina – a substância produzida pelas células para comunicarem-se – para combatê-las.

Além do choque tóxico, a bactéria também é responsável por outras enfermidades, como a síndrome da pele escaldada e intoxicações alimentares.

Quem pode ter?

A síndrome não está ligada, necessariamente, apenas à menstruação. 50% dos casos relatados são entre crianças e adultos (homens e mulheres) que não estão em fase menstrual. Nesses indivíduos a doença pode ter diferentes origens: infecções de cicatrizes cirúrgicas ou de pós-parto, sinusite, osteomielite (infecção óssea), artrite bacteriana, queimaduras, lesões na pele (principalmente nas extremidades, região perianal e nas axilas), infecções respiratórias seguidas de gripe e enterocolite (infecção intestinal). Isso acontece quando a bactéria que está na pele (ou é decorrente de infecções hospitalares) cai na corrente sanguínea e gera a reação intensa do corpo contra a toxina, o chamado choque tóxico.

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Quando está relacionada ao ciclo, não se sabe exatamente o motivo da proliferação estafilocócica em algumas mulheres e em outras não. De acordo com um estudo da Universidade de Illinois, nos EUA, publicado no Yale Journal of Biology and Medicine, aproximadamente 20% da população geral carrega a bactéria na pele e muitos mais carregam no nariz. O que se sabe é que o absorvente interno tem uma participação, atuando como o meio ideal para a rápida reprodução da bactéria. “24 horas de uso inadequado do absorvente pode levar à síndrome, com aparecimento dos sintomas. O quadro é muito grave e a piora é progressiva”, alerta a ginecologista Erica Mantelli. Ainda assim, desde 1986 o número de casos diminuiu de 9 em 100 mil mulheres para 1 em 100 mil, como aparece documentado no artigo da Universidade de Duke (EUA).

Quais são os sintomas?

Quando as toxinas caem na corrente sanguínea todos os sistemas do corpo sofrem. Isso significa que múltiplos órgãos se manifestam ao mesmo tempo. Fique atenta aos sinais:

  • febre acima de 38.9 °C;
  • hipotensão arterial (pressão baixa)
  • reações na pele (vermelhidão no corpo todo que lembra queimadura de sol)
  • calafrios;
  • mal-estar;
  • dor de cabeça;
  • dor de garganta;
  • dor muscular (mialgias);
  • fadiga;
  • vômitos/diarreia;
  • dor abdominal;
  • tontura e desmaios;

Tem tratamento?

A síndrome é uma doença grave que evolui rapidamente, com risco de levar à morte. Ao perceber alguns sintomas indicados, mesmo que se pareçam com gripe ou outras enfermidades, corra para um hospital. A ginecologista enfatiza: “Internação imediata. O médico deve avaliar o caso e o paciente receberá cuidados intensivos no hospital”.

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Como afeta vários sistemas, a medicamentação conta com antibióticos e reposição de fluidos para fazer o sangue chegar aos órgãos e vice-versa, já que a hipotensão dificulta a circulação. Intervenções cirúrgicas podem ser necessárias para drenar o foco infeccioso, retirando o pus do local para a penetração da medicação. Normalmente o tratamento dura de 10 a 14 dias.

Algumas pessoas têm uma grande produção de citocina durante a infecção e por isso não conseguem produzir anticorpos suficientes para criar uma “memória” contra a toxina.

Dá para evitar?

Como a relação da presença de estafilococos no corpo e a subsequente proliferação e produção de exotoxinas não é clara, difícil prever uma maneira de evitar a doença. Cuidados básicos com a higiene (inclusive a íntima) e não usar absorventes internos durante muitas horas ajudam a reduzir os riscos. Outras opções, como o coletor menstrual e o absorvente biodegradável, também apresentam chances menores de infecção.

O que o absorvente tem a ver com essa história?

Após a epidemia nos Estados Unidos nos anos 1980, o absorvente interno se tornou o “vilão” da SCT. Na época os novos produtos disponíveis no mercado contavam com uma tecnologia de alta absorção e substituíram o algodão por materiais sintéticos, como o poliacrilato-rayon, um derivado da polpa da madeira.

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A grande questão desse tipo de substância é que ela cria um ambiente propício para a proliferação dos estafilococos quando o absorvente é utilizado por períodos prolongados, pois imita o ágar-ágar utilizado nas placas de Petri para fazer as bactérias se repoduzirem mais rapidamente. “O material utilizado no absorvente pode reagir com bactérias locais e produzir toxinas, que caem na corrente sanguínea e atingem o organismo todo”, explica a ginecologista e obstetra Erica Mantelli. A recomendação é trocar a cada 4 ou 6 horas no máximo.

O pH vaginal também influencia a criação do meio, como apontado no estudo do Dr. Sharra L. Vostral, da Universidade de Illinois: o pH durante a menstruação passa de 4,2 para 7,4, ou seja, de ácido para básico – e tudo o que a bactéria precisa é de um meio neutro (pH 7).

Existe alguma regulamentação sobre absorventes no Brasil?

Os absorventes descartáveis não precisam de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), mas são submetidos a testes que comprovem que não existem substância tóxicas no sentido de gerar irritação na pele ou alergia, além de checar se o produto está livre de germes, como o estafilococo. No entanto, não há nenhuma obrigação de informar a possibilidade de Síndrome do Choque Tóxico, ainda que algumas marcas tenham um panfleto com a nota.

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