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Gratidão faz bem para o corpo e a mente, dizem médicos

Sentimento de gratidão se relaciona com a maior produção de dopamina e serotonina e a diminuição de hormônios como cortisol, associado ao estresse

Por Joana Oliveira
27 jul 2022, 09h49
gratidão e felicidade
 (Hello World/Getty Images)
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Já pensou em registrar todo dia, mentalmente ou num diário, três coisas pelas quais você é grata, desde saborear uma comida deliciosa até um encontro com uma amiga? Não estamos falando de postividade tóxica ou de um estilo de vida mais hippie. Esse é um conselho de cientistas de universidades como Yale, nos Estados Unidos, ou de Sheffield, na Inglaterra, cujos estudos apontam que a gratidão aumenta a sensação de felicidade, que, por sua vez, aumenta a produção de dopamina e serotonina e diminui hormônios como o cortisol, associado ao estresse. A longo prazo, pesquisadores acreditam que ser grata pode beneficiar a saúde física, fortalecendo o sistema imunológico e o coração, e melhorando o humor e qualidade do sono

Essas evidências são resultado de estudos como um realizado com 200 estudantes que, após escrever listas de gratidão por nove semanas, registraram mais felicidade e menos doenças físicas, além de sentirem mais energia para a prática de atividades físicas. Outra pesquisa indicou que pessoas que padecem de doenças neuromusculares escrevessem diariamente cinco coisas pelas quais eram gratos, durante três semanas. Os que fizeram o exercício relataram menos dor e sono de melhor qualidade do que os demais. Cientistas também observaram maior ativação no córtex pré-frontal, a área do cérebro associada à tomada de decisões e recompensa social, por parte das pessoas que foram estimuladas a cultivar sentimentos de gratidão. 

De acordo com a psiquiatra Malu de Falco, não se trata, no entanto, de olhar para o céu e dizer “muito obrigada”, apesar de ela reconhecer o valor da espiritualidade na qualidade de muitas pessoas. “Trata-se, principalmente, de olhar com uma atenção plena para o que existe de bom na vida, é perceber e valorizar esses pontos positivos do agora e não se apegar a pequenos acontecimentos ruins que a longo prazo não vão ter a menor repercussão”, diz ela a CLAUDIA. Isso vale, por exemplo, para uma briga de família, uma discussão no trânsito ou um mês em que as contas estão especialmente apertadas.

A especialista ressalta que gratidão também é sobre acolher os momentos ruins com generosidade. “Precisamos praticar, sobretudo, a generosidade conosco mesmos, reconhecer nossos sentimentos, nosso direito à tristeza, chorar e descansar quando quisermos. É isso que também nos permite enfatizar e agradecer as coisas boas ao nosso redor”, aconselha.

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Rotina

Socialmente, a gratidão é uma resposta dada a um benfeitor quando somos beneficiadas por ele. A gratidão é, portanto, um fenômeno entre pessoas, algo que Ricardo Massola, mestre em qualidade de vida e saúde mental, descreve como “um ciclo de bondade, de benfeitoria”. Por isso, ele acredita que para converter a gratidão num hábito é preciso vivenciá-la como ação. “Se esse é um sentimento interpessoal, a melhor forma de torná-lo parte da rotina é através da prática manifesta. Um bom começo é reconhecer quais são os esforços que as pessoas estão fazendo por você no dia a dia e agradecer por eles com palavras que extrapolem o simples ‘obrigado'”. Segundo o especialista, frases como “isso foi muito gentil de sua parte”, “você superou minhas expectativas” ou “sou muito grato a você por ter feito isso por mim” reforçam o ciclo de benfeitorias e estabelecem melhor bem estar social. 

Os especialistas reconhecem, no entanto, que, numa sociedade imediatista como a nossa e com o bombardeio de notícias negativas, o desafio é grande. Para amenizar esse barulho exterior que, muitas vezes, tira o foco do que realmente importa, Ricardo recomenda focar no primeiro componente da gratidão, que seria a cognição. “A primeira etapa para que exista a gratidão é reconhecer a sua dependência em relação aos outros, é julgar e crer que uma pessoa fez algo por você. Devemos, portanto, nos atentar aos esforços dos outros e aprender a enxergar as coisas belas que temos ou conquistamos em nossas vidas.” Para quem não quer anotar três momentos do dia em que se sentiu gratidão, ele recomenda escrever, toda semana, pelo menos três e-mails ou mensagens ou fazer três ligações simplesmente para agradecer a alguém pelo que essa pessoa fez por você em algum momento.

“Estudos com pessoas em depressão mostrou que escrever cartas de agradecimento mudou a função do córtex pré-frontal medial, área do cérebro responsável pelos pensamentos positivos, pela concentração, memória e pela mudança de comportamento, com benefícios que duraram até três meses”, comenta.  Ricardo também lista indícios científicos de pesquisas nas quais a gratidão reduziu quadros de ansiedade e estresse e aumentou a autoestima de pacientes.  “Por isso, a gratidão tem sido uma das intervenções psicológicas de efeito mais positivo para a saúde mental que se conhece”, acrescenta. E, ao que tudo indica, essa “ciência da felicidade” está apenas começando. 

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