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Cuidado com a obsessão por limpeza na pandemia

Segundo Anvisa, houve um aumento de 23,3% nos casos de intoxicação por produtos de higienização nos quatro primeiros meses de 2020

Por Colaborou: Gabriela Teixeira
Atualizado em 22 abr 2024, 12h18 - Publicado em 13 jun 2020, 10h03
 (Tara Moore/Getty Images)
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A Covid-19 abalou o mundo de todas as maneiras possíveis e também inimagináveis. A pandemia criou uma crise que atingiu não só a saúde, mas também a educação, a economia e até indústrias sólidas como a da moda. Também mexeu com nosso sono e sonhos, nossa saúde mental e até com nossos hábitos de limpeza. Quem afinal, desde a chegada do vírus ao Brasil, já não se pegou “dando banho” nas compras de mercado ou freneticamente passando álcool em gel nas mãos?

Infelizmente tanto cuidado, ao invés de proteger nossa saúde, tem se voltado contra ela. Segundo dados divulgados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), desde que foram orientadas as limpezas e desinfecções de objetos e superfícies, os Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) têm registrado um aumento nos casos de intoxicação por produtos de limpeza, possivelmente causada pela maior frequência de uso e exposição das substâncias.

Entre janeiro e abril deste ano foram registrados 1540 casos de intoxicação envolvendo adultos, o que representa um aumento de 23,3% em comparação ao mesmo período de 2019. Segundo José Luiz da Costa, coordenador executivo do CIATox local e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Toxicologia (SBTox), em Campinas o número de atendimentos foi 31% maior.

“É muito provável que este aumento esteja sim relacionado com a pandemia de Covid-19. Foi enfatizado para a população que a higiene das mãos e dos ambientes em geral é um procedimento fundamental na prevenção e controle do vírus. Como resposta as pessoas passaram a usar mais produtos do que o habitual, com um consequente aumento do risco de intoxicações”, explica Flavio Zambrone, médico toxicologista e presidente do Instituto Brasileiro de Toxicologia (Ibtox).

Ele aponta que dois fatores devem ser considerados ao se avaliar o risco de intoxicação: exposição e toxicidade. O primeiro diz respeito não apenas ao tempo em que a pessoa fica em contato com a substância, mas também a quantidade do produto. O segundo refere-se ao nível de toxicidade da composição de cada item. Um sabonete, Zambrone exemplifica, tem substâncias menos tóxicas do que um detergente, que por sua vez é menos tóxico do que um desinfetante. “É importante ressaltar que, quando utilizadas corretamente, estas substâncias são seguras e o risco de intoxicações é mínimo. O problema é quando se usa maneira inadequada, diferente do recomendado”, diz. Já Costa chama atenção para a ingestão acidental ou intencional, a mistura de produtos incompatíveis e o uso de produtos clandestinos, cuja composição química é indeterminada.

Os sinais de intoxicação variam de acordo com o tipo de substância e a exposição. Em contato com a pele, os produtos podem produzir irritação e dermatite local. Nos olhos, a irritação se soma à vermelhidão e conjuntivite. Já se ingeridos, provocam dores na garganta e no abdômen, podendo também causar náuseas e vômitos. Os produtos também ainda ter ação corrosiva, causando queimaduras na pele e em mucosas, além de desencadear falta de ar se a irritação for no trato respiratório. Em casos graves, há possibilidade de risco de vida.

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Ao primeiro indicativo ou suspeita de intoxicação, os especialistas recomendam suspender o uso do produto e, se possível, lavar bem o local com água limpa e fria. Em seguida, mantendo a calma, é indicado procurar o CIATox mais próximo, que oferece atendimento integral por telefone e, em alguns locais, também presencialmente. Todos os produtos regulares e legais também trazem orientações em suas embalagens sobre como proceder em caso de acidentes. “Nunca compre ou use produtos que não tem estas informações no rótulo”, alerta Zambrone.

Atenção redobrada

Em nota, a Anvisa também chama atenção para os casos de intoxicação infantil. No mesmo período analisado, foram observadas 1940 ocorrências em menores de 14 anos, uma diferença de 25,9% em relação aos adultos. Apesar de não estarem necessariamente relacionados aos esforços de limpeza, estes números comprovam que os acidentes domésticos são mais frequentes com crianças e a necessidade de maior cuidado para evitar que elas sejam intoxicadas.

A seguir, reunimos uma série de orientações dos especialistas e também da Anvisa sobre como prevenir uma intoxicação:

1- Manter os produtos de limpeza fora do alcance de crianças e animais, pois podem atrair a atenção principalmente de crianças pequenas, entre 1 e 5 anos de idade, e causar acidentes graves;

2- Evitar o armazenamento desses produtos em recipientes diferentes e não etiquetados.

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3- Supervisionar as crianças, não permitindo que acessem ambientes aonde tais produtos são armazenados.

4- Não deixar detergentes e produtos de limpeza em geral debaixo da pia ou em chão de banheiro.

5- Ler e seguir as instruções descritas no rótulo do produto.

6- Jamais use produtos sem rótulos ou que não estejam na embalagem original;

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7- Não compre produtos fracionados;

8- Evitar a mistura de produtos químicos.

9- Evitar o uso de produtos clandestinos, pois além de composição incerta, estes produtos são sempre muito coloridos, o que chama a atenção e desperta a curiosidade de crianças. Além disso, não dispõem de tampas com travas de segurança;

10- Garantir ventilação adequada quando for manusear o produto.

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11- Inutilizar embalagens vazias dos produtos, pois elas sempre ficam com resíduos. Jogue fora as embalagens vazias, de preferência em sistema de coleta seletiva.

12- Em caso de emergências toxicológicas, não provoque vômito e tenha sempre disponível o número 0800-722-6001 do Centro de Intoxicações (CIATox).

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