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Marca cria calcinha absorvente para PcDs

Ao lado das clientes, a HerSelf conseguiu projetar um modelo que desse autonomia às pessoas menstruantes com deficiência

Por Paula Jacob
20 jun 2022, 11h08
Calcinha absorvente para PcDs
 (Divulgação/Divulgação)
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Preocupada com o bem-estar e a saúde íntima de pessoas menstruantes desde a sua fundação, em 2017, a HerSelf agora traz para o mercado uma calcinha absorvente para PcDs. O processo começou em setembro de 2021, visando mergulhar na rotina durante o período de sangramento. “Foi avaliando de perto que percebemos, junto com as modelos [fotos, com quem desenvolveram os produtos], a necessidade de trazer, além da calcinha com abertura lateral, uma toalha adaptada e fixa na cadeira. Garantindo, assim, autonomia à elas”, explica Raíssa Assmann Kist , CEO e cofundadora da marca. 

Junto com esse lançamento, surge também um projeto de educação menstrual focado em romper o tabu em torno da temática pelo viés emocional, biológico, ambiental e político-social. “O conhecimento, para nós, é a transformação que garante que essas meninas, mulheres e pessoas que menstruam possam ter uma visão mais positiva em relação ao seu corpo”, afirma Raíssa. A seguir, batemos um papo com ela sobre o desenvolvimento das peças e a importância de naturalizarmos a discussão acerca da menstruação na sociedade.

Como foi o processo de desenvolvimento dos modelos?

Ele começou em setembro de 2021 e finalizamos agora, em maio, foram nove meses até o lançamento. Esse produto já era idealizado desde o início da HerSelf porque, durante o processo de financiamento coletivo, em 2017, fizemos entregas presenciais onde pudemos conhecer algumas famílias. Um dos pais – o da Isabela, que foi uma cliente muito importante para nós – nos ajudou a conhecer e entender as necessidades dela e perceber o quanto as calcinhas poderiam fazer uma transformação na rotina, sem a necessidade de usar mais os [modelos] descartáveis, não tivesse mais alergias ou assaduras, e vivesse uma experiência menstrual mais positiva.

Desde então, acompanhamos outros casos e conseguimos entender, principalmente com as modelos que estampam esta coleção, quais seriam os diferenciais das calcinhas tradicionais para atender as necessidades de pessoas com deficiência. Assim, foi possível entender a dinâmica de pessoas que conseguiriam ter uma autonomia de tirar e colocar e como, com alguma especificidade de limitação de movimento com as mãos, poderiam ter autonomia de tirar e colocar a calcinha. 

Por isso chegamos na abertura lateral. Era muito importante garantirmos que essa escolha se daria em conjunto para fazer sentido na rotina delas, assim como uma experiência completa, de ponta a ponta. Foi avaliando a rotina menstrual que percebemos que faria sentido trazer também a toalha, adaptada e fixa na cadeira. Não bastava só desenvolver na prática, mas testar no dia a dia delas. 

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Qual a importância de discutirmos mais a saúde íntima e a menstruação?

A importância de falar de menstruação, de saúde menstrual e saúde íntima parte do ponto de que, enquanto a gente não naturaliza esse diálogo, esse assunto permanece sendo tabu e não permite que as necessidades – tanto individuais quanto sociais – sejam conhecidas para que, num segundo momento, possam ser atendidas. 

Enquanto a gente não entende as reais necessidades de mulheres e pessoas que menstruam, a inovação se torna algo subentendido, ou uma hipótese e é por isso que, na nossa visão, a gente ficou tantas décadas, desde 1930, sem, de fato, uma grande inovação para protetores menstruais, depois dos absorventes descartáveis. Foram muitas décadas sem inovação. 

A necessidade de abrir esse diálogo é para que as reais necessidades de pessoas que menstruam sejam atendidas, garantindo a autonomia do entendimento do próprio corpo para que, desde a primeira vivência, da primeira menstruação, não se tenha uma visão negativa de que a menstruação é um limitante. O conhecimento, para nós, é a transformação que garante que essas meninas, mulheres e pessoas que menstruam possam ter uma visão mais positiva em relação ao seu corpo. Uma visão de saúde, entendendo que a menstruação faz parte do seu corpo e é um processo natural de crescimento e não algo que é desconhecido, que é limitante. 

Calcinha absorvente para PcDs
(Divulgação/Divulgação)
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Sobre o projeto educacional: quais são as frentes de atuação? Como vocês desenvolveram essa escola? 

A HerSelf cria esse novo braço de educação justamente por entender essa transformação cultural que precisa romper o tabu e estabelecer uma narrativa mais positiva em relação à menstruação. Nós queremos auxiliar no direito à informação que, muitas vezes, é negligenciado em ambientes escolares e familiares.

Unindo forças, estabelecemos a HerSelf Educacional comigo e minha sócia, Victória Castro, que é bióloga e referência em saúde menstrual. A partir disso, desenvolvemos a visão de educação menstrual com quatro pilares: o emocional, baseado na visão do impacto da menstruação a partir do indivíduo e da experiência que essa pessoa teve; o de saúde, que traz uma questão biológica; o ambiental pelo contexto do impacto individual e coletivo que a menstruação tem no meio ambiente; e, por fim, o político-social, que é a garantia de direitos para promoção de dignidade menstrual (acessos à saneamento, água, protetor menstrual e à informação).

A Escola da Menstruação oferece novas narrativas por meio de livros e cursos que atendem a pessoas que querem ressignificar a sua relação com a menstruação individualmente, mas também para profissionais que, além disso, são replicadores dessa nova visão em relação à menstruação, em relação à cultura. Nós realizamos diferentes modelos de formação, seja individual ou particular, quanto em relação à rede pública, a rede municipal de professores que querem replicar isto dentro da escola.

Pouco se fala sobre pobreza menstrual no Brasil, ainda mais para pessoas com deficiência. Quais intersecções vocês pensaram para atuar neste momento com a HerSelf?

O contexto de pobreza menstrual é algo complexo que requer inúmeros protagonistas para a gente conseguir ter uma transformação e minimizar os impactos dessa condição que se estabelece no país. 

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A HerSelf assume essa responsabilidade e faz uma pressão política para o desenvolvimento, denunciando o contexto atual e participando da redação de políticas públicas que garantam o acesso à protetores menstruais para uma população em situação de vulnerabilidade. A gente enquanto empresa se entende como agente de transformação ao denunciar e também ao desenvolver uma nova lógica que possibilite que o Estado tenha ferramentas para lutar contra e evitar que essa negligência permaneça. 

Também fizemos um projeto de desenvolvimento de células de produção dentro de casas prisionais. O desenvolvimento dele é referência no Rio Grande do Sul e já foi realizado em outros Estados, como em Rondônia e, em breve, no Ceará e em Minas Gerais. O objetivo é desenvolver o acesso à tecnologia para protetores menstruais reutilizáveis, buscando trazer acesso à informação sobre educação menstrual, empreendedorismo e confecção. Os pilares de autonomia (do corpo e do conhecimento) e de empreendedorismo visam trazer uma perspectiva de fonte de renda atual e futura para essas pessoas. 

Essa é a forma que encontramos para atuarmos no combate à pobreza menstrual de maneira efetiva e sustentável. Em contextos onde não há nem acesso à água, a gente entende o quanto o papel dos descartáveis é fundamental e, como um primeiro passo, a gente precisa garantir o mínimo. Só assim iremos evoluir e pensar o quanto as calcinhas adaptadas também vão fazer dessa confecção dentro das casas prisionais.

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