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200 anos de atraso: sapatilhas em diversos tons começam a chegar ao balé

"Não é que não existam bailarinos negros, são as companhias que custam a se abrir para a diversidade", diz Ingrid Silva à CLAUDIA

Por Vinicius Tamamoto
Atualizado em 12 nov 2018, 14h18 - Publicado em 9 nov 2018, 17h19

Quando foram criadas, por volta de 1820, as sapatilhas de ponta usadas por bailarinas clássicas eram brancas. Não muito tempo depois, para se aproximar do tom de pele das europeias, o acessório começou a ser fabricado na cor rosa. Assim, os pés passaram a acompanhar a linha das pernas, tornando a composição dos membros inferiores mais harmoniosa e alongada.

Desde então, quase nada mudou nesse sentido – o balé custa a acompanhar as transformações e avanços da sociedade. Com estruturas rígidas e pouco inclusivas, as principais companhias são compostas majoritariamente por pessoas brancas, inclusive no Brasil, país onde a maioria da população é negra.

As sapatilhas são sintomáticas. Só agora, cerca de duzentos anos depois do invento,  as empresas começam a olhar para os diversos tons que pintam a pele humana. Em outubro, a marca Freed of London lançou duas novas cores de sapatilhas para atender a bailarinas não brancas. Outra que botou no mercado sapatilhas que vão além de rosa foi a Gaynor Minden.

Por aqui, a Capezio, outra fabricante, lançou um produto no ano passado na cor bronze para preencher a lacuna, mas diz que a aceitação foi baixa. “A gente não tem uma parcela significativa de bailarinas negras, então não há muita procura”, afirmou a empresa.

O x da questão

Para Ingrid Silva, bailarina brasileira radicada em Nova Iorque, é esta a maior barreira a ser enfrentada no mundo do balé. Em sua visão, a falta de sapatilhas que contemplem os negros é apenas o reflexo da falta de oportunidades e não a raiz do problema. “O primeiro passo para mudar isso é ter mais negros nas companhias”, afirma em entrevista à CLAUDIA.

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This has been my process for the past 11 years.. until a brand creates a pointe shoe in my skin color. There’s so much research to be done.. Well that’s a start. ——————————— Este tem sido meu processo nos últimos 11 anos.. até uma marca criar uma sapatilha que é da cor da minha pele. Tem bastante estudo a ser feito ainda.. Mas este ja e o começo. (Link in the Bio) 📸 @anrizzy

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Criada em Benfica, no Rio de Janeiro, Ingrid é filha de uma empregada doméstica e de um funcionário aposentado da Força Aérea Brasileira. Começou a dançar aos oito anos no projeto social “Dançando Para Não Dançar”. Aos 18, passou a integrar a americana Dance Theatre of Harlem, companhia multiétnica de balé.

Nos anos 70, o fundador Arthur Mitchell foi visionário ao fazer com que seu corpo de baile usasse sapatilhas com os tons de pele de cada bailarino. Muitos precisavam pintar o calçado com maquiagem. Ingrid faz isso até hoje. No YouTube, ela já publicou um vídeo mostrando como “camufla” as suas. “A marca que eu gosto de usar ainda não lançou uma que contemple o meu tom de pele”, explica.

Ingrid, que precisou sair do Brasil para ser reconhecida profissionalmente, acredita que o país ainda tem muito a avançar. “Os grupos nacionais seguem muito o padrão europeu”, pontua. Por isso, falta diversidade nos corpos de baile em um país tão colorido como o nosso. “Não é porque não existam bailarinos negros, é porque as companhias custam a se abrir para a diversidade”, completa.

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À parte disso, há o estilo de cada companhia. A exigência do diretor do Dance Theatre of Harlem para que os bailarinos pintassem suas sapatilhas ressaltou a personalidade do grupo. “Mas cada companhia é livre para fazer suas escolhas. E isso não tem a ver com racismo.”

Apesar da ressalva, ela vê com otimismo o pequeno avanço causado pelas sapatilhas em outros tons de cor. Segundo ela, como condutor de tendências, os Estados Unidos podem fazer com que mais países olhem com maior cuidado para a questão. “Finalmente estamos ganhando espaço.”

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