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Meninas da Fundação Casa participam de oficina sobre empreendedorismo

Jovens, essas mulheres já vivenciaram muita dor; agora têm a chance de recomeçar através de uma iniciativa do Google

Por Gabriela Maraccini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 18 fev 2020, 08h36 - Publicado em 15 Maio 2019, 15h52
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  • “Meu pai tirou a minha virgindade”. A frase chocante foi dita por B.* na segunda-feira (13) durante edição do Women Will, iniciativa privada de capacitação do Google que, em parceria com a Rede Mulher Empreendedora e apoio do Instituto Mundo Aflora, se dedica a treinar meninas que estão ou já passaram por medidas socioeducativas na Fundação Casa.

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    Assim como outras jovens que participam do programa, B. tem uma história dolorida, mas aos poucos está conseguindo dar a volta por cima. Aos 13 anos, ela saiu de casa onde morava com o pai e com a madrasta. Lá, conta, sofria uma série de abusos sexuais. “Meu pai começou a mexer comigo aos 8 anos de idade e ele só parou aos 12, quando eu virei mocinha”, revelou à CLAUDIA.

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    B., de 18 anos (CLAUDIA/CLAUDIA)

    “Naquele momento, eu não tinha a minha mãe por perto. Não tinha um primo, não tinha uma tia. Então eu comentei com a minha madrasta e ela não gostou. Por eu ser enteada dela, ela já não gostava de mim. Então quando eu contei, ela falou que era mentira, que eu estava inventando e me botou para fora de casa.”

    Desde então, B. busca sua independência e tenta estruturar a vida sozinha. Uma pedra no caminho, no entanto, fez com que ela fosse parar na unidade de Chiquinha Gonzaga, na Mooca, Zona Leste de São Paulo.

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    Eu sempre levei comigo que o que eu passei foi uma fase. Acabei sendo uma cabeça dura e me deixei levar por palavras, por momentos”, conta.

    Histórias e sonhos

    No total, estão participando desta edição do Women Will 27 meninas da Fundação Casa, sendo 15 em internação ou regime de semiliberdade nas unidades Taipas e Chiquinha Gonzaga, e 12 que já estão em liberdade e foram indicadas pelo Instituto Mundo Aflora.

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    M.
    M., de 18 anos. (CLAUDIA/CLAUDIA)

    M. é outra delas. Aos 18 anos, a jovem enfrenta sua segunda internação na Fundação Casa, na unidade de Taipas. A primeira aconteceu quando tinha 15 anos, na unidade Chiquinha Gonzaga.

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    Lá dentro, M. soube aproveitar os cursos oferecidos pela fundação e se dedicou aos estudos. Em 2018, prestou o ENEM e, atingindo uma boa nota na redação, ingressou na universidade para estudar Serviço Social. “Eu quero trabalhar com meninas que estão passando por medidas socioeducativas e mostrar a elas que se eu consegui superar as dificuldades, elas também conseguirão”, revela.

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    Criada no Jabaquara, zona sul de São Paulo, M. cresceu em uma família desestruturada. A mãe é usuária de drogas e o pai, distante. Apesar das dificuldades, sonha com um futuro melhor. “Eu acho que as dificuldades me tornaram mais forte”, afirma.

    J., de 15 anos. (CLAUDIA/CLAUDIA)

    Assim como M., J., de 15 anos, também está na Fundação Casa, mas em regime de semiliberdade. Ela tem o direito de ir à escola e visitar a família aos finais de semana, em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, sua cidade natal.

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    Além da escola, a garota faz um curso de administração e quer trabalhar com marketing futuramente. Seu sonho é atingir a estabilidade financeira e viajar o mundo. “O lugar que eu mais quero conhecer é a Grécia”, conta.

    Empoderamento e perspectiva: como funciona o programa

    Durante quatro dias de treinamento presencial, com início na segunda-feira (13) e término nesta quinta (16), o Women Will apresenta uma agenda pensada especificamente para o empreendedorismo feminino com linguagem adaptada para as meninas participantes.

    Entre os temas escolhidos destacam-se assuntos como ferramentas digitais, negociação, autoimagem, liderança feminina, empregabilidade na prática, técnicas de relaxamento e controle emocional, segurança e marketing digital. Com isso, as jovens serão incentivadas a desenvolver novas habilidades técnicas, comportamentais e pessoais e a desenvolver a independência financeira.

    “A grande missão do Women Will é deixar essas mulheres fortes e empoderadas para que elas achem a sua oportunidade econômica e se desenvolvam”, explica Maria Helena Marinho, gerente de insights do Google e líder do programa.

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    Em parceria com a Rede Mulher Empreendedora, o Google escolheu funcionários da empresa e mulheres que já passaram por medidas socioeducativas da Fundação Casa. Eles irão compartilhar suas experiências pessoais para incentivar as aprendizes.

    “A grande questão da grade é o empoderamento psicológico para que ela [a aprendiz] se sinta segura para fazer o que ela quiser. Independente do tipo de atividade que ela queira fazer, a gente quer que ela se inspire a se reconectar consigo mesma, se sinta forte e entenda que ela tem capacidade”, completa Marinho.

    Abrir a mente

    Meninas no Women Will
    Meninas no Women Will (Iara Barbosa/RME/Divulgação)

    Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora, afirma que o objetivo é dar às meninas possibilidade para sonharem. “O que a gente quer de verdade é mostrar que elas podem, ajudando-as a dar o próximo passo”, conta.

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    “A gente tem que reforçar muito que existe perspectiva. Elas ficam abandonadas quando vão para essas instituições. Então é muito importante mostrar a elas que há perspectiva, que elas podem seguir uma vida diferente”, ressalta Fontes.

    Recomeço

    Atualmente, B. mora sozinha, em Paraisópolis, na Zona Sul da capital paulista, e está prestes a começar a trabalhar como operadora de loja em um supermercado. Seu maior sonho é tornar-se advogada e, futuramente, juíza.

    Assim como as outras meninas, participar do Women Will abriu sua mente e visão sobre o futuro. “A determinação e a força de vontade são coisas novas, são ares novos. Eu entendo que é uma nova oportunidade de ver o mundo de uma nova maneira”, diz. Quando você tem a oportunidade de conversar com empreendedoras, como estou tendo hoje, suas ideias e seus pensamentos mudam”, opina J. 

    Já M. acredita que o programa quebra o estigma existente em torno de meninas que passam por medidas socioeducativas. “As pessoas ainda veem a gente como meninas que são criminosas. Mas aqui elas não nos olham como se tivéssemos problemas. É muito produtivo e traz garra.”

    *Os nomes foram ocultados para preservar a identidade das entrevistadas

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