Diariamente, a empresária Fátima Brilhante se desloca da casa onde vive, em Fortaleza, rumo à fábrica de moda feminina que fundou há 27 anos em Pacajus, cidade vizinha da capital cearense. No caminho, passa em frente ao Instituto Penal Feminino Desembargadora Auri Moura da Costa, localizado na BR-116, que liga os dois municípios. “No passado, quando via a penitenciária, imaginava que muitas das mulheres presas ali deveriam estar ociosas nas celas e sem perspectiva profissional após cumprirem a pena. Queria ajudá-las de alguma forma”, conta ela.
Movida por esse desejo, Fátima procurou a Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado do Ceará (Sejus) e, em 2006, criou uma extensão da própria fábrica no interior do presídio. Ao longo de uma década, ela calcula que o projeto Reviva já tenha capacitado 480 mulheres (a Sejus não possui o número oficial de participantes). Atualmente, 22 internas geram por mês cerca de 5 mil peças de roupa para as duas grifes de Fátima, a Famel e a Florinda, número que corresponde a 10% da produção total do negócio. Em contrapartida, recebem um salário mensal de 660 reais (valor determinado pela Lei de Execução Penal) e a cada três dias trabalhados conseguem reduzir um dia de pena. “A maioria não sabe o bê-á-bá, como colocar linha na agulha, mas em três meses já está costurando e fazendo crochê”, diz Fátima.
O expediente de oito horas começa após o café da manhã, quando as internas vestem o uniforme de trabalho e se dirigem à oficina de costura, que funciona na antiga lavanderia do presídio, reformada pela empresária. “Colocar o uniforme e sair para trabalhar pode parecer pouco para grande parte das pessoas, mas significa muito para quem está preso”, relata Maria de Lourdes Portela, diretora da penitenciária. De segunda a sexta-feira, Selma Vieira, funcionária antiga de Fátima na confecção, ensina o ofício e monitora a produção de internas como Andrea Alves da Silva, 33 anos, condenada por tráfico de drogas: “Quero me aperfeiçoar na costura para não voltar ao crime”, afirma Andrea.
Desde o meio do ano passado, o projeto se estende também aos internos do Instituto Presídio Professor Olavo Oliveira 2. Ali, orientados por um ex-detento, cinco presos executam peças de macramê – por unidade, faturam entre 5 e 12 reais. “A produção deles é de ótima qualidade e foi completamente aproveitada em nossa última coleção”, conta Josenias Vasconcelos da Silva, o Junior, coordenador de estilo das duas grifes. “Macramê é uma técnica manual de tecer fios que está se perdendo no Ceará por falta de mão de obra. Os internos ainda estão contribuindo para mantê-la viva”, comemora ele.