6 marcas de moda nacional comandadas por mulheres
Destaques na última São Paulo Fashion Week, elas mostram porque memória e identidade são importantes para compor o DNA de uma coleção
A moda nacional tem dado um novo (e ótimo) respiro. Marcas cheias de personalidade amadurecem ao longo das temporadas, trazendo um refinamento estético, de discurso e de prática para termos uma leva expressiva de referências quando o assunto é a arte de fazer roupas (e de se vestir com propósito). A partir das coleções desfiladas na última edição da São Paulo Fashion Week, te mostramos 6 marcas brasileiras de moda comandadas por mulheres que merecem a sua atenção:
Neriage
A Oásis evidencia a maturidade de Rafaella Caniello, trazendo uma continuação de seu trabalho nas outras coleções. A estilista partiu de um olhar interno sobre mudanças, falhas e batalhas — e como muitas delas foram vencidas. “Os desafios são constantes. Por isso, chegar a um oásis é saber que você ainda terá que atravessá-lo para seguir a diante”, explica. O mistério da palavra “oásis” aparece nos três momentos em que o desfile foi dividido: o primeiro poema, encontro-me aqui, apresenta uma cartela de cor mais forte e combinações intensas; o segundo, viagem, já mostra tons terrosos, com chapéus de palha e tricôs, feitos em parceria com a Anselmi; o terceiro, monções, reúne tecidos mais nobres, como seda e até veludo, novidade na cartela da Neriage. “Essa diferença de texturas tem a ver com esse caminhar sobre tantos solos diferentes.” neriage.com.br
Isaac Silva
Camadas e mais camadas se sobrepõem nas peças da coleção As Girôs — palavra de origem africana que simboliza os mestres da cultura oral —, feita em homenagem a Marisa Moura (estilista brasileira) e Mama (senegalense radicada no Brasil há 15 anos). A junção de ambas fez com que Isa enaltecesse ícones da cultura baiana, sua terra natal, tal qual os búzios, presentes no detalhe das golas cavadas (foto), nos botões das camisas e nos acessórios. isaacsilva.com.br
Renata Buzzo
“Eu me sinto confortável em olhar para dentro”, diz Renata Buzzo, estilista de sua marca homônima, que preza, antes de tudo, pela sustentabilidade em toda a cadeia de processo: dos tecidos veganos à saúde de seus colaboradores. Em Cavum, ela mergulhou em uma questão pessoal, a partir do diagnóstico de uma variação morfológica chamada Cavum do Septum Pellucidum. “Eu tenho um buraco onde deveria ter massa cerebral trabalhando em prol das minhas emoções. É tudo 8/800”, conta. Numa investigação que mistura a imagem de louca da mulher, o genocídio de pessoas internadas em manicômios entre nos anos 1960 e 1970 no Brasil e um sonho que teve após o resultado médico, ela sublima na moda a sua arte de expressão. São vestidos, conjuntos, casacos e sapatos que brincam com a oscilação da água que mora dentro de nós, “do mar ao conta gotas”, como diz a estilista, do racional ao animal, do compacto ao fluído. renatabuzzo.com
Aluf
Depois de três anos sem desfilar, a marca de Ana Luisa Fernandes escolheu o jardim da Casa Wooding, em Alto de Pinheiros (SP), para criar o seu escape de poesia vestida. A coleção Relembrar fala do processo de olhar para os signos da marca e enaltecer os caminhos até aqui. Fiel ao que faz parte da identidade originária, a estilista reforça as formas assimétricas e o estudo de volumes em tons que vão do cru ao vermelho vivo. As texturas, trabalhadas em linho, algodão e seda, saltam os olhos principalmente nas peças da linha Ateliê, feitas sob encomenda. aluf.com.br
A. Niemeyer
Olhando para a ancestralidade individual, essa que cada um de nós carrega, Fernanda Niemeyer e Renata Alhadeff criaram a Costurando Afetos. “Só olhando para trás conseguimos entender quem a gente é para criar fortalezas e caminharmos para frente”, contam. Como uma linha que une passado, presente e futuro, a coleção faz um aceno respeitoso para as memórias, presentes nas padronagens dos jacquards, ao passo que mira o que vem por aí por meio dos tecidos sustentáveis. Destaque também para o maior número de moletons, conceitualmente falando, feitos de lã e algodão, desfilados pela marca. “A razão é trazer o aspecto comfy que as memórias afetivas nos trazem.” loja.aniemeyer.com.br
Angela Brito
“O ponto de partida para Estrangeira estava ligado aos povos nômades da África, Ásia e América Latina, mas não queria que ficasse datado ou étnico”, diz a estilista que dá nome à marca. Tecidos se revelam em sobreposições para refletir esse deslocamento nas roupas. Já os acessórios junto com a beleza inesperada, com maquiagem nas pernas e até orelhas, representam o ideal de sociedade que Angela Brito pensa para os próximos anos, onde todos possam transitar livres. “Gosto de dizer que sou uma mulher negra cosmopolita ou afrocosmopolita. As pessoas pensam numa mulher negra lá atrás, falando de ancestralidade, ou lá na frente, pensando no afrofuturismo. Mas eu estou aqui, penso, estudo e crio para a mulher atual – como ela se comporta, para onde ela vai…” angelabritobrand.com