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Mulheres são destaque no Web Summit Rio 2023

Pela primeira vez na América Latina, o Web Summit Rio contou com protagonismo feminino

Por Paola Carvalho
Atualizado em 10 Maio 2023, 13h55 - Publicado em 4 Maio 2023, 17h44

Quase 9 mil mulheres participaram, nesta semana (de 1 a 4 de maio), do Web Summit Rio. Considerada a maior conferência de tecnologia e inovação da Europa, iniciada na Irlanda em 2009, é a primeira vez que ela desembarca na América Latina. No total, são mais de 21 mil integrantes de startups e empresas, investidores e curiosos, de 91 países, reunidos nos gigantes pavilhões e jardins do Riocentro. A presença de 40% de brasileiras no total de participantes chamou a atenção da organização mundial – embora saibamos que os números poderiam ser mais relevantes. Entre os palestrantes que subiram ao palco, 37% também são mulheres. E, das 974 startups presentes, apenas um quinto (21%) foram fundadas por elas. 

A organização informou que esgotaram em tempo recorde os ingressos da “Women in Tech”, iniciativa que oferece entrada com 75% de desconto, palestras inspiradoras, networking, ambiente de encontro e oportunidades no Web Summit. “Temos trabalhado para aumentar a proporção de gênero, que cresceu de 25% (2013) de mulheres para quase a paridade, com mulheres superando os homens pela primeira vez em 50,5% em 2021”, informou em nota. “Ao incentivar a participação de mulheres e oferecer esses recursos, a Web Summit espera fechar a lacuna de gênero que ainda existe na indústria de tecnologia”.

Mulheres foram destaque no evento de tecnologia e inovação.
Mulheres foram destaque no evento de tecnologia e inovação. (Web Summit/Divulgação)

“A tecnologia precisa ser diversa”, defendeu a cofundadora do Black Lives Matter (Vidas Negras Importam, na tradução para o português), Ayo Tometi, na abertura do evento, que aconteceu na noite de 1º de maio, no feriado do Dia Internacional dos Trabalhadores. Ela falou sobre como o movimento, criado há 10 anos, em 2013, foi capaz de gerar negócios e lideranças formidáveis em todo o planeta. Destacou, ainda, que é preciso fazer com que as ferramentas tecnológicas trabalhem a favor das causas inclusivas. “Estamos ficando mais fortes, há o suficiente para todos. Esperamos poder desenvolver a força que nos ajudará a alcançar a mudança que merecemos”, disse durante coletiva à imprensa.

A influenciadora digital e empresária, Bianca Andrade, a Boca Rosa, está há 12 anos no mundo digital e construiu um “império da beleza”, como diz. Moradora do Complexo da Maré até os 20 anos, ela tem mais de 18,4 milhões de seguidores no Instagram e 5,7 milhões de inscritos no YouTube. Hoje, com 28, questiona o que poderia fazer pelas “biancas de hoje, mulheres que estão na comunidade e precisam empreender por necessidade”. Por isso, criou o projeto “Deu Match”, um curso de marketing digital para fomentar o empreendedorismo feminino nas favelas. Ela disse ser “cafona” questionar como será a internet daqui a 10 anos, mas acredita ser essencial que as empresas humanizem suas marcas.

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A indígena brasileira e ativista pela preservação da Amazônia, Txai Suruí, em 2021 atraiu os holofotes do mundo ao discursar na 26ª Conferência da ONU sobre o Clima em Glasgow. Hoje, aos 26 anos, é uma das vozes mais potentes na defesa dos povos indígenas do Brasil, acumulando funções de coordenadora-geral da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé (que trabalha com 21 povos indígenas da Amazônia), coordenadora do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia e conselheira da WWF-Brasil e do Pacto Global da ONU no Brasil. “Somos 5% de toda a população mundial e protegemos 82% de toda a biodiversidade. Nosso compromisso é o da vida”, destacou no palco do Web Summit Rio. Ela falou sobre a união da ancestralidade com a tecnologia. Contou que, na época em que seu avô Marimop Suruí era o chefe maior do povo Paiter Suruí, arco e flecha eram as armas para defender o território, e que hoje são drones, satélites do Google, câmeras de vídeo, celulares e redes sociais para denunciar invasões. 

Confira abaixo falas de mulheres que estiveram no Web Summit Rio 2023. 

Meredith Whittaker, ex-Google e presidente da organização sem fins lucrativos Signal
Meredith Whittaker, ex-Google e presidente da organização sem fins lucrativos Signal foi uma das palestrantes a subir ao palco. (Web Summit/Divulgação)

“No Web Summit comunicamos a importância existencial da privacidade, o perigo do modelo de negócios de vigilância que está por trás da atual indústria de tecnologia e demonstramos, pelo exemplo, que é possível construir tecnologia de outras formas. Inteligência Artificial é um termo de marketing aplicado a tecnologias que exigem recursos aos quais apenas grandes empresas têm acesso. Um desses recursos são grandes quantidades de dados, gerados e coletados por meio de um modelo de negócio de vigilância”, afirmou Meredith Whittaker, ex-Google e presidente da organização sem fins lucrativos Signal, aplicativo de mensagens considerado “verdadeiramente privado” mais usado no planeta. 

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Whittaker foi uma das principais articuladoras de um movimento interno no Google que expôs preocupações com os danos da IA desenvolvida pela empresa, atuando como organizadora do Google Walkout (protesto de funcionários contra a companhia). Concluiu recentemente um mandato como Conselheira Sênior em IA para a Presidente da Comissão Federal de Comércio dos EUA. “Estamos no Brasil para aprender como as pessoas usam mensagens e como podemos garantir que estamos construindo um aplicativo amigável e intuitivo para os brasileiros”, disse. 

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Chelsea Manning
Chelsea Manning, consultora da Nym, fala sobre responsabilidade dos profissionais da tecnologia sobre desenvolvimento de proteção de privacidade para usuários. (Web Summit/Divulgação)

“O Web Summit Rio representa, genuinamente, um momento crucial para o Brasil e a América Latina como um todo, enfatizando a importância da diversidade e inclusão no cenário tecnológico fora do Vale do Silício. O evento não apenas mostra o potencial de inovação da região, mas também serve como uma plataforma para capacitar vozes sub-representadas, incluindo mulheres, mulheres trans e indígenas. Acho que o Web Summit Rio vai se tornar um marco regular na região daqui para frente”, destacou Chelsea Manning, consultora da Nym, empresa de tecnologia voltada para infraestrutura de segurança, e ex-analista de inteligência do exército norte-americano. Durante o painel “Inteligência Artificial é melhor com privacidade”, ela destacou a responsabilidade dos profissionais de tecnologia em desenvolver produtos que protejam a privacidade dos usuários conectados e não dependam somente das regulamentações.

“Estou positivamente surpresa com a grande presença de mulheres fundadoras e investidoras no Web Summit, resultado, talvez, de um esforço consciente, ou realmente (e felizmente) o cenário do empreendedorismo em tecnologia está mudando. Especialmente para mulheres, acho que eventos como este são muito importantes para conexões e networking, o que sempre ocorreu muito naturalmente entre homens”, afirmou Malin Borg, CEO da Swissnex. A Nym Technologies, a Nutrix e a AVAtronics são startups suíças que foram apresentadas ao mercado brasileiro durante o Web Summit pela Swissnex, rede global da Confederação Suíça que conecta parceiros, projetos e iniciativas em educação, pesquisa e inovação.

Renata Horta, fundadora da consultoria para inovação Troposlab.
Renata Horta, fundadora da consultoria para inovação Troposlab. (Web Summit/Divulgação)

“Quando pensamos no que vem pela frente e influencia a disputa de talentos, logo vamos para as tecnologias como a IA, que impactam e muito. Temos, porém, que considerar que as tecnologias devem nos servir, elas devem nos ajudar a construir o mundo que nós projetamos. Além disso, há em curso uma mudança de significado do trabalho muito importante para as pessoas e só vamos conseguir criar ambientes que geram valor para trabalhadores se olharmos para essas mudanças de comportamento e entender que elas sinalizam uma nova forma de pensar o negócio”, disse Renata Horta, fundadora da consultoria para inovação Troposlab.

“Embora estejamos diante de tanta criação e novidade, quando falamos em diversidade e inclusão de gênero, é perceptível que esse ponto não acompanha tão diretamente. Já na abertura, apesar de termos muitas mulheres frequentando o evento, a minoria delas esteve à frente apresentando suas empresas para potenciais parceiros ou clientes no painel. A minha expectativa é que isso mude”, ponderou Jordana Souza, cofundadora da traveltech VOLL, especializada em viagens corporativas. 

“O evento trouxe uma carga incrível de conhecimentos e aprendizados, que nos permitem ter uma visão macro, interdisciplinar, conectando a atuação de profissionais de diversas áreas entre si e viabilizando a melhor compreensão sobre como a inovação e as tecnologias são importantes no nosso cotidiano. Por muito tempo o universo jurídico tratou a inovação como algo perigoso e de se realizar com muita cautela, sendo que a visão atual, como muito bem explorada nas palestras do Web Summit, é focada na importância de se inovar junto às novas tecnologias, trazendo-as para o nosso lado e deixando mais espaço para o trabalho do intelecto humano dentro do que realmente é relevante”, avaliou Lorena Lage, CEO da L&O Advogados, escritório voltado para suporte jurídico a startups e empresas inovadoras.

“O que mais me chamou atenção foi a qualidade das conexões geradas durante o evento. A mensagem-chave para mim é: busque furar a sua bolha. Em momentos de crise e necessidade de inovar e criar negócios, pensar fora do seu padrão e conectar-se com outras culturas pode ajudar muito a se reinventar”, observou Amanda Graciano, líder na Fisher Venture Builder.

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Isadora Kimura, fundadora e CEO da Nilo Saúde, fala sobre a importância da abordagem da digitalização na saúde no evento.
Isadora Kimura, fundadora e CEO da Nilo Saúde, fala sobre a importância da abordagem da digitalização na área da saúde no evento. (Web Summit/Divulgação)

“O evento tem uma dimensão inédita no país, o que permite, ao mesmo tempo, a abrangência de setores e profundidade em cada vertical. Tive conversas engajantes com outros empreendedores, pessoas interessadas em conhecer a Nilo e investidores, além de pensar juntos no futuro da saúde no Brasil. Aprendi muito e me diverti também nos side events, que abordaram temas de IA, empreendedorismo feminino e sobre o momento do mercado de saúde, que passa por digitalização, busca por conveniência e necessidade de redução de custos”, afirmou Isadora Kimura, fundadora e CEO da Nilo Saúde.

“Uma das principais pautas do Web Summit foi a importância de se desenvolver tecnologias de inteligência artificial mais éticas e inclusivas, que levem em conta as diversas perspectivas e necessidades das pessoas. Foram discutidas questões relacionadas à igualdade de gênero e a representatividade de minorias no setor. Houve também painéis e workshops dedicados a promover a inclusão de grupos sub-representados, como mulheres, pessoas LGBTQIA+ e pessoas com deficiência. Foi um ótimo começo de discussão sobre o tema, agora a lição de casa fica para os participantes: a de seguirem fomentando o tema em discussões em suas realidades”, provocou Raíssa Florence, cofundadora da Korú, edtech de educação corporativa e empregabilidade em tecnologia, com foco em diversidade e inclusão.

“Há alguns marcos importantes na evolução do cenário digital do Brasil, como o surgimento das aceleradoras em 2010, o início dos programas de apoio governamental às startups em 2013, o surgimento dos hubs de inovação em 2015… E, agora, o Brasil atrai e recebe um dos principais eventos globais que discute inovação e tecnologia. Sem dúvida, o Web Summit Rio é mais um marco, capaz de reunir líderes empresariais, gigantes da tecnologia, startups e fundos de investimento num só lugar, ampliando discussões que vão trazer resultados a médio e longo prazos muito significativos”, disse Dany Carvalho, CEO do Órbi Conecta, hub de inovação criado pela comunidade de startups San Pedro Valley, Inter, MRV e Localiza. 

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“O Brasil é um grande player global e o mundo da tecnologia veio ao Web Summit Rio para ver o que está acontecendo na região e na América Latina. Nós acreditamos que é sinal de que grandes coisas estão por vir para o Rio de Janeiro, para o país em geral, e não podemos esperar para ver como podemos crescer nos próximos três anos e além”, frisou Paddy Cosgrave, fundador e CEO da Web Summit. 

De acordo com o levantamento da PitchBook, no primeiro trimestre de 2023, o ecossistema de startups do Brasil registrou 139 negócios relevantes, que somaram US$ 177,9 milhões em investimentos, indicando retorno aos níveis pré-pandemia. O Brasil assumiu a liderança na América Latina, superando o México em termos de capital de risco. O Rio de Janeiro, sozinho, superou toda a Argentina em termos de fluxo de recursos.  

“A segunda edição do Web Summit Rio, em 2024, pode ter a capacidade ampliada para 40 mil pessoas, no Riocentro”, disse o fundador e diretor-presidente do evento. A prefeitura do Rio de Janeiro projeta que pode chegar a 2028 com 70 mil presentes diariamente. O estudo apresentado pela administração pública estimou gastos diários de R$ 11,6 milhões pelo público (em hospedagem, alimentação, deslocamento, etc) na edição deste ano, podendo chegar a um montante de R$ 54,3 milhões em 2028. Em impostos, a prefeitura espera arrecadar, nesta edição, cerca de R$ 10 milhões. Além do dinheiro em circulação, o plano é transformar a cidade em uma “capital da tecnologia”.

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