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A escassez de mulheres em posições executivas de tecnologia

Como transpor as barreiras sociais, culturais e estruturais?

Por Marina Franco
23 ago 2022, 08h16
Marina Franco, vice-presidente de Engenharia na Healthtech Theia, clínica moderna centrada na gestante, que alavanca tecnologia para revolucionar a saúde da mulher. (Marina Franco/Divulgação)
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Muitas mulheres que ocupam posições executivas, como eu, certamente já se pegaram pensando que foram mais longe do que puderam um dia imaginar. Em qualquer nível hierárquico, as mulheres ainda estão em desvantagem e minoria na área de Tecnologia.  De acordo com levantamento feito pela Catho, no início deste ano, as mulheres têm ocupado 23,6% dos postos nesse setor, e os homens 76,4%. Em 2021, no mesmo período, a presença feminina em cargos de tecnologia representava 21,5% e a masculina 78,5%. Ano após ano, observamos pequenos avanços, mas ainda estamos muito distantes de um cenário de equidade.

Sobre a representatividade feminina em posições de liderança, o cenário ainda é mais desafiador. A pesquisa CIO Survey 2020, feita pela KPMG e Harvey Nash, aponta que apenas 11% das lideranças globais de tecnologia são mulheres – nenhuma mudança em relação à edição anterior do estudo. Na América Latina, o percentual é um pouco melhor, 16% das lideranças de TI estão nas mãos de mulheres.

Apesar da agenda ESG ter trazido às organizações uma maior preocupação com a pauta de equidade de gênero, ainda há o desafio de converter a meta numérica de ocupações femininas em mudanças culturais e estruturais mais profundas, que envolvem respeito, diversidade, inclusão e capacitação. Muitos são os obstáculos com os quais nos deparamos, dentre eles:

  • Baixíssima presença feminina desde a graduação. Convivemos em ambientes predominantemente masculinos. Muitas vezes ouvimos palavras de baixo calão, piadas machistas e temos que escolher entre o constrangimento ou uma falsa fortaleza. Isso pode se perpetuar por anos na carreira em tecnologia, a depender do meio e do posicionamento que se decide adotar.
  • Há uma forte pressão social sobre as mulheres. Apesar dos avanços da sociedade, ainda existe a equivocada premissa de que uma mulher tem que escolher entre ser uma boa mãe e esposa ou seguir uma carreira executiva, como se as duas coisas fossem antagônicas.
  • Existem pouquíssimas referências de mulheres nos altos cargos de tecnologia. Isso dificulta muito outras mulheres acreditarem que existe uma trilha viável de carreira executiva.
  • Devido ao fato da liderança humanizada ser uma característica marcante nas mulheres, não é incomum que a nossa capacidade técnica seja questionada. Assim, as oportunidades costumam estagnar em cargos de média gestão. As mulheres que ascendem a cargos executivos, por vezes, tendem a assumir estilos mais masculinos de liderança para serem respeitadas.
  • Segundo o estudo “Síndrome da Impostora”, também produzido pela KPMG nos Estados Unidos, 75% das entrevistadas já vivenciaram a síndrome da impostora em alguns momentos da carreira. Muitas mulheres enxergam o êxito profissional como um fator de sorte ou de estar no lugar certo, na hora certa, e não do seu esforço e qualificação. Muitas não se sentem capacitadas para estar ali e se acham uma fraude. As mulheres, das mais baixas às mais altas senioridades, podem ser mais propensas a ter baixa autoconfiança e autoestima.

    Tratam-se de questões profundas, mas não intransponíveis. Após vinte anos de estrada em Tecnologia e mais de quinze em posições de liderança, sigo avançando e preparando o caminho para outras mulheres avançarem. Alguns conselhos importantes, que fazem muita diferença na minha carreira são:

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    1. Não pare de estudar. O mercado está em constante transformação e isso atinge sempre homens e mulheres. De todas as profissões. Atualize o seu repertório. Todos os profissionais brilhantes, desde artistas, advogados, médicos e profissionais de tecnologia precisam estar em constante atualização.
    2. Não tema assumir novos desafios. Mesmo quando achar que não é capaz, faça isso por outras mulheres para que jamais duvidem de que é possível ir além.
    3. Jamais se sinta culpada por amar o seu trabalho e querer constituir uma família. Nas horas úteis, dê tudo de si. Nos momentos que está com as pessoas importantes da sua vida, seja inteira. É perfeitamente possível conciliar várias paixões e propósitos, com organização e disciplina.
    4. Não abra mão de colocar suas habilidades de fábrica a serviço da sociedade e do mundo, por meio do seu trabalho. Em uma área predominantemente masculina, seu valor será, além do conhecimento técnico, a capacidade de inspirar e liderar grandes feitos e pessoas. Quando você se permite ser quem é, pode entregar o seu melhor e acredite: esse sempre será seu diferencial.
    5. Estabeleça limites e protocolos em todas as relações. Como quer se comunicar? Como quer ser tratada? O que não tolera? Quais são seus limites? Deixe-os claros. Se você não fizer isso, certamente viverá em subserviência e consequente frustração.
    6. Não se preocupe tanto com o que as pessoas pensam sobre você. Isso não significa não acolher feedbacks ou ser incapaz de reconhecer os próprios erros, mas sim, tomar decisões com base nos seus valores e crenças, e não em opiniões alheias. Isso é transformador.

    Que mais organizações abram o caminho para as mulheres evoluírem, na tecnologia e em todas as demais áreas. Que se estabeleçam culturas que valorizem as diferenças, promovam o respeito e a equidade, combinada às ações afirmativas. Esse é um ambiente propício para a criação de produtos inovadores e transformadores, onde a experiência do cliente seja pensada sob todos os ângulos, cores e pontos de vista. Que todas as mulheres vençam na carreira e na vida. Mesmo que a jornada seja longa e árdua, que não desistam de progredir e buscar os lugares altos. Existe um espaço que é só nosso na liderança das organizações e na construção do futuro da tecnologia. Avante!

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