7 receitas perfeitas para um dia entre amigas
Para a chef Irina Cordeiro, cozinhar é um brinde ao amor-próprio e tem tudo a ver com feminismo
Encanta a leveza com a qual a potiguar Irina Cordeiro, 30 anos, se movimenta pela cozinha. Como se estivesse numa dança, prepara legumes, frutas e flores. O resultado da coreografia são pratos frescos e coloridíssimos, um deleite para os olhos e o paladar. Até quem jura de pés juntos que comida saudável não é gostosa sai da mesa convencido do contrário depois de provar.
A familiaridade com os alimentos vem da casa da família. Aos 7 anos, assou e confeitou seu primeiro bolo sob a tutela da avó, que trabalhava como cozinheira.
“Ela criou seis filhos sem ajuda do marido porque meu avô faleceu jovem. Cresci nesse ambiente em que a comida dava o sustento e sempre tive curiosidade pelo fogão. Queria aprender e ficava pedindo para fazer as coisas. Mas não achava que faria disso uma profissão”, conta.
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Prestou vestibular para direito, porém, após um curso de sommelier na Itália, enxergou as possibilidades que a gastronomia oferecia. “Na época da minha avó, cozinhar era função das empregadas domésticas; ainda existia uma visão muito colonial. Como o mercado foi mudando, vi a oportunidade de manter as raízes da família e, ao mesmo tempo, encontrar satisfação em meu trabalho”, diz Irina.
Aos 19 anos, ingressou na faculdade de gastronomia e, de lá para cá, não parou mais de estudar o que os ingredientes têm a oferecer e como podemos aproveitá-los ao máximo, sem desperdícios. A postura decidida a levou longe – mais precisamente à semifinal do MasterChef Profissionais, programa da Band, em 2017.
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Hoje Irina comanda a própria empresa, que presta consultoria para negócios na gastronomia. “Muita gente acha que, para ser cozinheiro, é preciso ter um restaurante, mas o mercado oferece um vasto leque de possibilidades aos chefs. Tive a ousadia de criar uma empresa e deu certo”, revela. Como empreendedora, decidiu que só empregaria mulheres.
“A frase ‘mulheres não voltarão para a cozinha’ é clássica, mas na verdade nós temos que ocupar todos os espaços que quisermos, e na posição que desejarmos”, defende. Para este almoço, Irina traduziu toda essa força e valores em pratos que foram saboreados por suas amigas de vida e de luta pelo empoderamento feminino.
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A tomada da TV
Após trabalhar em diversos cafés e restaurantes de Natal, cidade onde nasceu e viveu até 2017, Irina teve a chance de participar do MasterChef Profissionais. Pela TV, a chef ganhou o Brasil.
“Meu sonho era ser reconhecida pelo meu trabalho e agarrei essa oportunidade. Fui muito sincera durante o programa e as pessoas gostaram de mim mesmo assim. Fiquei chocada. A sociedade está carente de bons exemplos, e isso não significa ser perfeito ou interpretar um personagem, mas ser real e humano”, explica.
Se tivesse passado para a final, teria preparado a sopa fria de abóbora com manga defumada para representar suas origens. “O nome do meu cardápio era ‘O mar vai virar sertão’. Natal é muito arborizada, cheia de mangueiras. Quando está chegando o verão, as ruas cheiram à fruta dessas árvores. E ainda tem a abóbora, muito forte na culinária de lá.”
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Cozinha de raiz
“Costumo dizer que a base da minha culinária é a cozinha de matriarcado, das mulheres da minha família, só que profissionalizada. Eu coloco um pouco mais de requinte”, descreve Irina. Com a avó, ganhou o gosto pelas comidas típicas.
“Galinha é algo que eu amo de verdade, diz muito sobre a minha terra”, exemplifica. Como é impossível resumir a gastronomia nordestina a poucos ingredientes, já que cada estado tem os próprios pratos, todos têm vez nas mãos de Irina.
“Lá, a gente gosta de diversidade. Todo fim de semana quer comer uma coisa diferente. É mais fácil falar sobre o que não pode faltar. Feijão verde e queijo coalho, por exemplo, estão muito presentes nas minhas receitas”, revela. O grão aparece no peixe praieiro, servido também com purê de banana-da-terra.
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Consumo consciente
Desde que começou a estudar as Pancs (plantas alimentícias não convencionais), Irina recheia os pratos com brotos, flores e folhas diversas, tentando trazer o equilíbrio da natureza para a mesa.
“Nós comemos a batata-doce, mas jogamos fora as folhas, que são comestíveis. O mesmo com as da cenoura. Tento ao máximo inserir esses ingredientes na minha cozinha, até mesmo para evitar o desperdício”, diz ela, que conta com pequenos fornecedores e dá preferência a alimentos orgânicos.
O ceviche que preparou, por exemplo, é finalizado com flores e leva mel de abelha nativa de colmeias selvagens de Jandaíra, região do Rio Grande do Norte. O processo de coleta visa proteger as abelhas de qualquer agressão. Já o queijo de cabra utilizado no pudim vem da Fazenda Carnaúba, no sertão da Paraíba, onde é produzido em pequena escala por familiares do escritor Ariano Suassuna.
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Confira algumas receitas para se inspirar:
1. Drinque jardim brasileiro
2. Peixe praieiro
3. Sopa fria de abóbora e manga
4. Terrário Don’Anna
5. Ceviche Beija-Flor
6. Espaguete ao curry de laranja com lulas
7. Pudim de queijo de cabra com creme inglês de goiaba
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