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“Xingu” e aquilo que falta

Leandro Quintanilha fala sobre o filme de Cao Hamburger

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 16 jan 2020, 13h56 - Publicado em 13 Maio 2012, 21h00

“Xingu”, um filme de Cao Hamburguer
Foto: Divulgação

Cláudio tem 26 anos e procura o seu lugar no mundo. O filme, narrado por um dos protagonistas, começa com a confissão dessa busca. Nos anos 40, quando grande parte do território nacional era ainda um mistério selvagem, três irmãos paulistas de boa educação deixam o conforto da civilização para ingressar em uma aventura na expedição que ficou conhecida como a Marcha para o Oeste brasileira. Mas, no imaginário desses rapazes, o oeste era o quê?

Xingu“, de Cao Hamburger (de “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias”), é inspirado na história real dos irmãos Villas-Bôas: Orlando (Felipe Camargo), Cláudio (João Miguel) e Leonardo (Caio Blat). Em 1943, lá vão os três. Primeiro, Cláudio e Leonardo. Depois Orlando, “o terceiro analfabeto”. Explica-se: para serem aceitos na expedição promovida pelo governo Vargas, esses filhos de advogado têm de omitir a sua origem, assinando a papelada com o carimbo de suas digitais.

O que os três encontram neste oeste ao norte não é a aventura descompromissada que procuravam.  Depois da “descoberta”, com banhos de rio, acampamentos e, finalmente, o contato com tribos isoladas, os irmãos se deparam com as consequências dessa incursão (como o efeito mortal de uma gripe comum) e as reais intenções da missão federal – abrir estradas e demarcar territórios.  

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Os Villas-Bôas queriam uma aventura, mas obtêm uma grande responsabilidade. Um problemão. Espiões acidentais em uma expedição capitalista, que mais tarde eles mesmos passam a chefiar, os três têm de mediar as ambições do governo e os direitos dos índios. Disso, depende a sobrevivência desses povos. E mesmo a deles.

Em nome das autoridades, os irmãos percorrem mais de mil quilômetros pelas águas, constroem 19 campos de pouso, fundam 43 vilas e estabelecem o primeiro contato com 14 tribos. Ao mesmo tempo, pelos índios, eles negociam com o governo a criação do Parque Nacional do Xingu, hoje Parque Indígena do Xingu. O “nacional” da época foi uma concessão estratégica aos militares, muito apegados à palavra.  São 27 mil quilômetros quadrados de área, onde hoje vivem 5,5 mil índios de 14 etnias sobreviventes. O feito rendeu aos irmãos uma indicação ao Nobel da Paz em 1971.  E, para dois deles, uma vida na floresta.

Por isso, a despeito do que foi dito inicialmente, é possível concluir que os irmãos Villas-Bôas encontraram no oeste exatamente o que precisavam. Deixaram uma vida confortável na cidade, mas sem significado. Eles procuravam algo de que talvez não tivessem consciência. Algo que chamavam de “aventura” por falta de uma definição melhor. E souberam reconhecer como um achado aquilo com o que de fato se depararam.

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Porque procurar requer uma cota de entrega, de disponibilidade. Requer que se mantenha a mente aberta. Planos são hipóteses e o que se procura pode ser apenas um pretexto. A realidade faz as suas propostas. Em vez de se ater ao que se busca, há de se investigar o que existe para ser encontrado. O que está desaparecido pode ser algo novo, nunca visto.

A vida é uma expedição misteriosa e o melhor jeito de procurar talvez seja este: deixar-se encontrar.

Leandro Quintanilha trabalhou no Estadão e no UOL. Hoje, escreve para revistas. Ele adora livros, séries e filmes, que prefere analisar pela perspectiva comportamental. Leandro confessa que acha muito esquisito escrever sobre si mesmo assim, na terceira pessoa.
E-mail: leandroq@gmail.com
Twitter: @leandroquin

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