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Ellar Coltrane fala sobre a infância e a incrível experiência de ‘Boyhood’

Ele não gostava de outras crianças quando era pequeno, se achava esquisito, estudou em casa e foi ao longo da infância até o fim da adolescência astro de um filme hoje cotado para o Oscar

Por Mariane Morisawa (colaboradora)
Atualizado em 15 jan 2020, 00h33 - Publicado em 2 nov 2014, 21h00
Mariane Morisawa - Edição: Contigo!Online (/)
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Ellar Coltrane fala sobre a infância e a incrível experiência de 'Boyhood'

Aos 20 anos, o ator é um dos astros de Boyhood
Foto: Theo Wargo/Getty Images for Nantucket Film Festival

Na virada do século, o diretor Richard Linklater teve uma ideia: capturar o crescimento de uma criança. O diretor de 54 anos foi ambicioso e decidiu rodar o filme ao longo de 12 anos. Assim surgiu Boyhood – Da Infância à Juventude, que estreou no Sundance Festival em janeiro e chegou nesta quinta-feira (30) ao Brasil. Para dar certo, ele precisava de um ator (e de pais) que topasse se comprometer a filmar alguns dias por ano entre as idades de 6 a 18 anos. Encontrou Ellar Coltrane, 20, que emprestou sua voz, seu rosto e seu corpo ao personagem Mason – além de alguns pedaços da própria vida. Caiu perfeitamente na história. Na vida real, Ellar considera a si próprio e a família como “esquisitos”. Foi descrito pelo diretor quando criança como um pequeno “rock star”, com preferências adultas e uma infância sem gostar de outras crianças – estudou em casa, exceto por dois anos no secundário. É um astro em formação diante de um holofote gigante iluminando um ex-garoto anônimo que se viu em um filme com potencial para o Oscar. CONTIGO! conversou com Ellar sobre a experiência única.

Como se envolveu com o projeto?
Eu queria ser ator. Richard estava vendo muitos garotos, queria alguém com alguma experiência, mas não famoso, e que os pais apoiassem. Mas não me lembro de nada disso, é o que ele me conta (risos). De qualquer maneira, o que eu lembro é que foi um teste diferente. Obviamente, Richard não tinha o roteiro, só tinha o conceito. Então foi uma conversa solta. Acho que o diretor só queria ter uma ideia da minha personalidade. Eu me lembro que fui chamado várias vezes, foi um processo longo.

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Aos 6 anos, logo no início do filme – como o personagem, Ellar, estudou em casa frequentando apenas dois anos de secundário
Foto: IFC Filmes

Uma coisa é querer ser ator aos 6 anos. Outra é se comprometer por 12 anos, não?
Sinceramente, fiquei com medo. Hesitei quando percebi que seria o centro das atenções. Uma coisa é fazer um papel pequeno, outra é praticamente ser o assunto do filme, e de uma filmagem de longa duração. Eu me lembro de minha mãe dizer que era uma grande oportunidade, que deveria tentar, mas que, se não quisesse fazer, ninguém me forçaria. Fico feliz de ter aceitado (risos).

Houve vezes em que preferia estar na piscina a estar filmando?
Na verdade, não. Eu estudava em casa quando era pequeno, então eu tinha muito tempo. As filmagens tomavam apenas duas semanas de cada ano, elas não se intrometiam na minha vida. Era sempre um set amigável. Eu amava!

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Ao lado de Samantha (Lorelei Linklater) e o pai (personagem sem nome interpretado por Ethan Hawke), aos 8 anos
Foto: IFC Filmes

Então a experiência que você tem de ir à escola é a que viveu no filme?
Sim, fui à escola no filme antes de ir na vida – durante o ensino médio, eu frequentei um colégio por uns dois anos. Essa é uma parte bem diferente do personagem em relação a mim. Estava trabalhando em um filme, não estava realmente indo à escola e acho que fiquei irritado com as outras crianças (risos). Eu não gostava de outras crianças quando era criança. Acho que sempre fui esquisito (risos).

Crianças podem ser bem difíceis, não?
Sim, elas são terríveis (risos)! Eu não deveria dizer isso… E é culpa do sistema público de ensino, por isso eu estudava em casa. Porque estar naquele ambiente com outras crianças só porque elas têm a mesma idade que você, aprendendo coisas pelas quais não têm interesse, com professores que não recebem o suficiente, acaba transformando você em uma pessoa horrível.

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Já careca, aos 9 anos, depois de ficar com cabelo longo para ser cortado em cena-chave do filme
Foto: IFC Filmes

Com o tempo, Richard colocou coisas da sua experiência no personagem. O quê?
Sim, é verdade. O interesse de Mason pela fotografia veio do meu interesse em fotografia. Suas opiniões sobre o Facebook são as minhas (risos). Fora isso, a maior parte das minhas intervenções foi incidental. Rick me perguntava muito como eu estava interagindo com as pessoas, o que estava gostando de fazer. Acho que ele tentou não tirar coisas diretamente da minha vida, porque não era um documentário. O personagem não sou eu, mas tem muito de mim.

No filme, não há os grandes momentos da vida, como o primeiro beijo – já aconteceu quando reencontramos o personagem.
É proposital. Porque a gente foca muito nesses marcos da vida. Mas raramente eles o são. O resto do tempo é que define você.

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Virando um adolescente nas telas, aos 11 anos; na vida real, ao longo do filme, Ellar chegou a demitir seu agente e a desistir da carreira no cinema. Após ver o filme concluído, mudou de ideia
Foto: IFC Filmes

O personagem influenciou em sua vida?
Sim. Minha visão do mundo se alargou. Trabalhar no filme em si moldou quem eu sou, aprendi demais sobre criação, sobre arte, sobre se comprometer. Isso não significa que eu não tenha sido um adolescente apático e preguiçoso muitas vezes como todos os outros. Talvez até mais.

Quer continuar atuando?
Sim, com certeza. Quero atuar, trabalhar em outras partes do cinema, sou apaixonado por artes visuais. Fotografia é um interesse. Música também. Quero fazer tudo (risos).

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Aos 14 anos, no filme – o diretor só deixou Ellar assistir ao projeto terminado, depois de 12 anos
Foto: IFC Filmes

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