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Letticia Munniz é capa da edição de julho de Claudia

Aos 33 anos, Letticia Munniz acende das passarelas às televisões do Brasil, movida pela vontade de mudar o mundo com a sua presença e protagonismo

Por Julia Ribeiro
14 jul 2023, 11h23

Letticia Munniz nunca sonhou em ser famosa, mas tinha uma certeza: “Sempre quis ser artista.” Hoje, aos 33 anos, ela é criadora de conteúdo, apresentadora, modelo e ativista, somando um milhão de seguidores nas redes sociais. Além das telas do celular, ela também atinge outras milhões de casas, aos domingos, no palco do programa Domingão, no horário nobre da Globo.

Radialista de formação, a capixaba veio para São Paulo há mais de 10 anos, para estudar. “Eu tinha uma mala de mão e um mês de aluguel pago”, relembra. “Sabia que teria que me virar para alcançar o que queria. Eu precisava fazer tudo.” Criada pela mãe e pela avó, em Vitória, Espírito Santo, Letticia viu o quanto ambas batalharam para dar aos irmãos e à ela uma educação de qualidade. “Não sou de uma família que não tinha dinheiro, mas sou de uma em que os homens abandonaram o barco.”

Letticia Munniz ensaio Claudia 2023
Não sou de uma família que não tinha dinheiro, mas sou de uma em que os homens abandonaram o barco.” (Fernanda Pompermayer/CLAUDIA)

Se em 2011 Letticia precisou inserir dois ou três trabalhos na rotina de estudos para pagar as suas contas, em 2023, ela combina a ponte aérea Rio-São Paulo com criar conteúdo para a internet, clicar campanhas publicitárias, ensaiar e apresentar. E ainda consegue tempo para tirar os sonhos de criança do papel: aulas de teatro, piano, bateria e sapateado. Quer mais? Ela deseja abrir espaço na agenda para o canto. “Parece que sou bem louca, né?”, dá risada. “A rotina tranquila nunca existiu. É como eu sei viver. ”

Até se descobrir nesse lugar de tanto destaque e reconhecimento, Letticia ouviu muito “não”. Mais do que isso, ouviu em todos os testes para fazer publicidade uma das frases que toda menina gorda mais escuta: “Você não tem o perfil”. Forma velada de dizer “você não é magra o suficiente para ocupar tal posição”. “Desenvolvi todos os transtornos alimentares que você possa imaginar. De tomar uma cartela de laxante por dia a viver com a garganta machucada porque vomitava”, relembra.

Letticia Munniz ensaio para claudia 2023
Vestido, Syndical Chamber por Anna Tullia Finds. (Fernanda Pompermayer/CLAUDIA)

Na mesma época, o Instagram nascia e o que reinava na plataforma eram as “Blogueiras Fitness”. No offline, revistas femininas também eram grandes propagadoras de dietas milagrosas e termos gordofóbicos, hoje, inimagináveis. Por isso era tão difícil para ela se enxergar na grande mídia. “Até o dia que vivi a experiência avassaladora de encontrar uma influenciadora com um corpo igual ao meu.” Era a maravilhosa Ashley Graham. Letticia comenta que finalmente entendeu que não precisava lutar contra si própria, que poderia ser linda, ter sucesso, ser amada e ter tudo que uma pessoa magra tem. “Descobri, ali, o que eu também poderia ter. E ela nunca me viu, nunca me olhou ou falou comigo. Ela mudou a minha vida apenas existindo. Se eu pudesse fazer isso por alguém, apenas existindo também, se pudesse libertar uma única mulher que seja, já sabia o impacto que isso causaria.” A faísca estava lá e o resto da trajetória você confere na entrevista a seguir.

Eu quis assinar uma coleção porque tudo muda quando você encontra algo que foi pensado para exaltar um corpo como o seu — e não para escondê-lo

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Você é influenciadora, modelo, apresentadora, Você é influenciadora, modelo, apresentadora, designer de moda… O que te fez querer alcançar tanto?

O meu maior sonho é mudar o mundo, só que mudar o mundo não é fácil. Por isso eu trabalho tanto. Realizo meus sonhos porque eu batalho por eles, para ocupar e ganhar espaços antes tomados apenas por pessoas magras.

Você é modelo há seis anos, somando desfiles nas principais passarelas e campanhas para marcas brasileiras. Como é estar nessa posição?

Quando comecei, quase não tinham modelos plus size no país, muito menos fotos de modelos gordas em lojas. Depois que fotografei campanhas para marcas de fast fashion, passei a receber mensagens de pessoas comemorando a conquista. É fácil perceber quando você não é bem-vinda em um lugar. E a partir do momento que você vê alguém igual a você na vitrine, a sua perspectiva sobre si mesma muda. Sei disso porque, para mim, é forte também.

Letticia Munniz ensaio para claudia 2023
Vestido, Otavio Inc. Brincos, Betty Brand. Sandálias, Ferragamo (Fernanda Pompermayer/CLAUDIA)

Como você escolhe no que investe seu tempo e o que não faz sentido?

Tudo segue na linha de mudar o mundo, sabe? Já me ofereceram várias coisas que pensei não fazerem sentido para mim, de perfume a reality show. A minha mentalidade sempre é: como vou abrir espaços? Como isso vai mudar a vida de alguém?

Letticia Munniz ensaio para claudia 2023
Vestido, Otavio Inc. Brincos, Betty Brand. Sandálias, Ferragamo (Fernanda Pompermayer/CLAUDIA)

E assinar sua linha de roupas foi um desses casos?

A mulher gorda sempre precisou se contentar com o que tinha para comprar. Eu sempre quis assinar uma colaboração [no caso, em parceria com a VistaMagalu] porque a roupa muda a vida das pessoas. Tudo muda quando você encontra algo que te faz se sentir bonita, gostosa, que está na moda e que foi pensado para exaltar um corpo como o seu — e não para escondê-lo.

Vivemos uma temporada de moda onde as modelos plus size sumiram. Damos um passo para frente e três para trás?

O problema está na moda de luxo, que faz questão de excluir. Só que o luxo não está ali só para quem compra. Ele dita a tendência. Se você faz peças que só vestem e valorizam o corpo magro, outras marcas farão o mesmo. O que assusta não é o fato das pessoas estarem emagrecendo, mas o quanto transformaram o corpo em moda, em uma tendência passível de mudar a cada estação.

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Como se blindar?

Acho que quanto mais forte estamos, menos a gente se afeta. Eu vejo tudo isso nas redes sociais e não me machuca mais, porque já entendi que amo quem eu sou. A partir do momento que você internaliza a importância de se amar assim, esse tipo de coisa não importa.

Você imaginava que se tornaria uma referência para mulheres?

Não, e na verdade eu nunca quis isso. Eu não sou intocável, não sou perfeita. Eu sou um ser humano. E não acho que eu mudo a vida de alguém. Penso que ajudo essas pessoas. Eu sou a faísca, a chama, mas não promovo a mudança. Quando descobri pessoas parecidas comigo na internet que não se odiavam, entendi que poderia me amar também. Foi libertador. Comecei nas redes sociais e estou onde estou para ser um modelo libertador.

Você se reconhece como uma pessoa famosa?

Nunca quis ser famosa. Quando vim para São Paulo, há 11 anos, a fama não era o meu objetivo, eu queria estudar. Caí em um lugar em que meu trabalho é público. O dia que tiraram uma foto minha na praia e ela foi capa do G1, pensei “nossa, acho que sou famosa”, porém não me considero. Se eu sair na rua, não vão me parar.

Letticia Munniz ensaio para claudia 2023
Vestido, Estúdio Cena. Brincos, Carlos Penna. Sandálias, Arezzo. (Fernanda Pompermayer/CLAUDIA)

Mas você tem um milhão de seguidores só no Instagram…

Na internet, tudo é rápido: você grava um vídeo, viraliza, fica famoso, fecha contrato, faz entrevistas…Comigo não foi assim. Foi degrau por degrau. Eu tenho uma comunidade muito forte. Quando saio com amigos de fato famosos, por exemplo, são eles que são parados para fotos. Um clique para redes, tchau. Comigo é diferente. Quando alguém me para, é para conversar, para falar como a minha vida atravessou a dela. Para mim, isso é mais significante. É onde mora a minha riqueza.

Isso te ajudou a entrar na televisão?

O meu histórico é o que me fez estar na televisão. A internet ajudou, claro, porque foi o lugar no qual as pessoas me conheceram, é onde mora parte do meu trabalho e a minha comunidade. Mas estou na TV porque estudo há 12 anos para chegar nesta posição. Fiz testes como qualquer outra pessoa concorrendo a vaga.

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E como foi essa transição?

Não sinto como uma transição, porque me preparei a vida inteira para isso, sou formada em Rádio e TV, tenho especialização em apresentação e nunca parei de me aprimorar. A internet estava ali enquanto eu não dava esse passo que sempre tracei.

Letticia Munniz ensaio para claudia 2023
Vestido, Estúdio Cena. Brincos, Carlos Penna. Sandálias, Arezzo. (Fernanda Pompermayer/CLAUDIA)

Depois de mais de dez anos ouvindo não, é diferente ouvir sim?

O teste que fiz para participar do programa do Luciano Huck foi muito especial porque ele também quer mudar o mundo. E isso é o mais incrível, porque quando fui testada, com outras pessoas, ninguém se importava como eu me vestia, se eu estava bem na câmera mesmo não sendo magra. Eles não olharam para isso. Enxergaram meu talento.

Você é a primeira assistente de palco gorda da televisão. O que isso representa?

O gordo nunca viveu o protagonista. Ou ele tem a história de superação e como aprendeu a se amar, ou como emagreceu e arrumou namorado…Estar no palco de um programa que, por mais de 20 anos, teve um balé de mulheres padrão é uma conquista muito maior do eu mesma. Não é o meu sonho sendo realizado, é o de mulheres que, assim como eu, também sempre quiseram estar em lugares que elas ouviram que não poderiam ocupar. A partir do momento que elas se veem ali, entendem que também podem.

Como você se sente agora?

Em paz. Durante tanto tempo, ouvi que precisava emagrecer para estar na TV. Hoje, receber mensagens de mulheres que passaram por isso e veem que podem, sim, ocupar esses espaços me deixa aliviada.

Letticia Munniz ensaio para claudia 2023
Top e saia, ambos Karoline Vitto. Joias, Carlos Penna. (Fernanda Pompermayer/CLAUDIA)

Estar no horário nobre de domingo, na TV aberta, é uma forma de furar a bolha?

Com toda certeza. A nossa geração já é muito desconstruída, mas ainda tem a dona Maria, que sofre gordofobia dentro de casa, no trabalho…E ela não acha que as pessoas estão erradas. Furar a bolha não é tornar a Letticia mais famosa. É mostrar para as pessoas que elas podem estar onde quiserem e serem felizes, não importa se elas estão com 30, 50 ou 60 anos.

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Logo no começo, você disse que seu sonho é mudar o mundo. Qual o próximo passo?

Pela primeira vez, posso dizer que não tenho um. Estou entendendo a nova vida, me mudando para o Rio de Janeiro e curtindo essa fase que tanto desejei conquistar. Quem sabe um programa meu? Talvez um dia.

TEXTO: Julia Ribeiro
FOTOS: Fernanda Pompermayer
STYLING: Larissa Benevenuto
BELEZA: Ale de Souza
DIREÇÃO DE ARTE: Karen SAyuri
AGRADECIMENTO: Palácio Tangará

 

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