Greta Gerwig se desprende do próprio ego para fazer de “Barbie” um hit
Diretora e coroteirista do filme tira sarro da sua própria sátira ao passo que inspira uma audiência maior que os seus longas anteriores fizeram
Não lembro a última vez que um filme me causou tanto alvoroço interno. Foram meses de teasers, trailers, cenas, pequenos recortes, fotos de paparazzi, tapetes pink, looks da Margot Robbie, as influências da Greta Gerwig, o Ryan Gosling cantando, que mais? Parecia que já tinha visto Barbie muito antes de chegar ao cinema. Brinquei no grupo da redação, dizendo que não sei se teria vida após todo mundo assistir ao filme, então “vejo vocês do outro lado”.
De todas as coisas que poderia escrever sobre Barbie, queria primeiro dizer que Greta é uma diretora muito corajosa. Depois de encantar uma dúzia de pessoas com Lady Bird (2017) e Adoráveis Mulheres (2019), ela traz a sua genialidade para assuntos femininos neste blockbuster (sem nenhuma ideia pejorativa que essa palavra pode sugerir).
Ela se desprende do próprio ego para satirizar a sua sátira, para brincar no subtexto do seu impecável roteiro, para rir de si mesma e dos seus atores, da sua narrativa, para olhar além do além e atingir também aquela pessoa lá que vai desavisada para a sessão — coisa que homem nenhum foi ou é capaz de fazer na indústria cinematográfica.
Nada te prepara para o que o filme realmente é — salva de palmas para a equipe de marketing e comunicação que não deixou nada escapar, só o desejo crescer. E isso é tão bonito quanto difícil de alcançar. Ela não tem pretensão nenhuma, não quer ser mais inteligente que a própria audiência.
Greta cria diálogos, e não só comigo ou com você que brincou bastante com a Barbie na infância, mas com a menina de hoje, a garota de amanhã, a adolescente de depois. Ela conversa com uma geração (várias) e proporciona uma nova perspectiva para as que virão a seguir.
Me emocionei pensando justamente nisso. Nesse alcance, nessa magnitude que é usar a imagem da boneca mais controversa da história dos brinquedos, obsoleta para tempos atuais onde as telas dominam, para reafirmar um discurso de inclusão e de crítica social, com humor afiado.
Ela diverte a gente e, de repente, nos choca com a realidade. Nos faz nostálgicas, mas ressignifica a nossa relação com os padrões sociais. Cria uma energia mágica em torno do “é incrível ser mulher” apesar de tudo, e faz a gente (mulheres) sair do cinema com a possibilidade de que podemos dominar o mundo — se isso vai acontecer algum dia, depende dos homens assistirem e entenderem a mensagem também.