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Diretora do MasterChef Brasil prepara documentário sobre a Covid-19

Em entrevista à CLAUDIA, Marisa Mestiço conta como, para respeitar o isolamento social, cada personagem está produzindo seu próprio conteúdo

Por Colaborou: Maria Clara Serpa
Atualizado em 7 Maio 2020, 19h28 - Publicado em 7 Maio 2020, 19h00

Depois de ler o livro “O ano em que disse sim”, da roteirista norte-americana Shonda Rhimes, criadora de algumas das séries de televisão mais bem-sucedidas da atualidade, como Grey’s Anatomy, a jornalista Marisa Mestiço, de 39 anos, passou a refletir sobre sua vida. Percebeu que, assim como Shonda, passava por um período em que o “não” era uma palavra bem mais recorrente em seu vocabulário do que o “sim”. Isso a colocava em uma zona de conforto que não queria mais. Por isso, determinou que 2020 seria “o ano de dizer sim” e se aventurar em novos projetos.

A diretora-geral do MasterChef Brasil, que cresceu em um bairro de periferia de São Paulo e começou a trabalhar aos 13 anos, se dedicava estritamente à televisão há alguns anos e sentia falta de estar envolvida em projetos mais artísticos. “Eu comecei na dramaturgia e cheguei até a vender alguns conteúdos para canais fechados, como a NatGeo, mas nunca produzia. Era uma vontade que vinha crescendo em mim há algum tempo”, explica Marisa.

Para ano que vem, planejava um documentário sobre Elder Camargo, professor com deficiência visual. Já estava na fase de pesquisas quando veio a pandemia e mudou completamente seus planos. Neste momento, recebeu o convite da produtora Bobó Filmes para dirigir um documentário sobre a pandemia do novo coronavírus na região sudeste. “Já tinha trabalhado com a Juliana Schwanz, diretora da Bobó Filmes, na série Tabu, e ela me procurou logo no início da pandemia dizendo que queria produzir um documentário sobre essa situação. Achei bem desafiador em um primeiro momento, mas resolvi aceitar”, conta.

Porém, Marisa disse que só entraria de cabeça no projeto da produtora sob uma condição, a de que pudesse entrar como produtora e roteirista e não só como diretora. Em conjunto, passaram a tocar o projeto mesmo sem patrocinadores ou editais à vista. Ainda sem nome, o documentário deve ser lançado até o final do ano e está em busca de marcas que queiram ter seus nomes ligados à produção. “A premissa é falar dos sentimentos de quem está passando por isso tudo. Quero fazer isso com uma estética diferente e, para respeitar os decretos de isolamento social, cada personagem está produzindo seu próprio conteúdo”, explica Marisa.

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Bastidores das gravações do filme, em São Paulo (Marisa Mestiço/Arquivo pessoal)

Os homens e mulheres escolhidos gravam suas reflexões e falam sobre a nova rotina de dentro de suas casas, com os próprios celulares, apenas seguindo algumas recomendações da diretora. Ela conta que os resultados são histórias muito interessantes e únicas. Um dos escolhidos, por exemplo, criou um personagem chamado Lagartixa para interpretar em seus vídeos.

Cena de uma gravação do documentário (Marisa Mestiço/Arquivo pessoal)

Novas premissas

Conforme foram atrás de personagens, Marisa conta que muita gente passou a enviar informações e dados sobre a pandemia em diversas partes do mundo. O que mais lhe chamou atenção foram os dados sobre suicídios, que aumentaram muito nesse período, inclusive entre profissionais da saúde. Por se tratar de um “desdobramento” da pandemia, a diretora achou que era necessário incluir isso no filme. Por isso, criou mais uma frente de pesquisa envolvendo estas informações. Cinegrafistas da equipe também estão captando imagens das filas de hospitais e das cidades durante a quarentena. O que era para ser um documentário centrado no epicentro do coronavírus no Brasil, agora conta com correspondentes em diversas cidades do país e até na Europa e Estados Unidos.

Aglomeração de pessoas no centro de São Paulo durante a pandemia (Marisa Mestiço/Arquivo pessoal)

Feminismo

Ao assumir a direção do MasterChef Brasil no início do ano passado, Marisa passou a receber mais reconhecimento nas redes sociais. Atualmente, conta que recebe diariamente mensagens de mulheres que se inspiram na sua história e a veem como exemplo. Por isso, decidiu que também deveria dar voz ao protagonismo feminino em seu documentário.

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Parte da equipe de produção do documentário (Marisa Mestiço/Arquivo pessoal)

“Se eu tenho o poder de colocar a mulher nesse papel de protagonista, o farei. Quero dividir com quem assistir os trabalhos incríveis que algumas mulheres estão fazendo agora em meio à pandemia e não só o que sofremos devido ao machismo”, afirma. “Tem uma líder na Brasilândia, que é um dos lugares mais afetados pela doença, que abre as portas da sua casa diariamente para dar comida a quem precisa. Se o documentário puder servir de inspiração para outras pessoas, fico muito feliz”, continua.

Mudanças na rotina

“Uma mistura de produtora com playground”, assim Marisa descreveu sua casa nesse período de pandemia. Desde que as orientações de distanciamento social surgiram, ao mesmo tempo em que começou a produção do documentário, a rotina da diretora, que já era corrida devido aos preparativos da nova temporada de MasterChef (que estão parados por enquanto), sofreu algumas mudanças. Mãe de dois filhos, Luiza, de 5 anos, e Bento, de 3, ela se divide entre as funções de mãe, o trabalho na Band, a produção do documentário e se organiza para algumas palestras das quais participará depois do fim da quarentena.

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Marisa Mestiço (Marisa Mestiço/Arquivo pessoal)

Para a jornalista, o melhor a se fazer foi tentar manter a rotina o mais próximo possível ao que era antes. Ela conta que continua acordando por volta das 6h para organizar a casa e tira um período da manhã para estudar inglês. “Eu percebi que estava fazendo muito pelos outros e quase nada por mim. Por isso resolvi retomar o inglês, das 7 às 9 horas. Logo depois vou para a Band, onde organizo coisas da reprise do Masterchef que está no ar agora e tenho várias reuniões sobre a nova temporada. Fico lá até umas 20h30”, conta. As crianças ficam com seu marido, que é co-roteirista do novo filme.

Apesar da rotina pesada, Marisa faz questão de, ao voltar da emissora, dar banho e colocar os filhos para dormir. Qualquer brecha que tem durante o dia serve para tocar demandas do documentário, trocar ideias sobre o roteiro com o marido e responder às personagens, que enviam os vídeos diretamente para seu WhatsApp. Às vezes, durante a madrugada, cozinha para garantir a alimentação balanceada das crianças durante o dia.

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Gravação de um dos personagens do novo documentário de Marisa (Marisa Mestiço/Arquivo pessoal)

“Já tive momentos de desespero, mas agora estou conseguindo manter a calma. Percebi que eu preciso estar bem para que o fluxo da casa funcione. Ver que grande parte das pessoas está na mesma, vivendo esse caos, também me deixa mais tranquila. Além de que eu sinto que trabalho bem em meio ao caos. Agora nos resta esperar tudo passar”, diz.

Planos para o futuro

A rotina cheia de projetos não fez com que Marisa parasse de pensar no futuro e tivesse ideias para novas produções. O aumento das mensagens de mulheres nas redes sociais fez com que ela tivesse cada vez mais vontade de trabalhar com esse público. “Ao mesmo tempo que é muito legal ser vista como inspiração, eu fiquei insegura porque não me via como uma mulher grandiosa. Até que ano passado eu comecei a ajudar uma amiga psicóloga em um projeto que oferece atendimento gratuito a meninas jovens sem profissão e percebi que queria sim produzir algo relacionado àquele público”, conta Marisa.

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Como uma jovem que cresceu na periferia e conseguiu conquistar muita coisa mesmo com todas as adversidades, a jornalista disse ter vontade de desenvolver algum projeto – que poderá ser um programa, um documentário ou uma série – em que estimulará meninas jovens, de aproximadamente 14 a 25 anos, a descobrirem seus talentos e acreditarem em si mesmas. “Eu acredito muito no poder da palavra. Muitas vezes, essas jovens só precisam ouvir que elas são capazes e que a vida delas não acabou se elas tiveram um filho cedo, por exemplo. Quero fugir do estereótipo que diz que as meninas das periferias casam cedo, têm muitos filhos e largam os estudos e a profissão. Não precisa ser assim se elas não quiserem. O que falta é estimulo”, afirma.

O projeto ainda não saiu do papel. “Não gosto da ideia de assistencialismo, em que apenas eu falaria e aconselharia essas meninas. Quero que exista uma troca, que essas meninas de vários lugares sentem juntas e compartilhem suas ideias. É muito mais enriquecedor. É um sonho estimular Marisas e Marias de diversos lugares”.

Em tempos de isolamento, não se cobre tanto a ser produtiva:

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