Assine CLAUDIA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Verdadeira Natureza, por Mariana Ferrão Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Mariana Ferrão é jornalista, palestrante e CEO da Soul.me, empresa especializada em bem-estar, qualidade de vida e desenvolvimento humano. Aqui, marca um encontro quinzenal com as leitoras - e consigo mesma
Continua após publicidade

O Poder do Abraço

Hoje escolhi falar de abraços para buscar pausa e fôlego. Como diz Lenine, “a vida não para”, mas podemos escolher como seguir

Por Mariana Ferrão
24 out 2022, 10h18

Todo texto começa com uma decisão. Todo passo começa com um impulso. Toda a vida começa na respiração. E todo amor deveria começar em um abraço. Hoje decidi falar sobre abraços.

Na última semana, ouvi uma história sobre um abraço inesquecível: um homem fora obrigado, por razão que não vale aqui mencionar, a deixar a casa onde viveu por mais de duas décadas em plena floresta Amazônica. No dia da saída, 8 de fevereiro de 2020 – o mesmo dia em que, depois do meu divórcio, me mudei para a casa de onde escrevo este texto (coincidência?), ele olhava a paisagem que era a sua vista de todas as manhãs pela última vez de dentro da varanda. Um barco atracou no quintal e uma mulher que sabia da história, por intermédio de um amigo em comum, lhe deu um abraço de 15 minutos. Ele me contou daquele abraço como se ainda o estivesse sentindo, com lágrimas nos olhos – numa mistura de saudade, gratidão e lamento. Uma alquimia poderosa que dissolve a tristeza profunda e nos faz capaz de travessias que nem sequer sonhávamos que poderíamos atravessar.

Para mim – isso resume o poder dos abraços inesquecíveis: um recolher-se no toque do outro, no calor do amor, um abastecer-se do necessário antes de seguir com o que já não pode esperar.

Um dos abraços inesquecíveis que vivi aconteceu em 2009. Eu havia acabado de chegar à Ilha dos Lençóis, em Cururupu, no Maranhão, que fica relativamente perto dos Lençóis de Barreirinhas, que muitos turistas conhecem. Uma série de lendas envolvem o local, onde há o maior número de pessoas albinas do Brasil, devido ao casamento entre parentes próximos. Logo que desci do barco, encontrei Sanã -um menino albino de 9 anos de idade. Ele usava uniforme escolar e uma sombrinha para se proteger do sol. Depois de me contar que estava a caminho da escola, me disse que sua matéria preferida era Língua Portuguesa.

            – Jura? A minha também. Sempre adorei também. E o que você mais gosta em Português?

Continua após a publicidade

            – Eu gosto de poemas, respondeu Sanã, com um sorriso doce.

            – Uau! Eu também adoro poemas! E qual o livro de poemas que você mais gosta?

            – Não sei, eu nunca vi um livro.

Gostaria de fazer aqui uma pausa para que você que está lendo pudesse sentir o que eu senti naquele momento. Uma criança indo para a escola, que ama poemas e nunca viu um livro! E, você, assim como eu, que muito provavelmente, deve ter na sua casa um monte de livros que nunca leu. A minha vontade era levar Sanã para minha casa imediatamente, sentar com ele no tapete da sala e passar um fim de semana inteiro lendo poemas. Lembrei-me que no meu Ipod (naquela época ninguém tinha smartphones – ainda bem!), havia poemas gravados na voz de Paulo Autran, de autores como Adelia Prado, Manuel de Barros, Drummond, Cecília Meireles. Perguntei a Sanã se ele gostaria de ouvi-los e imediatamente ele respondeu que sim. Marcamos de nos encontrar no final da tarde e passamos uma hora e meia compartilhando o fone de ouvido. Ele chorando de um lado e eu tentando conter minhas lágrimas do outro.

Continua após a publicidade

Passei pouco menos de uma semana trabalhando na Ilha dos Lençóis, na época em que apresentei o Globo Mar. No dia em que nossa equipe deixaria o local, estávamos fazendo algumas imagens nas dunas, quando me dei conta que Sanã havia escrito um poema na areia com meu nome e o dele – bem pertinho. O cantor Toni Garrido foi nosso convidado nesta viagem e percebeu a delicadeza e a intensidade daquele momento. Ele se aproximou de Sanã e perguntou se ele estava triste porque eu ia embora. O menino respondeu que sim. Toni então disse: “Você gostou muito dela?” E ele balançou a cabeça afirmativamente. Toni completou: “Então, dá um abraço nela!”. Sanã levantou-se num gesto abrupto e saltou com os dois braços envolvendo meu pescoço. Segurei ele no ar com as perninhas brancas balançando no vento quente. Se eu fechar os olhos consigo sentir o calor do sol maranhense e das nossas respirações misturadas naquele abraço. Hoje escolhi falar de abraços para buscar pausa e fôlego. Como diz Lenine, “a vida não para”- mas podemos escolher como seguir adiante. Antes de dar o próximo clique, por que você não fecha os olhos e tenta se lembrar de um abraço inesquecível?

 

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Domine o fato. Confie na fonte.
10 grandes marcas em uma única assinatura digital

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Moda, beleza, autoconhecimento, mais de 11 mil receitas testadas e aprovadas, previsões diárias, semanais e mensais de astrologia!

Receba mensalmente Claudia impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições
digitais e acervos nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.

a partir de R$ 12,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.