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Stéphanie Habrich é CEO da editora Magia de Ler, apaixonada pelo mundo da educação e do jornalismo infantojuvenil. Fundadora do Joca, o maior jornal para adolescentes e crianças do Brasil e do TINO Econômico, o único periódico sobre economia e finanças voltado ao público jovem, ela aborda na coluna temas conectados ao empreendedorismo, reflexões sobre inteligência emocional, e assuntos que interligam o contato com as notícias desde a infância e a educação, sempre pensando em como podemos ajudar nossos filhos a serem cidadãos com pensamento crítico.
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Os desafios das escolas para minimizar as consequências da pandemia

Comportamento e aprendizado das crianças foram afetados pelo período de isolamento

Por Stéphanie Habrich Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
28 mar 2022, 09h45

Ao longo dos últimos dois anos, publiquei diversos artigos falando sobre os impactos da pandemia na vida das crianças. Sem dúvida, uma das maiores consequências desse período de crise sanitária foi a relação dos mais jovens com os estudos e com a ausência do espaço escolar. Além da grande quantidade de alunos que não acompanharam as aulas virtuais por não terem acesso à internet e recursos tecnológicos, uma grande parcela dos estudantes teve dificuldades para se adaptar ao modelo remoto e acabaram não evoluindo muito em termos de aprendizagem.

Embora o ensino 100% presencial e obrigatório já esteja sendo adotado na maioria dos estados do Brasil, as consequências dos últimos dois anos continuam sendo sentidas por alunos e professores. Nas escolas, profissionais de ensino relatam que os estudantes estão apresentando diversos problemas de comportamento e aprendizagem que não tinham antes da pandemia – ou tinham, mas em grau menor.

Para que nós, pais ou responsáveis, possamos ajudar as escolas a minimizar esses problemas, entrevistamos duas professoras de ensino fundamental I que relataram as dificuldades desde o retorno ao ensino físico. Uma delas é Telma Liberti, que trabalha em uma escola pública de Osasco, na região metropolitana de São Paulo. A outra é Thaís Goldstein, que dá aula em um colégio privado na capital paulista. Em ambas as escolas, as aulas 100% presenciais voltaram no segundo semestre do ano passado. Sendo assim, as duas já tiveram bastante tempo para fazer reflexões sobre essa retomada e os desafios que ainda temos que enfrentar para minimizar os impactos da pandemia na educação brasileira. Confira o que elas disseram.

Dificuldade para seguir regras

Telma: acredito que, durante o isolamento, com a convivência restrita às famílias e aos cuidadores, as crianças ficaram sem regras, sem ouvir “não” quando era necessário e livres para brincar o tempo todo. Agora, nesse retorno à escola, muitos estão com dificuldade para aceitar normas. Alguns alunos só querem fazer o que desejam. Se o horário do parque acaba, por exemplo, começam a chorar. Além disso, muitos estão apresentando pouca autonomia, problemas de fala e aprendizagens com deficiências. Na verdade, hoje, na escola, nós temos que lidar com quatro grupos distintos de estudantes: aqueles que tinham acesso à internet e ferramentas tecnológicas durante o isolamento e, por isso, conseguiram participar das atividades remotas – o que garantiu que adquirissem conhecimentos; alunos que não tinham acesso a recursos tecnológicos e que retiraram nas escolas apostilas para continuar estudando, mas não entregaram as atividades feitas; crianças que pegaram materiais de estudo nas escolas, mas todas as atividades foram feitas pelos pais – quando chegaram à escola, notamos que não interiorizaram as aprendizagens; e ainda aqueles que, durante o isolamento, não fizeram nada relacionado à escola. Ficaram em outros bairros, cidades e estados, sem nenhum contato com atividades escolares.

Thaís: nós reparamos em várias diferenças em relação ao modo como as crianças se comportavam antes do isolamento. Muitas perderam o entendimento que tinham em relação a procedimentos básicos de sala de aula. Estão com dificuldade de ficar sentados, por exemplo. A aula está acontecendo e, de repente, um aluno se levanta e vai falar com um colega que está do outro lado da sala, como se nada estivesse acontecendo. Outra questão é que agora, durante as aulas presenciais, os estudantes ficam constantemente perguntando se já está na hora do lanche. Isso era uma coisa que nunca acontecia antes da pandemia. Acredito que isso se deva ao fato de que, em casa, eles tinham acesso à comida o tempo todo, em qualquer horário. Além disso, o tempo de concentração das crianças diminuiu muito. Pelo fato de o tempo de concentração das pessoas diante de telas ser mais restrito, as aulas on-line eram mais curtas. Isso acabou se tornando um hábito na cabeça das crianças e está difícil para elas retomarem o tempo de concentração presencial, com atividades e tarefas mais longas. Acredito que, durante as aulas virtuais, elas também desenvolveram a necessidade de sempre ter algo na mão – acho que não é à toa que os fidget toys [brinquedos de apertar] viraram moda na pandemia. É muito chato ficar parado na frente de uma tela enquanto assiste aula, por isso, acho que as crianças precisavam de algo para apertar e se movimentar um pouco. O ponto é que agora, com o retorno ao presencial, nós percebemos que muitos alunos ainda têm a necessidade de ficar o tempo todo mexendo em algo, mesmo quando estão ouvindo uma história ou acompanhando a explicação de uma matéria.

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Problemas de relacionamento com os colegas

Telma: muitos alunos têm apresentado dificuldades para compartilhar materiais, brinquedos, jogos e computadores. Quando existe a possibilidade de realizarem atividades individuais, costumam ser mais ativos e se envolver mais. Já quando vamos fazer trabalhos em dupla ou em grupos, não querem dividir tarefas e a culpa é sempre do outro. Acredito que, como ficaram um bom tempo em casa, sem o convívio social e tendo toda a atenção da família para si, acabam tendo dificuldades para interagir em grupo. Entram em conflito por não serem vistos como únicos.

Thaís: como já estamos há alguns meses no formato 100% presencial, não estamos tendo mais tantos problemas de relacionamento. Mas logo quando voltamos tivemos muitas questões. Os alunos estavam com dificuldades para lidar com coisas que antes da pandemia eram muito naturais, como seguir pequenos acordos de sala de aula (passar a caneta para o colega depois de terminar uma atividade, por exemplo), até coisas maiores, como a habilidade de solucionar conflitos com os outros alunos na hora do recreio. Eles tinham brigas físicas mesmo. Acho que por trás disso estão dois pontos: a falta que sentiram do contato físico durante o isolamento – e, agora, durante a retomada, acabam buscando muito contato físico e, às vezes, passam dos limites; e a outra questão é que os alunos perderam os conhecimentos sobre como resolver conflitos com conversas e acabam usando o físico para lidar com os problemas.

Caminhos para combater os problemas nas escolas

Telma: estamos tentando fazer um trabalho de acolhimento, para ensiná-los a respeitar regras e aprender a respeitar as diferenças. Primeiro, estamos trabalhando a socialização e a divisão de materiais, brinquedos e espaços. Para isso, trabalhamos com o lúdico – histórias, músicas, vídeos, reportagens do jornal Joca (para crianças e jovens), danças… Com certeza já estão aprendendo com tudo isso. Vamos trabalhando com calma.

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Thaís: geralmente, fazemos o processo de adaptação das crianças na educação infantil. Agora, é como se estivéssemos fazendo uma nova adaptação das crianças no meio do ensino fundamental. É uma evolução bem lenta, mas já estamos vendo progressos do ano passado para esse. Agora que as crianças estão sendo vacinadas, estamos dando alguns passos que antes não estávamos podendo. No ano passado, como tínhamos que manter o distanciamento entre os alunos, precisávamos manter as mesas dos alunos separadas, cada um na sua. É algo que antes da pandemia nós nunca fazíamos, porque prezamos pelo trabalho coletivo e as trocas entre as crianças. Este ano, como as crianças começaram a ser vacinadas, voltamos a colocar as mesas unidas, para que elas possam trabalhar em grupo, o que é muito importante para a socialização delas. Além disso, colocamos várias plaquinhas na sala de aula para que elas soubessem o que podiam pegar e o que não podiam. Caso contrário, muitas crianças pegavam todos os materiais para si, pois achavam que aqueles itens eram só delas. É importante que elas entendam que a escola não é como na casa delas, em que podem pegar tudo o que quiserem.

O papel dos pais

Telma: muitas crianças ouviram dos pais que as escolas ficaram fechadas em 2020 e 2021 porque os professores não queriam trabalhar ou que era errado os colégios não abrirem as portas durante a pandemia.  Acredito que agora, antes de tudo, é necessário a valorizar mais a escola e o professor. Os alunos precisam ser orientados pela família a respeitar e obedecer aos profissionais de educação. Além disso, os pais ou responsáveis devem ensinar às crianças que a instituição de ensino é um lugar de novos saberes, não um espaço para brincar do que quiserem – as brincadeiras, quando acontecem, devem ser pedagógicas, com objetivos planejados.

Thaís: cada criança está manifestando as suas dificuldades e medos de uma forma, então é muito difícil pensar em uma fórmula geral que possa ser aplicada para ajudar todos os estudantes de uma vez. O que eu acho fundamental é que tanto as escolas como os pais fiquem atentos a essas manifestações emocionais dos alunos que, muitas vezes, ocorrem de forma silenciosa. Se o comportamento da criança mudou em relação ao que era antes da pandemia, quer dizer que ela foi impactada de alguma forma pelos últimos acontecimentos. Em alguns casos, boas conversas vão ser suficientes, em outros seria interessante recuperar os momentos de convivência intensa que a família pode ter tido durante o isolamento. Em outras situações, o problema da criança pode ser dificuldade de concentração. Então, seria interessante incentivar a leitura, que ajuda muito a aumentar o foco. Fora isso, é importante que os adultos supervisionem o uso das telas. Durante o isolamento, as crianças se aproximaram muito dos equipamentos tecnológicos – em alguns casos, muito antes da idade que deveriam. Mas os pais precisam saber que, apesar de elas saberem mexer nos aparelhos, ainda não possuem filtros para compreender o que devem ou não fazer com eles. Acho que não vale proibir o uso, porque elas já estão com esses itens na mão, mas é importante que os mais velhos supervisionem a forma como a tecnologia vem sendo utilizada pelos mais novos.

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