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Stéphanie Habrich

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Stéphanie Habrich é CEO da editora Magia de Ler, apaixonada pelo mundo da educação e do jornalismo infantojuvenil. Fundadora do Joca, o maior jornal para adolescentes e crianças do Brasil e do TINO Econômico, o único periódico sobre economia e finanças voltado ao público jovem, ela aborda na coluna temas conectados ao empreendedorismo, reflexões sobre inteligência emocional, e assuntos que interligam o contato com as notícias desde a infância e a educação, sempre pensando em como podemos ajudar nossos filhos a serem cidadãos com pensamento crítico.

Lembrete: a guerra na Ucrânia ainda não acabou

A colunista Stéphanie Habrich comenta o papel da mídia na normalização de tragédias

Por S
2 ago 2022, 14h35
guerra na ucrânia
Cena de devastação da Guerra na Ucrânia.  (Алесь Усцінаў/Pexels)
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No começo do ano, a guerra na Ucrânia era o assunto mais discutido no mundo ocidental. Me lembro que, há alguns meses, era praticamente impossível abrir a página de um portal de notícias e não se deparar com o assunto, mesmo nas editorias mais diversas – nos veículos de esportes, por exemplo, o tema era o futuro dos atletas ucranianos, enquanto páginas de cultura se preocupavam com o que aconteceria com os museus do país.

No entanto, hoje, mesmo com o conflito continuando e com pessoas ainda tendo que deixar suas casas em busca de refúgio, se tem falado cada vez menos sobre o assunto. É claro que um mesmo tema não pode ocupar a capa de um veículo por tantos meses seguidos, já que outros assuntos também merecem ser debatidos e receber visibilidade. Mas, como fundadora e diretora executiva de um jornal, acredito que sou responsável por me perguntar se a cobertura midiática, de maneira geral, não contribui para que as pessoas naturalizem (e, posteriormente, se esqueçam) de tragédias. Por isso, conversei com a psicopedagoga Fernanda Silveira.

É claro que, estando à frente do Joca, um jornal para crianças e adolescentes, minha preocupação é com os pequenos. Mas, no bate-papo com a Fernanda, questionei se as pessoas, dos mais jovens aos idosos, se acostumam a consumir notícias ruins. Para ela, a resposta é sim. “Infelizmente a maioria das notícias são ruins e negativas. O ser humano é curioso por natureza e as tragédias chamam mais atenção“, diz.

Eu concordo. Me lembro que, no início do ano, era emocionante ver a quantidade de pessoas que se dispuseram a ajudar refugiados ucranianos. Ao mesmo tempo, me questiono se essa parcela da população também não poderia ter, ao longo dos anos, se mobilizado em prol de refugiados que saem da Venezuela, por exemplo, e entram no próprio Brasil em busca de uma vida digna. Na minha opinião, o fato de a questão dos venezuelanos já não ocupar mais uma parte nos noticiários é um fator determinante para que as pessoas se acostumem com a existência de refugiados no país. 

O sensacionalismo

Não posso falar sobre a mídia de modo geral – não existe uma receita que leve o jornalismo a ser perfeito aos olhos de todos. Mas me vejo no dever de compartilhar o que tenho experienciado com a equipe de jornalistas do Joca, na prática, ao longo dos mais de dez anos de existência do jornal. Todos os dias, os jornalistas enfrentam um dilema clássico: o que deve ser notícia e o que deve ser deixado de lado para abrir espaço para temas mais relevantes? Nessa busca, é preciso balancear o interesse do público com os temas de interesse público. Pode parecer confuso, mas o conceito é simples. Enquanto o interesse do público é o que a população quer saber, os temas de interesse público são assuntos que merecem ser discutidos e explorados por sua relevância. Em meio a tantas coisas que acontecem diariamente ao redor do planeta, definir a relevância dos acontecimentos é um desafio e tanto. No nosso caso, a resposta é abordar os temas que fazem parte do universo dos nossos leitores (priorizando os acontecimentos do Brasil, quando adequados à faixa etária) ou que os ajudem a desenvolver um senso crítico perante o mundo.

Acostumadas, mas não insensíveis

A conversa com a Fernanda também me abriu os olhos para o fato de que, se por um lado as pessoas se acostumaram a ler notícias ruins, isso não quer dizer que elas se tornaram insensíveis. “No início, a guerra na Ucrânia foi muito chocante, mas a mídia também precisa de novidades e o assunto da guerra acaba ficando em segundo plano. As pessoas acabam se ‘acostumando’ com o tema“, afirma. Isso não quer dizer, no entanto, que o sensacionalismo é um caminho sem volta. “As pessoas não ficam indiferentes, mas aprendem a lidar com as informações de acordo com suas crenças e sensibilidades”, completa.

Depois dessa reflexão feita com a ajuda da Fernanda, posso concluir que o caminho para lidar com a questão já é conhecido e passa pela educação midiática. É preciso existir uma aproximação maior entre os modos de se fazer jornalismo e seu público. Quanto mais o consumidor de notícias compreende como o jornalismo funciona, mais capacitado ele se torna para se informar melhor, desenvolvendo seu senso crítico e olhar para buscar pelas informações e análises que mais lhe interessam, sem esquecer um tema que tenha saído das manchetes porque outros precisaram tomar os destaques. Do outro lado, quando os jornalistas conhecem melhor seu público e criam uma relação com ele, as escolhas para a produção do conteúdo de um veículo se tornam mais apuradas. E surge o equilíbrio entre o interesse do público e o interesse público.

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