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Juliana Borges é escritora, pisciana, antipunitivista, fã de Beyoncé, Miles Davis, Nina Simone e Rolling Stones. Quer ser antropóloga um dia. É autora do livro “Encarceramento em massa”, da Coleção Feminismos Plurais.
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O bagaço da laranja

No dia de ontem, foi inevitável para a colunista Juliana Borges lembrar de um clássico de Bezerra da Silva

Por Juliana Borges
Atualizado em 16 set 2020, 16h36 - Publicado em 19 jun 2020, 21h09

São Paulo, 19 de junho de 2020

Já dizia o pagode, imortalizado nas vozes de Bezerra da Silva e, depois, de Zeca Pagodinho, que chegar no pagode tarde, pouco se encontrava de comida e só sobrava… o bagaço da laranja. Eu cresci ouvindo essa canção e recebendo como instrução de minha bisavó de que comer o bagaço era bom, pelas vitaminas. Nunca gostei, mas comia, porque se o ditado diz que não se brinca com mãe preta, que dirá com bisavó indígena.

“Eu te dou muito dinheiro/ E tudo você esbanja/Eu já disse a você/ Sobrou pra mim/ O bagaço da laranja…”. E lá em toda reunião familiar, em todo churrasco de periferia que fosse, em toda festança, estava lá o clássico do bagaço da laranja. Hoje, uma discussão ganha cada vez mais força entre ativistas, principalmente LGBTQI+ (sigla para lésbicas, gay, bissexuais, trans, queer e intersexo), de que o fervo também é luta. Ou seja, a festa também é um momento importante para construir reivindicações e lutas políticas porque corpos também são políticos, e o espaço de reconhecimento desses corpos, do encontro deles, tem importância de mesmo peso para que lutas sejam possíveis, para que existências sejam ressignificadas. E Bezerra da Silva, muito astuto, já sabia que boa dose de samba de quintal com a família era também tempo e espaço políticos.

“Olha lá, seu Coronel/ O soldado que é peixe, se enganja/ E o que sobrou pra mim?/ O bagaço da laranja/ Toma cuidado, Pretinha/ Que a polícia já te manja/ Eu já disse a você/ Sobrou pra mim/ O bagaço da laranja…”. A música “O bagaço da laranja” não é só sobre chegar tarde na festa, mas também sobre violência policial, porque fala da polícia, relação com um regime autoritário, porque também fala de Coronel. E que momento político nós estamos, hein? Sempre achei Bezerra da Silva visionário, compreensão que adquiri de meu tio-avô Zé, que tinha todos os LP’s possíveis do Bezerra e passávamos algumas tardes de domingo escutando.

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No dia de ontem, foi inevitável lembrar desse pagode, tão marcante em minha vida. A dúvida de hoje é se a laranja apreendida pela Polícia Federal já está só no bagaço ou se ainda rende suco. E eu sempre amei suco de laranja. Mas, como já dizia minha bisavó, e ancestral está sempre mais do que certa: o bagaço também é importante. Oxalá que seja!

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