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Por Ana Carolina Coelho. Feminista, mãe, escritora, poeta, dançarina, plantadora de árvores, pesquisadora e professora universitária
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Adoecimentos maternos e a coragem para viver

a. As pesquisas e relatos das mães revelam o quanto não nos permitimos adoecer, o quanto precisamos ser “fortes guerreiras incansáveis”

Por Ana Carolina Coelho
4 out 2022, 10h52

Estou doente. Já sei sobre isso há algum tempo e estou “em tratamento”, mas alguns dias são piores que outros. Hoje foi um dia péssimo. Ontem, um dia tranquilo. E assim as horas passam e eu vou seguindo. Ninguém gosta de ficar doente, mas eu, particularmente, sou uma paciente obediente, porém sem NENHUMA paciência. Considero um grande “inconveniente” para o meu planejamento “passar mal”. Desconsidero os sinais e apenas quando estou irremediavelmente atingida, me rendo ao descanso. Minhas amigas espiritualizadas dizem que é o meu corpo me ensinando a entrar em harmonia com a minha alma. Minhas amigas céticas dizem que é o meu corpo dizendo “chega de tanto trabalhar”. É um feito divertido, preciso admitir, vê-las concordando – cada grupo com explicações diferentes, uma holística e outra científica –, mas todas receitam o famoso “descanso”. 

Eu, hoje, descansei dando banho, alimentando a nova gatinha resgatada da casa e ajudando minha mais velha no dever de matemática. Foi um dia até simples, mas estou extenuada. As pesquisas e relatos das mães revelam o quanto não nos permitimos adoecer, o quanto precisamos ser “fortes guerreiras incansáveis” e como isso tem sido, ao longo da história, temerário e danoso para as maternidades. Eu demonstro muito pouco quando sinto dor, e sei que parte dessa resistência é uma armadura que erguemos, do contrário não teríamos forças para seguir adiante, pois não há outro caminho possível. 

A questão é que nossa sobrecarga não é uma escolha: não há leis públicas que amparem nossa carga de trabalho, reconhecimento do trabalho doméstico e do maternar. Vivemos dentro de uma lógica de privatização e terceirização dos cuidados, precarização da vida em um círculo de sobrecargas dividido majoritariamente entre as mulheres na sociedade. Ou seja, estamos todas nos adoecendo para garantir que a estrutura social funcione. Assim, nos sacrificamos para que as casas e as crianças continuem “saudáveis”. Uma perversidade social que só tem condições de mudar quando todas as pessoas da sociedade se responsabilizarem pelos cuidados doméstico e familiar: um “amaternar” o viver que divide igualmente as tarefas do cotidiano, sem culpas ou gêneros, e multiplica a possibilidade de uma sociedade mais equitativa e feliz. 

Dias atrás, minha flor mais velha, que está adolescendo muito rapidamente, acordou mal-humorada e penteou os cabelos emitindo grunhidos de dor, como se estivesse em uma sessão de autotortura. Ela foi para escola, voltou e seu humor permanecia inabalável na vibe reclamação. Eu a observo, às vezes, com um olhar antropológico, vendo aquela doce menina, tornar-se uma mulher. No final do dia, eu ainda estava silenciosa, estudando e com dores, e as crianças já tinham ido dormir, quando de repente a porta do quarto se abriu e vi minha filha indo em direção ao banheiro. Houve um grande silêncio e minutos se passaram. Clara entra em meu quarto com um sorriso largo, dona de si, cheia de orgulho e estende a mão para que eu veja: um dente. Então ela me diz: eu mesma arranquei! Vejam bem, essa é a menina que chora por qualquer topada no dedinho; que reclama dos cabelos; e sempre foi manhosa e me pedia colo por qualquer machucado. E ELA ARRANCOU O PRÓPRIO DENTE AMOLECIDO!!!!!  

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Eu perguntei a ela se tinha doído e ela me disse que doía menos agora sem o dente e que ela queria ver se conseguia. Eu a abracei e beijei dizendo “minha linda filha mulher corajosa, eu te amo! E saiba que eu estou aqui sempre.” E ela me respondeu: “Eu sei disso, mãe e foi por isso que eu quis tentar sozinha, qualquer coisa eu chamava você.” Nosso abraço durou uma eternidade. A segurança que ela sente é a MINHA CORAGEM de continuar e superar esse “inconveniente” chato. Nesse dia algumas amigas me ligaram à noite. Eu entendi que quando criamos redes amorosas de apoio, temos a sobrecarga estrutural, mas também uma grande recarga de forças em um círculo de “você não está sozinha”, “só mandar mensagem que vamos para aí”, “força querida! estamos contigo!”. Eu senti que minha casa tinha dezenas de “quartos ao lado” com minhas amigas/irmãs.

O mundo continua desigual e machista e o apoio ainda vem essencialmente das mulheres. É preciso “amaternar” urgentemente a vida para que nossa coragem se renove com o apoio de todas as pessoas. Minha filha corajosa me mostrou que ela se sente assim porque sabe que eu estou ali “no quarto ao lado”. E é essa rede de amor, apoio e segurança que nos faz querer vencer qualquer adoecimento. Precisamos ter coragem para demonstrar nossas dores e a força coletiva para vencer. Dias melhores certamente virão! E vamos juntas! É possível sermos melhores, sempre! Dias Mulheres virão!

Vamos conversar?

Se quiser entrar em contato comigo, Ana Carolina Coelho, mande um e-mail para: ana.cronicasdemae@gmail.com
Instagram: @anacarolinacoelho79

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