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Kika Gama Lobo

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Focada na maturidade como plataforma pessoal, a jornalista Kika Gama Lobo escreve sobre as sensações e barreiras que as mulheres 50+ vivenciam

Madonna me comeu

Ela nasceu para chocar, ousar, transgredir. Alguém tem que ser sentinela na vida

Por Kika Gama Lobo Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
7 Maio 2024, 13h58
Madonna no show realizado no Rio de Janeiro.
Madonna no show realizado no Rio de Janeiro.  (Getty Images/Getty Images)
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Que delícia de show. Eu, do alto dos meus quase 60 anos, gozei. E olha que estou na menopausa severa, mas a musa queer, Madonna, injetou o estrogênio e a progesterona que eu não possuo mais. Foi uma orgia, uma suruba, uma Copafoda. E eu amei.

Alguns comentários no meu feed, quando postei uma cena do palco, me estarreceram. Me chamaram de puta velha, satanás grisalha, herege e perdi 500 seguidores. Só mesmo um desavisado não percebe que sou uma libertária raiz.

Nasci livre e aos poucos, na idade madura, fui barbarizando. Acho que aos 80 vou virar porta-voz antimonotonia. Quem conhece a carreira da Madonna sabe que as suas performances são avant garde. Ela nasceu para chocar, ousar, transgredir.

Alguém tem que ser sentinela na vida. Você pode não curtir, pode achar demais mas não pode reclamar que não sabia que o show seria ousado. Por que levou a criança de 10 anos? Levou porque quis. E vamos combinar que, na palma da mão, os devices eletrônicos têm muito mais patifaria.

E naquele mar gay, naquelas areias livres, eu e minha filha entramos em um transe. Ela, pelo que ainda vai viver. E eu revivi todas as minhas loucuras horizontais, me lembrei de cada momento lascivo que vivi. Alguns não valeram, mas não posso reclamar que não aproveitei a liberdade do começo dos anos 1980 em toda a sua potência. Fiz de um tudo.

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E hoje tenho repertório para dizer não. Para me afastar dos cálices envenenados. E Madonna ali, na minha cara ( sim, eu estava a 10 passos dela), entre línguas e dedos, bundas, picas e xotas, acendeu a minha mente. E olha que sou católica praticante. Meus joelhos estão no chão, mas não sou hipócrita de viver uma vida inventada.

Sou Madonna em várias versões. A virgem Maria de quem sou devota e a diva de Like a Prayer. A safada, a gostosa, lavou a minha alma. Eu aproveitei cada canção, mesmo em playback. Adorei os bailarinos, suspirei com a tecnologia e a presença de Anitta e o rebolation da Pabllo enrolada na bandeira do Brasil.

O baile cênico me deu muita esperança. Uma nação reluzente, com direito a fogo no palco e calor no meu coração. E tentarei não ter medo. Obrigada, Madonna.

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