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Conheça Livia Chanes, CEO do Nubank no Brasil

Livia é a nova CEO da plataforma, que recentemente se tornou a quarta maior instituição financeira do país

Por Paola Carvalho
Atualizado em 14 mar 2024, 12h40 - Publicado em 12 mar 2024, 09h19
livia martines nubank
Livia Chanes é a nova líder do Nubank do Brasil, sendo um exemplo de liderança feminina no mercado financeiro (Catarina Moura/CLAUDIA)
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Ela nasceu e cresceu em Santo André, no ABC Paulista, é filha de professores da rede pública, tem um irmão e muitos primos. Em casa, brigava para as tarefas serem compartilhadas de forma igual. Na rua, brincava de bola e bike. Estudou engenharia mecânica na Escola Politécnica da USP e possui mestrado pela École Nationale des Ponts et Chaussées de Paris. Hoje, aos 42 anos, mãe de dois meninos, é a nova CEO no Brasil de uma das maiores plataformas de serviços financeiros digitais no mundo, o Nubank. Livia Chanes assumiu a principal posição da empresa em janeiro deste ano. Agora, responsável pelas operações brasileiras, tem o desafio de atrair e reter clientes em uma sociedade em transformação.

A pandemia representou um retrocesso no avanço da equidade de gênero no mercado de trabalho mundo afora. Em 2020, mulheres seniores tinham probabilidade 50% maior do que os homens de frear suas carreiras por causa da Covid-19, segundo o relatório Women in the Workplace 2020, da comunidade global Lean In. Em momentos de crise, as mulheres costumam ficar de fora — o que não foi o caso de Lívia. Ela começou a sua jornada no Nubank justamente em 2020 como vice-presidente de Produtos e assumiu a operação brasileira no segundo semestre de 2022. Antes disso, trabalhou no Itaú e na consultoria McKinsey, como sócia em São Paulo. 

Sob sua liderança, o Nu Brasil conquistou 20 milhões de clientes e lançou mais de 50 produtos e serviços, incluindo soluções de segurança como o Modo Rua, cartões de crédito em braille e crédito consignado. “Acredito em soluções de grande impacto, priorizando descomplicar a vida financeira das pessoas. Mais da metade da população adulta brasileira é cliente Nu e estamos focados em continuar avançando com a participação de mercado e alavancando a tecnologia em favor do consumidor”, disse. 

A diretoria executiva do Nubank é formada por nove lideranças, sendo quatro mulheres. David Vélez é sócio-fundador, presidente do Conselho de Administração e CEO geral, o que engloba as operações no Brasil e no exterior. Livia Chanes é a CEO no Brasil, substituindo Cristina Junqueira, cofundadora que passou a liderar a diretoria de crescimento, concentrada na estratégia de expansão internacional da empresa. A terceira liderança feminina é Suzana Kubric, vice-presidente de Pessoas e Cultura e a quarta, Elita Vechin Pastorelo Ariaz, diretora jurídica.

Mulheres no topo

Apesar do crescimento de mulheres em cargos de chefia no Brasil, a participação feminina na presidência e liderança de empresas cresceu timidamente: de 13% em 2019 para 17% em 2022, segundo o Panorama Mulheres 2023. É pouco. Muito pouco. Até porque, conforme atesta o relatório The Ready-Now Leaders, da Ong Conference Board, organizações com pelo menos 30% de mulheres em cargos de liderança têm 12 vezes mais chance de estar entre as 20% melhores em desempenho financeiro.

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Sem agências bancárias e com uma linguagem simples e acessível na palma das mãos, o Nubank derrubou barreiras e fez com que os brasileiros desejassem o “cartão roxinho” e a “conta nu”, como ficaram conhecidos. No ano passado, atingiu a marca de 87,8 milhões de clientes e tornou-se a quarta maior instituição financeira do país, atrás da Caixa Econômica, Bradesco e Itaú. 

livia martines chanes nubank
Para Livia, o equilíbrio foi a chave para atingir seus objetivos (Catarina Moura/CLAUDIA)

“O Nu está em uma trajetória ascendente notável, demonstrando desempenho operacional, crescimento contínuo e lucratividade cada vez mais robusta”, afirma Lívia. O banco digital, avaliado em mais de US$ 44 bilhões, fechou 2023 registrando lucro líquido de US$ 1 bilhão. “Se lá atrás, quando eu era criança, alguém perguntasse para mim ou mesmo aos meus pais se eu chegaria até aqui, diríamos taxativamente que não. Por isso, sempre digo: é importante perseguir o que se acredita pedacinho por pedacinho, pois atos de coragem se somam ao longo do tempo.”

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De pequena

Lívia gosta de retornar a Santo André e se reconectar com suas raízes. Ela cresceu em uma tradicional família da classe média da Grande São Paulo, estudou em escolas particulares, vivia na casa da vó, passava as férias na praia. “Parte dos nossos valores é disciplina com estudo. Mas, preciso dizer, sou da geração anos 80, que assistia Silvio Santos e gostava de É o Tchan! Minha mãe conta que eu tinha interesses diversos, transitava em diferentes bolhas e não me importava com opiniões alheias. Ainda trago isso comigo”, conta. “E ela ainda me puxa a orelha, me cobra equilíbrio, e eu sei que ela está certa.” 

Equilíbrio é palavra-chave para de fato se sentir realizada como profissional, mãe, esposa, amiga, filha… “Aprendi que sou melhor quando estou com a energia equilibrada. Se existe um esforço desproporcional em algum lugar, isso desequilibra a minha identidade. Portanto, tenho rotina, e disciplina para cumpri-la”, diz Lívia. 

Intencionalidade é outra expressão protagonista. Lívia a aplica, inclusive, quando o assunto é feminismo. “Tive fases: quando estudava engenharia mecânica, acreditava na capacidade dos indivíduos. Quando diziam que eu tinha potencial, cheguei a pensar que alguns discursos eram exagerados. Ao assumir posições mais seniores, comecei a perceber que, de fato, ser mulher tinha um peso diferente. Me tornei mãe e precisei exercitar uma consciência intencional para reagir diante de comentários e julgamentos. Mais do que isso, aprendi a agir. Precisamos ocupar os espaços e forçar corporativamente as mudanças de processos”, afirma. 

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Um levantamento feito pelo Instituto Patrícia Galvão expressa esse contexto em números: 36% das trabalhadoras entrevistadas disseram espontaneamente já terem sofrido preconceito ou abuso por serem mulheres. Quando apresentadas a situações específicas, porém, esse número cresce: 76% reconheceram já ter passado por um ou mais episódios de assédio, que vão desde a supervisão excessiva do trabalho até discriminação por aparência física ou idade. 

A sociedade está em transformação, o Brasil é um país de altos e baixos e, por isso, desafios não faltam, pondera Lívia. “O Nubank faz um trabalho invisível. Muitas pessoas tinham vergonha de entrar em uma agência, não sabiam como seriam tratados. Hoje, está tudo ali na mão, sem barreiras. Ser brasileira e criar produtos no Brasil que revolucionam como se lida com dinheiro é um privilégio”, diz. 

Precisei exercitar uma consciência intencional para reagir diante de comentários e julgamentos.  Mais do que isso, aprendi a agir. Precisamos ocupar os espaços e forçar corporativamente as mudanças de processos

Livia Chanes, CEO no Brasil do Nubank
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