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Sem tabus: tudo que você precisa saber sobre sexualidade feminina

A sexóloga Luciane Angelo desmistifica os principais tabus que cercam a sexualidade feminina

Por Adriana Marruffo
22 jul 2023, 18h32

O mês de julho foi escolhido para celebrar o mês do orgasmo, uma das experiências mais prazerosas e significativas que podemos sentir ao longo das nossas vidas! E não é novidade que o sexo continua sendo visto como um assunto proibido para as mulheres e visto com bastante estranheza.  Portanto, existem diversos tabus sobre o orgasmo, apesar de ser normal e, inclusive, gratificante. Aqui, desvendamos tudo sobre sexualidade feminina com a ajuda de Luciane Angelo, sexóloga e jornalista. Veja só:

O prazer feminino como tabu

O sexo como um todo sempre foi visto como algo estranho e secreto – você precisava sempre manter a sua intimidade completamente escondida. Mas a verdade é que existe um desconforto maior em relação ao prazer feminino. “Vivemos em uma sociedade patriarcal, e na sociedade patriarcal prevalece o que? O poder dos homens. A partir do momento que a mulher começa a ter o conhecimento da própria sexualidade e ela entende que ela também tem uma força e um poder, isso diminui a força dos homens”, explicou Luciane sobre a estranheza constante com o prazer feminino.

É claro que os movimentos feministas trouxeram grandes avanços na conversa sobre prazer feminino, e vem se tornando cada vez mais uma pauta mais discutida. Contudo, ainda vivemos em um mundo que vem sendo dominado pelo masculino há décadas, resultando com que muitas mulheres sintam vergonha, nunca tenham se tocado ou não saibam exatamente o que lhes agrada ou lhes desagrada.

“Nós somos educadas a não nos tocarmos, a não nos conhecermos, para manter essa estrutura da sociedade. Então, a sexualidade feminina é um tabu porque, basicamente, vivemos num patriarcado e para as mulheres em si, seria complicado elas se conhecerem porque ameaçaria todo aquele sistema vigente da sociedade”, refletiu a sexóloga. 

A masturbação elimina o homem?

A masturbação pode ser uma forma de se entender e se conhecer
A masturbação pode ser uma forma de se entender e se conhecer (Júlia Vicheti/MdeMulher)

Infelizmente, um dos maiores tabus em relação ao orgasmo é que a masturbação feminina elimina a necessidade de um parceiro, e isso está muito longe de ser a verdade! “masturbação e orgasmo você não precisa fazer com um homem, a gente entra de novo na estrutura da sociedade patriarcal”, explica Angelo. A realidade é que a masturbação vai além dos homens, é uma ótima oportunidade de se conhecer, de explorar suas áreas erógenas e descobrir o que você gosta para ajudar a atingir o orgasmo mais facilmente.

“A gente, claro, vive já numa bolha em que as mulheres estão tendo essa emancipação sexual, mas ainda, em sua maioria, é um tabu, porque a gente aprende que não é correto se masturbar, não é correto ser livre sexualmente para entender o que você gosta ou não, seus desejos e as suas fantasias. A mulher, no geral, ainda não se permite e na maioria das vezes não é permitida de ter a realização dos seus desejos”, conta a sexóloga. 

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A falta de autoconhecimento sexual é um dos fatores principais da insatisfação sexual, sendo decorrente da educação sexual repressora imposta na sociedade. Apesar de tabu, é necessário discutir e entender as necessidades do nosso corpo e o que gera prazer, por ser diferente para cada indivíduo. Por isso, é muito importante que você tenha um momento com você mesma e se descubra, além de ser um lindo ato de amor próprio e prazer. Você jamais deve colocar o seu prazer na mão do seu parceiro, saiba o que você gosta e como você quer. 

A encenação do orgasmo

Cientistas identificam três tipos de orgasmo feminino.
A encenação do orgasmo é um dos principais tabus que cercam a sexualidade feminina (Alexander Krivitiskiy/Pexels)

Outro dos grandes tabus em relação à sexualidade feminina é a grande encenação que existe em torno do orgasmo, esperando uma reação explosiva e exagerada.

“A gente tem, infelizmente, o exemplo da pornografia. A pornografia traz, tanto para a mulher quanto para o homem, performances fantasiosas, o sexo real não é aquilo. Enquanto mais você consome a pornografia, mais você se exige aquela performance e você exige do outro aquela performance irreal que não é o sexo diário”, conta Luciane. 

“Tanto para o homem quanto para a mulher é um peso na hora do sexo, porque você quer fazer um sexo mais suave ou de conchinha, mas não, existe toda aquela performance até um tanto agressiva para a mulher na pornografia. Então, existe esse tabu da mulher que precisa performar na cama quando não é a realidade. Então, um dos fatores que mais oprime a mulher nesse sentido é a estética da pornografia, e que se espera uma atuação profissional da mulher, quando não se deve esperar”, comentou a sexóloga. Portanto, não existe um jeito certo de ter orgasmo, assim como não existe uma receita para o sexo perfeito! 

Dor na penetração é normal?

estudo sexo anal
A dor na penetração, é uma das principais queixas das mulheres (W R/Pexels)

A sexóloga Luciane conta que uma das maiores reclamações que escuta por parte de pacientes no seu consultório é a dor na penetração. Essa dor é comumente vista como esperada e normal, e muitas mulheres pensam que não há muito que possa ser feito para impedir essa dor.

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Mas o sexo deve ser uma prática prazerosa e que você possa desfrutar ao máximo, e ninguém consegue gostar de algo que esta verdadeiramente doendo. Portanto, é necessário lembrar que podem haver diversos fatores que podem ser atrelados a essa dor e, que você não deveria sentir dor constantemente. 

“Ela pode ser uma dispareunia – que seria uma dor realmente física – pode ser um corrimento, uma infecção, às vezes até um mioma, algo no corpo físico e aí você precisa passar por uma série de exames, entender todos esses exames e, se deu tudo negativo, aí você vai para outra hipóteses, que é o vaginismo – o emocional, por exemplo, o trauma de alguma coisa”, explicou Luciane a respeito das possibilidades que podem causar dor na penetração. 

A sexóloga também explica que, em casos em que a dor na penetração seja relacionada ao emocional, é necessário procurar ajuda terapêutica: “O que a gente precisa investigar é se ela é física – através de diversos exames que o ginecologista pode passar – ou se ela é emocional e aí ir trabalhando de forma terapêutica”, indicou. 

Existe apenas um tipo de orgasmo?

Mais um das concepções errôneas sobre a sexualidade feminina é que existe apenas um tipo de orgasmo e que somente pode ser atingido por meio da penetração. Isso não poderia estar mais errado! Essa ideia surge, novamente, a partir da nossa sociedade patriarcal que precisa impor ao homem um papel sobre em cima do prazer feminino.

“Existe o orgasmo clitoriano, que é através do clitóris. Existe o orgasmo vaginal, que subentende que é um continuação do orgasmo clitoriano porque hoje a medicina entende que o ‘ponto G’ do canal vaginal é nas costas do clitóris. Mas, também temos o orgasmo anal, o orgasmo mais perto do útero – tem mulheres que têm aquela sensação orgástica ali perto do colo do útero. Então, tem várias possibilidades de orgasmo, você pode ter orgasmo nos mamilos, nas outras zonas erógenas”, explica Luciane. 

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Portanto, é sempre importante lembrar que a experiência do orgasmo pode vir de diversas maneiras, e é importante que você descubra seus próprios desejos sexuais. 

A masturbação pode dificultar o orgasmo no sexo?

Existe a ideia de que a masturbação, apesar de ser uma forma de se autoconhecer, pode resultar em uma maior dificuldade para atingir o orgasmo durante a relação sexual, e podemos afirmar que isso é totalmente falso! A longo prazo, a masturbação é a melhor aliada das relações que você tem com o seu parceiro, por ser uma forma de autoconhecimento para ambas as partes.

Mas a sexóloga também explica que a masturbação somente tem benefícios, tanto no sexo quanto para a qualidade das nossas vidas. “É o famoso: “quem goza é mais feliz”, porque você tem ali um estímulo hormonal, é um processo químico dentro do corpo, além de te dar prazer, porque você libera diversos hormônios do bem-estar, como dopamina, oxitocina, serotonina. Então, você traz bem-estar para a sua vida no geral”, explica Angelo.

“Quando você tem a questão do orgasmo presente na sua vida, você tem uma manutenção da sua libido – o tesão que você tem pela vida, não necessariamente sexual. A libido é a energia que nos move, é o tesão da vida. Então você pode ter libido, você tem tesão para trabalhar, para se exercitar, para estar com os seus amigos e o desejo sexual está dentro da libido. Então, o desejo sexual faz parte da manutenção da sua libido. Quando você tem processos orgásticos, você tem tesão na vida geral”, contou a sexóloga. 

Portanto, o orgasmo influência em outros aspectos da sua vida e não apenas numa transa. 

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Existe apenas um formato de vulva?

A preocupação em relação à estética da vulva continua presente na sociedade
A preocupação em relação à estética da vulva continua presente na sociedade (Ile Machado/MdeMulher)

Outro grave tabu da sexualidade feminina é que existe apenas um tipo de vulva! Existem diversos tipos de vulva, e esse tabu gerou na nossa sociedade um padrão estético do que é desejável nas partes íntimas das mulheres, sendo que muitas fogem do seu controle e são 100% normais. “A vulva exemplar e desejável, por questões de consumo pornográfico, é aquela vulva branquinha, rosinha, lisinha, quase que com traços infantis e, com os lábios externos e internos pouco proeminentes”, reflete Luciane. 

“Em sua maioria, a mulher na vida real, se você analisar as vulvas, o lábio interno das mulheres é mais proeminente, ele é grandinho. Isso baixa a autoestima das mulheres quando olham para a vulva e veem que elas não se adequam à vulva da pornografia, à vulva do consumo pornográfico dos homens em geral”, explica a sexóloga. 

Assim, o Brasil vem se tornando um dos países campeões em cirurgias estéticas, incluindo cirurgia íntima: “Isso afeta tanto a autoestima até o nível das mulheres procurarem procedimentos somente pela estética para diminuir essa área, e isso é complicado nem para toda mulher isso é recomendado. Essa labioplastia pode afetar algumas inervações da vulva e do clitóris, trazendo uma não sensibilidade para a área, ou uma diminuição da sensibilidade”, explica Angelo sobre esses procedimentos. 

É importante naturalizar, especialmente entre as mulheres, que a vulva vem em diferentes formas e tamanhos, podendo ter mais ou menos pelo, um lábio interno mais proeminente ou não, entre outras diferenças. Toda vulva é linda do seu próprio jeito!

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