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Flertar e sentir atração por outros é traição? Psicanalista responde

Por mais que tentemos controlar, sentir atração por outras pessoas faz parte de nossa estrutura psíquica e biológica

Por Kalel Adolfo
Atualizado em 1 fev 2023, 13h17 - Publicado em 22 dez 2022, 09h52

Mesmo estando dentro de uma relação monogâmica, todos nós já sentimos atração — física, afetiva ou intelectual — por outros. Aliás, é uma fantasia acreditar que, a partir do momento em que assumimos um compromisso com alguém, paramos de ter quaisquer sentimentos pelas pessoas que não estão no relacionamento. Nutrir um desejo constante por situações, objetos e pessoas faz parte da estrutura psicológica do ser humano. Aliás, é o que nos move.

Contudo, se é natural sentir atração por outras pessoas estando dentro de uma relação, podemos dizer o mesmo sobre o flerte? Será que o ato de demonstrar afeto pelo próximo pode ser classificado como traição? Para responder essas e outras perguntas, CLAUDIA entrevistou a psicóloga e psicanalista Raquel Baldo. Veja a seguir:

Flertar estando numa relação monogâmica é natural?

Antes de bater o martelo se é traição ou não, Raquel nos convida a refletir sobre algo importante: a influência da cultura em nossa percepção de amor e relacionamento: “Algumas pessoas dentro de vínculos amorosos preferem arcar com o peso das normas sociais, vivendo e até reproduzindo essa ideia de que o compromisso afetivo representa uma privação dos prazeres. Elas sentem que, sim, estar num namoro ou casamento é sinônimo de perder a liberdade de ser, desejar, descobrir e vivenciar as sensações do mundo”, diz.

Porém, nem todas as pessoas conseguem se moldar a essas normas. Nestes casos, a psicóloga explica que o flerte acaba se transformando numa forma de escapar da repressão do desejo: “Há uma fantasia de que não estamos fazendo nada de errado, já que não existe concretização física. Sem declarações explícitas, beijos, toques e sexo, sentimos que não estamos quebrando um compromisso, mas apenas encontrando uma portinha de escape para se manter na relação”, aponta.

Então, sim, é natural que as pessoas acabem flertando dentro dos relacionamentos, visto que as motivações para isso têm raízes no subconsciente (que é bombardeado por questões morais, sociais, culturais, etc).

Inclusive, a fantasia de que alguém irá nos satisfazer por completo — e que é obrigatório se sentir assim — nos faz reprimir uma série de estímulos gerados pela vida em sociedade. “O conceito de ‘alma gêmea’ gera o efeito inverso: ao invés de nos prender a um único indivíduo, acabamos desenvolvendo uma necessidade de flertar para atender as demandas do inconsciente, que não quer deixar de sentir desejos”, esclarece.

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Flertar é natural… mas pode ser considerado como traição?

Psiquicamente, Baldo esclarece que o flerte pode acontecer de diversas maneiras: através de uma fala, olhar, tom de voz, movimentação corporal ou até toques: “Quando flertamos, estamos insinuando interesse por aquele indivíduo. É um cortejo”, clarifica.

Agora, ok… Se eu estou demonstrando interesse por outro, mesmo estando numa relação monogâmica, é traição, certo? De acordo com a psicanalista, não necessariamente: “Precisamos entender se a pessoa sabe que está flertando, pois vivemos numa sociedade que permite alguns atos sendo camuflados como brincadeiras e piadas inocentes. É tipo aquela fala clássica: ‘Aqui a gente faz assim mesmo’ ou ‘Isso é só brincadeira de amigo’. É através desses disfarces que há a permissão do flerte. Nestas situações, não estamos falando sobre traição, pois não há contratos sendo rompidos”, diz.

Todavia, a especialista aponta que o cenário muda a partir do momento em que assumimos — para nós mesmos ou para amigos próximos — que queremos evidenciar o nosso interesse. “Mesmo que eu não vá concretizar nada, já estamos falando de uma quebra de contrato”, declara. E por quê? Para entender isso, Raquel nos aconselha a analisar novamente o conceito da monogamia.

“Esse modelo não fala apenas sobre assumir alguém e permanecer ali. A ideia da monogamia é carregar essa fantasia psíquica de que não temos interesse por mais ninguém. Agora, isso é praticamente impossível. O que nos faz ser saudáveis é manter as nossas ‘punções vitais’, termo que usamos para definir aquela energia que nos inspira a trabalhar, dançar, nos divertir e, sem sombra de dúvidas, nos interessar por uma diversidade de pessoas.”

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Flertar é infidelidade sim (numa cultura monogâmica)

Independente de ser saudável ou não, a monogamia é a base da maioria dos relacionamentos. Portanto, a nossa estrutura psicológica acaba sendo formada e influenciada por esse modelo que institui o contrato a dois. “Esse acordo geralmente não inclui a liberdade de expressar os seus desejos por outras pessoas, então o flerte pode ser sim uma traição. Se estamos juntos, fica subentendido que você só deseja a mim. Se isso acontece fora de nossa dinâmica, está errado”, exemplifica Raquel.

Casamento aberto pode ser uma possibilidade

Entretanto, ao contrário do que muitos pensam, flertar com outros não significa que está na hora de terminar o vínculo. Na verdade, sentir essa necessidade pode ser sinal de que está na hora de repensar os seus padrões afetivos: “Nestes cenários, o ideal seria considerar uma relação aberta. Abrir o relacionamento não necessariamente significa que o casal irá sair beijando e transando com todo mundo. Às vezes, apenas permitir o flerte já é abertura o suficiente para os dois”, aconselha.

A psicanalista pontua que, sim, é possível que dois indivíduos se escolham, se amem e aceitem que é natural ter desejo por outros: “Às vezes, reprimir o desejo de flerte é entrar num processo psíquico contrário a sua existência, o que pode inclusive ser uma traição consigo mesmo”, dispara.

Por fim, a especialista reitera: flerte é uma declaração de nosso instinto, e não uma confirmação de que a relação está ruim. Na verdade, flertar significa não conseguir mais conter os impulsos do desejo: “Levando em consideração a estrutura biológica do ser humano, talvez aceitar isso fosse o caminho mais natural”, conclui.

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