Por que Carnaval é sinônimo de beijo na boca? Especialistas explicam
As fantasias, danças e os corpos à mostra ativam áreas do cérebro mais focadas na sedução
Carnaval é sinônimo de festa na rua, purpurina, alegria. E, para muita gente, beijo na boca. O desejo de pegação parece se intensificar nesse período de folia, e não se trata apenas do caráter sensual e saliente do povo brasileiro. A ciência explica essa vontade toda de colar os lábios e trocar saliva no meio dos blocos e CLAUDIA ouviu dois especialistas para entender o que acontece.
O neurocientista e neurocirurgião Fernando Gomes explica que o beijo, por si só, já ativa os sistemas de recompensa no organismo. “Há muitas terminações nervosas na boca que lavam informações importante ao cérebro, desde sensação tátil, sabor, textura e vigor do movimento do beijo que fazem com que informações inconscientes entrem no corpo e estimulem que há uma nova carga genética entrando no organismo. É uma explicação biológica.”
Com a pouca roupa, as danças, os movimentos de corpos muito próximos uns dos outros, Fernando diz que, durante o Carnaval, o cérebro fica mais “sensibilizado”.
“Primeiro há o interesse pelas curvas do corpo, em especial quando elas estão mais expostas. O cérebro fica ainda mais vulnerável com a maior entrada dessas informações visuais. É nos lobos occipitais, a parte visual primária do cérebro, que se formam as imagens que serão refletidas em áreas de associação e no sistema límbico, que é o circuito emocional”, explica o neurocientista. É nesse acúmulo de emoções que o Carnaval se torna uma festa tão propícia para a sedução.
O impacto é tamanho que, segundo o médico, certas áreas do cérebro acabam sendo desligadas para que outras áreas possam ser ativadas para a conquista. “São elas, em especial, as amígdalas nos lobos temporais —o centro da do sentimento de defesa, de fuga ou luta— que ficam off, enquanto os centros do prazer são ativados. Nas mulheres, o córtex órbitofrontal lateral esquerdo, responsável pelo controle de desejos elementares, silenciam-se também. E, então, elas conseguem se despreocupar dos pudores e simplesmente se deixam levar pela sedução”, explica Fernando.
Quando as amígdalas cerebrais, as áreas da autodefesa, são desligadas, o cérebro dá mais espaço à atração física. E essa espécie de frouxidão aumenta as possibilidades da paquera e do flerte. “A bebida alcoólica também diminui o filtro comportamental. o Lobo frontal, responsável por nosso senso de juízo, é afetado e deixa de estimular um neurotransmissor chamado GABA (Ácido gama-aminobutírico). Assim, o contato com outra pessoa fica mais favorável.”
Freud explica
A psicologia também ajuda a entender esse fenômeno. “A quebra da rotina que o Carnaval traz faz com que as pessoas busquem agir de forma mais liberta, e o flerte faz parte do contexto festivo. As fantasias cada vez mais elaboradas regem a tentativa de seduzir, ajudando a despertar a atenção um do outro”, diz Marcelo Alves, professor de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
O psicólogo menciona estudos que dizem que há seis motivos para flertar: a busca pelo sexo, a diversão da conquista, a busca por relacionamento, a autoestima de quem paquera e de quem é paquerado, a exploração de sentimentos que o flerte causa e, por último, o tentar conseguir algo do outro.
Somando a isso a sensação de liberdade que o Carnaval propicia, todo desejo aumenta. Não à toa, há o dito popular de que “o que se faz no Carnaval, fica no Carnaval”.
“Tradicionalmente, a folia carnavalesca tem como mote a subversão da ordem estipulada, temporariamente permitidas, por isso o desejo de beijar muitas pessoas. É nesse período que emoções e comportamentos recebem autorização, diminuição da cobrança social. Os sentimentos são extravasados, com um elemento a mais, a música, que contribui para a alegria dos foliões que se expressam sem muitas travas e de várias formas. O beijo é uma delas”, diz Marcelo.
E as fantasias, é claro, fazem parte da brincadeira. “Elas ajudam nessa sensação de permissividade, já que o apresentado naquele contexto é uma personagem e, assim como, o avatar que se cria no mundo virtual, tendo características diversas e até distintas de seu criador, a personagem por trás da fantasia se permite a viver comportamentos que costumeiramente não os teria”, comenta o psicólogo.
Com ou sem fantasia, vale viver a festa, ser feliz e, é claro, beijar na boca.