Assine CLAUDIA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Conheça Dona Leja, uma modelo de vitalidade

Com 90 anos e trabalhando, a senhora esbanja energia e sabedoria

Por Texto: Chico Felitti
Atualizado em 14 nov 2018, 16h51 - Publicado em 14 nov 2018, 16h46

Não há quem se aproxime de Leja Rojtenberg sem se inspirar nela. Ou sem pedir a receita de como chegar aos 90 anos com energia, sabedoria, vontade de correr o mundo e… trabalhando. CLAUDIA passou um dia com essa modelo de vitalidade.

8h “Hesitando, cresce o medo.” A frase, escrita à mão, está ao lado da cama de Leja Rojtenberg. É quinta-feira e Leja (que se pronuncia Leia, como a prince-sa de Star Wars) está tomando café. A mulher esguia, à mesa da cozinha do apartamento no bairro paulistano de Higienópolis, lembra da sua festa de 90 anos, em dezembro do ano passado. Sua filha, Ana Rosa, 62, uma das apresentadoras do Shalom Brasil, programa televisivo voltado à comunidade judaica, fez um almoço para dezenas de amigas. O aniversário foi a oportunidade para Leja aplicar Botox pela primeira vez. “De resto, só cremes. Nada de cirurgia”, afirma com o jornal nas mãos e o rosto quase tão liso quanto o papel estendido entre os dedos.

“As pessoas não chegam aos 90 porque ficam presas aos 40. Não querem envelhecer.” (Gal Oppido/CLAUDIA)

Leia mais: Mãe leva filha na creche e avisa que não voltará para buscá-la

10h Leja vai para a academia, que fica no subsolo de um shopping no mesmo quarteirão do prédio dela. Ao passar pela catraca, é cumprimentada por um homem de quase 2 metros, com um bíceps que deve ter o tamanho de sua cintura. “E aí, BioMusa?”, ele grita na pausa entre uma série de supino e a seguinte. O apelido é a junção do nome da academia, BioRitmo, com musa. É como ela é conhecida no lugar. BioMusa não tem muito tempo a perder. Faz 30 minutos de atividade aeróbica na esteira. Depois, são oito exercícios de fortalecimento e 30 minutos de alongamento, exibindo uma flexibilidade que impressiona a todos. Pergunto como anda a disposição da aluna. “Melhor que a das professoras”, responde aos risos a treinadora Maria Sartori, que dá aula para turmas de veteranos. A frase é ilustrada por um movimento de Leja, que se solta do aparelho simulador de remadas sozinha e já se põe de pé perto da professora esperando a instrução para o próximo exercício. Polonesa criada no interior paulista, Leja tem amigos de todas as idades, malha, toma vinho branco no almoço e arremata a tarde com um gole de vodca.

12h Depois da academia, Leja vai ao supermercado. É ela quem escolhe as flores, os legumes e o vinho da casa. Almoça salada de grão-de-bico com abacate e frango enquanto toma vinho branco. Há quem pergunte a Leja qual a fórmula para chegar à nona década assim. Se há uma, ela ainda não descobriu. “Eu me alimento bem, me cuido. Como boa polonesa, gosto do meu arenque e da minha vodca com limão no fim do dia. Nada de excepcional”, conta.

Leia mais: Menina autista confunde noiva com Cinderela e tem reação fofa

Continua após a publicidade

Ela pode não ter a receita para atingir os 90 com tanta lucidez, mas propõe uma reflexão. “As pessoas não chegam aos 90 porque ficam presas aos 40. Não querem envelhecer.” Leja garante andar de mãos dadas com o tempo, por mais que a idade traga uma consequência indesejada. “Você envelhece e fica invisível. Ninguém mais presta atenção no idoso. Mas comigo, não. Inventei uma forma de burlar isso. Nunca fui tão atuante: me param na rua, elogiam meu cabelo, meu jeito”, diz a senhora, que tem amigos de todas as idades.

Terminado o treino, Leja vai ao supermercado. Além de frutas e vinho, aproveita para comprar flores (Gal Oppido/CLAUDIA)

13h Finda a refeição, geralmente termina de ler o jornal na cama e tira um cochilo. Mas, como não quer desapontar a reportagem de CLAUDIA, Leja pula o repouso e alcança as agulhas de crochê. Enquanto mexe as mãos, remexe a memória. Ela nasceu em um vilarejo perto de Varsóvia, na Polônia, em 1927. Como a parteira caiu da carroça em que o pai foi buscá-la, a mãe deu à luz sem ajuda. Cortou o cordão umbilical com os dentes. Os pais vieram para o Brasil quando Leja tinha 2 anos. Ela cresceu no interior de São Paulo e se formou em contabilidade. Durante os estudos, se apaixonou. Num ato de independência, casou à revelia dos que a cercavam. Foi aí que Ana Rosa nasceu. O casamento acabou poucos anos mais tarde, e a polonesa se mudou para a capital. Nunca mais teve marido. “Minha vida estava boa, livre. Eu viajava, passeava, não tinha mais vontade de casar.” Foi secretária executiva de multinacionais, mas nos primeiros anos o dinheiro era contado. Ia ao cabeleireiro e, no restante da semana, se mantinha estática na cama com medo de se despentear. “Eu chamava isso de dormir no cabide”, conta gargalhando. O cabelo curto vem dessa época. “Muito ousado e diferente décadas atrás”, comenta ela. Com o tempo, foi promovida, ascendeu a uma vida confortável e comprou o apartamento em um bairro rico. Pouco depois dos 50 anos, virou modelo. Vieram campanhas publicitárias e editoriais de moda. As paredes de sua casa estão cheias de páginas de revistas emolduradas. Leja modelou em inúmeros anúncios. Fez poses para Churrascaria Rodeio, McDonald’s, Brinquedos Estrela, banco Bamerindus… Interpretou uma avó em um editorial de moda de CLAUDIA de 1996 que mostrava modelos de três gerações. Foi um recorte dessa sessão de fotos que Ana Rosa enviou para a redação relatando que sua mãe faz parte da história da revista; e a revista, da história dela. A filha também modela para marcas de cosméticos e estampou as nossas páginas com um creme para as de 60.

Continua após a publicidade

Leia mais: Sobrinho de Kate Middleton tem nome revelado

Leja aposentou-se do escritório, não da carreira de modelo, por mais que os convites tenham rareado. “O perfil que buscam hoje é antiquado. Querem uma avó de chemisier, colar de uma volta, cabelinho branco”, critica. Na parede, chama a atenção uma imagem de Leja flutuando no Mar Morto. Conheceu Israel, parte do Japão, Camboja, Vietnã…

Dona Leja no editorial de moda de CLAUDIA, em 1996 (Reprodução/CLAUDIA)

Leia mais: Sandy publica vídeo fofíssimo do filho Theo

15h Leja aparece de vestido e salto alto. Vai com a filha encontrar duas amigas num café da vizinhança. Alguém sugere que ela deveria escrever um livro. Na verdade, já lançou dois. Ela estreou na literatura, aos 73 anos, com Zlata, Não Olhe para Trás, autobiografia com leves adaptações. O texto, editado por um rabino, alcançou sucesso na comunidade judaica. Publicou nove anos mais tarde Na Margem Esquerda do Sena, romance fictício com fatos reais da sua vida.

Continua após a publicidade
No final da tarde, coloca vestido e salto alto para encontrar as amigas (Gal Oppido/CLAUDIA)

17h De volta para casa, Leja diminui o ritmo. Assiste TV acariciando a cadelinha Lola Joy. “Eu não sei ver televisão sem estar com as mãos ativas.” Ela gosta de séries do Netflix e jogos do videogame Wii. Depois, comerá um lanche.

Leia mais: Como a Lua Cheia do dia 23 de novembro irá afetar cada signo

Continua após a publicidade

20h Para encerrar a noite, o romance Antes da Tempestade, de Dinah Jefferies, a espera. Vai ler até cair no sono no quarto perfumado por alecrim, manjericão e hortelã, que cultiva em floreiras na varanda. Certamente acordará antes das 8 no dia seguinte. Sairá da cama sem pensar duas vezes porque, como lembra o papel na cabeceira, “hesitando, cresce o medo”.

À noite, divide a cama com a cadelinha Lola Joy (Gal Oppido/CLAUDIA)

Veja mais: Ela viu o noivo usar a própria festa para se casar com outra

Continua após a publicidade

Siga CLAUDIA no Instagram

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Domine o fato. Confie na fonte.
10 grandes marcas em uma única assinatura digital

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Moda, beleza, autoconhecimento, mais de 11 mil receitas testadas e aprovadas, previsões diárias, semanais e mensais de astrologia!

Receba mensalmente Claudia impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições
digitais e acervos nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.

a partir de R$ 12,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.