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Devo congelar óvulos? Tudo o que você precisa saber para decidir

Cada vez mais mulheres procuram frear o relógio biológico para conseguirem pensar melhor a respeito da gravidez e maternidade

Por Joana Oliveira
Atualizado em 4 jan 2024, 15h35 - Publicado em 2 mar 2023, 09h47

Mayara Azevedo não sabe se quer ser mãe, mas tem certeza que não quer que a sua idade decida por ela. Por isso, aos 29 anos, optou por congelar os óvulos. “Sou uma pessoa controladora, a possibilidade de ter um problema para engravidar no futuro me tirava o sono. Principalmente porque acompanhei uma amiga mais nova que teve que retirar os dois ovários e uma tia de 40 anos que teve problemas sérios para gerar o filho. Essas situações mexeram muito comigo”, conta, aos 32.

“Queria viver minha vida, focar na minha carreira. Antes do procedimento, tinha ansiedade em relação a casamento, construir uma família… Hoje, tirei essa pressão sobre o futuro, vivo de forma mais leve”, continua.

Cada vez mais mulheres fazem a mesma escolha no Brasil. Nos últimos dois anos, as principais clínicas de reprodução assistida do país registraram aumento de entre 15% e 20% no congelamento de óvulos. A ginecologista Sofia Andrade, delegada do Nordeste na Sociedade Brasileira de Reprodução Humana, diz que tem crescido a procura não só pelo procedimento em si, mas também pelo conhecimento a respeito.

“É sobre planejamento de vida, as mulheres não querem ficar presas à limitação biológica, porque o modo de vida é outro, mas o relógio biológico é o mesmo. Os próprios profissionais da saúde ficaram mais conscientes sobre o tema e têm conversado sobre as alternativas com as pacientes”, comenta. Da parte prática, Sofia explica que as mulheres nascem com todos os óvulos e vão perdendo eles ao longo da vida. Durante o ciclo menstrual, nosso organismo seleciona apenas um, e os outros são descartados. No total, perdemos cerca de mil óvulos por mês.
Como funciona o congelamento de óvulos?

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O primeiro passo é fazer o exame Anti-Mulleriano, que faz a contagem da reserva ovariana, oferecendo uma estimativa do potencial reprodutivo da paciente. Depois, vem o tratamento hormonal, com aplicações diárias na barriga, por meio de “canetas”. “Elas geralmente começam no segundo dia da menstruação e seguem por 10 ou 12 dias. Depois disso, a paciente chega no período fértil. Espera-se, então, entre 36 e 48 horas para fazer a coleta dos óvulos, num centro cirúrgico, com uma agulha”, explica Sofia. No total, tudo dura, em média, duas semanas.

Quem faz o procedimento aos 39 anos tem uma taxa de êxito de 15%.
Quem faz o procedimento aos 39 anos tem uma taxa de êxito de 15%. (Reprodução/Getty Images)

A ginecologista diz que, apesar de envolver exames pré-operatórios e anestesia, o tratamento é pouco invasivo, pois são hormônios que o corpo já produz, em doses maiores.
“Uma paciente que tenha uma boa reserva ovariana, por exemplo, não precisará de uma dosagem alta.”

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Os efeitos são similares aos de um ciclo menstrual intenso, com alteração de humor, retenção de líquidos e inchaço. “Minha barriga ficou enorme e eu chorava até com desenho animado”, lembra Mayara. O mais chato para ela, no entanto, foi o acompanhamento médico a cada dois dias, com exames de sangue e ultrassonografias, para identificar o melhor momento para a coleta.

Os médicos também recomendam que não se realize atividades físicas durante o tratamento. Eles afirmam que a taxa de sucesso de uma gravidez futura é de 70% a 75%. E a paciente pode repetir o tratamento quantas vezes quiser. “É possível que ela faça outra coleta já no mês seguinte e vá acumulando óvulos congelados. Não há limite, mas bom senso, porque chega um ponto em que a chance de êxito não vai aumentar”, pondera Sofia.

Quanto custa congelar óvulos?

De acordo com a pesquisa feita por CLAUDIA, o custo médio do congelamento de óvulos em clínicas da região Sudeste do país fica entre R$ 10 mil e R$ 20 mil, no Nordeste é de R$ 8 mil a R$ 15 mil. Em São Paulo, há serviços entre R$ 5 mil e R$ 7 mil. Além disso, há uma taxa anual de manutenção dos óvulos congelados no laboratório, que é de cerca de R$ 1,5 mil.

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“Hoje, o acesso ao tratamento é mais fácil, há maior oferta do serviço, e o custo diminuiu, apesar de ainda ser alto para a maioria da população. Mas muitas clínicas já disponibilizam programas de acesso que barateiam o tratamento”, diz Sofia.

Em todo o país, a medicação hormonal, que é aplicada de 10 a 12 dias, varia entre R$ 3 mil e R$ 8 mil. O custo elevado foi um dos fatores que fez com que Roberta Neri optasse por fazer o congelamento apenas uma vez, aos 37 anos. “Meu companheiro tem baixa produção de esperma, ter filhos não é algo imprescindível para nós. Estamos passando um ano nos Estados Unidos e não queria fazer isso com um bebê, por isso fiz o tratamento. Mas demanda muita energia emocional e financeira. Você vai resolver uma questão de saúde e se depara com uma indústria pouco humanizada e super capitalista, tudo custa mais dinheiro”, lamenta ela, hoje aos 39 e ainda sem filhos.

Quem precisa congelar óvulos?

O congelamento de óvulos surgiu como alternativa para mulheres que passariam por tratamentos de quimio ou radioterapia e ficariam com os ovários estéreis. Depois, passou a ser um método de preservação da fertilidade. Para Milena Serianni, 37, representou tudo em sua vida. Quando ela e o marido decidiram ter filhos, foram fazer exames de rotina e ela descobriu um câncer de mama. Aos 32 anos, retirou os dois seios e, antes de começar o tratamento, congelou os óvulos. “O que me deu forças para enfrentar o câncer foi acreditar que eu seria mãe quando passasse por aquilo”, conta ela, que hoje tem Henrique, de 2 anos.

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Para mulheres até os 35 anos, a taxa de sucesso do congelamento é de a taxa de sucesso é de 70% a 75%.
Para mulheres até os 35 anos, a taxa de sucesso do congelamento é de a taxa de sucesso é de 70% a 75%. (Reprodução/Getty Images)

Nilo Frantz, um dos maiores especialistas em reprodução humana do Brasil, médico de Milena, já realiza pesquisas para dar um passo além: o congelamento de ovários. “Se retira um pedaço do ovário em pequenas lâminas e ele é congelado até quando a paciente quiser engravidar. Esse ovário saudável é reimplantado, vai crescer e gerar óvulos. Até mesmo meninas impúberes poderão passar por isso antes de realizar um tratamento oncológico”, celebra o médico.

Além de pacientes com câncer, só há, de fato, uma indicação por razões médicas para o congelamento de óvulos no caso de quem tem histórico familiar ou problema comprovado de infertilidade. “Se a mãe da paciente entrou na menopausa aos 40 e poucos anos, ela também tem chance de uma menopausa precoce. E se uma mulher já tentou engravidar algumas vezes e não conseguiu, o congelamento também é indicado”, explica Ramon Marcelino, endocrinologista especializado em Medicina do Estilo de Vida.

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Ele recomenda que mulheres conversem abertamente com os médicos sobre o desejo reprodutivo sempre, dos 16 aos 50 anos.

Congelar ou não? Eis a questão

Os especialistas consultados por CLAUDIA coincidem que o melhor período para congelar óvulos é entre os 30 e 35 anos. Depois disso, as chances de uma gravidez de sucesso lá na frente vão caindo. Uma mulher que faz o procedimento aos 39 anos, por exemplo, tem uma taxa de êxito de 15%. Ramon reconhece, no entanto, que há uma “grande pressão” e até uma “abordagem cruel” sobre as mulheres na oferta desse serviço.

A coisa do relógio biológico gera muita ansiedade. Mas nem toda mulher de 35 anos precisa congelar óvulos. Você não é um pedaço de carne com etiqueta de validade no mercado. Tenha paciência, não caia na conversa de quem quer congelar os óvulos de todo mundo”, alerta.

Já a ginecologista Lorrainy Rabelo, que recebe em sua clínica pacientes que antes não queriam uma gestação e passaram a desejá-la quando já era biologicamente tarde, recomenda o tratamento mesmo para quem não tem certeza de que quer ser mãe. “Ainda que essa não seja uma opção com garantia, é a alternativa mais segura para uma maior possibilidade de gestação no futuro com o patrimônio genético dessa paciente”, aconselha a médica.

Passados dois anos desde que fez o tratamento, Mayara Azevedo está segura de que tomou a melhor decisão. “Você não paga o seguro do carro pensando em bater ou ser roubada. O congelamento de óvulos segue a mesma lógica, é o meu back-up caso chegue aos 40 sem engravidar naturalmente”, conclui.

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