Como seu filho vê você
Novas pesquisas mapearam quatro estilos de ser mãe ou pai. Para 65% das crianças, pais não educam. Descubra, agora, como o seu filho vê você
O ideal é tentar dialogar mais com as crianças e abrir espaço para que elas possam se expressar sempre
Foto: Getty Images
Pai e mãe desejam o melhor para seus filhos, mas o fato é que a forma como foram criados e a situação emocional do casal influenciam, nem sempre para o bem, o tipo de educação que conseguem oferecer aos pequenos.
A psicóloga Lidia Weber, desenvolveu estudos sobre as diferentes maneiras de exercer a paternidade. Das enquetes, brotaram quatro principais perfis de pais: participativo, autoritário, permissivo e negligente. Em pesquisas feitas com mais de 10 mil estudantes de 8 a 17 anos no Sul desde 2005, Lidia descobriu que, na visão deles, ao menos 35% dos pais são presentes e dão limites, mas outros 35% são omissos. “São dados alarmantes, que mostram quanto andamos derrapando”, diz. A boa notícia é que há como se aprimorar na arte de transmitir valores, carinho e amor às crianças. Veja como:
35% são negligentes
Perfil: esses pais representam um problema e tanto. Quem não tem disposição de corrigir comportamentos inadequados ou de se dedicar aos filhos pode ter dificuldade para criar e manter vínculos afetivos, ou seja, entregar-se às relações e amar com intensidade. Mesmo quando ficam em casa, com a família, os desligados parecem não estar ali de corpo e alma – assistem televisão, falam ao telefone, fazem de tudo, menos interagir de verdade. Normalmente, até vêem as necessidades materiais dos pequenos, mas não a carência de afeto. Seu slogan é: “Agora não, estou ocupado”.
Como ficam os filhos: como não se sentem amados para valer, tendem a não se valorizar, o que vira sinônimo de baixa autoestima. Além disso, a falta de demonstrações de afeto e de uma presença mais marcante dos adultos é capaz de torná-los sérios candidatos a desenvolver depressão e distúrbios de ansiedade. É provável ainda que tenham dificuldade em manter relacionamentos caso acabem copiando, sem perceber, o modelo paterno ou materno.
A opinião dos especialistas: em primeiro lugar, esses pais devem tentar fazer parte da rotina das crianças e se interessar mais pela vida delas. Que tal conhecer os amigos, levá-las à escola e sugerir passeios? São boas maneiras de reforçar os laços afetivos.
35% são participativos
Perfil: fazem questão de estar presentes no dia a dia da criança e de expressar seu amor com afagos e elogios. Também sabem pôr limites: estabelecem regras, explicando-as de forma clara e, em alguns casos, até abrem espaço para a negociação, pois gostam de ouvir as ideias dos filhos. Transmitir valores faz parte do repertório deles. São pais que, por exemplo, não jogam lixo na rua, olham todos de igual para igual, independentemente da condição social, e, assim, ensinam atitudes de respeito e responsabilidade.
Como ficam os filhos: geralmente, têm facilidade para fazer amizade e lidar com as diferenças, pois aprenderam a considerar a opinião alheia. Também demonstram capacidade de se colocar no lugar do outro e tendem a ser afetuosos e sinceros. Além do mais, como ouviram alguns “nãos” necessários durante a infância, quando se tornam adultos entendem que a vida não é feita só de alegrias. Assim, conseguem passar por frustrações, inevitáveis para todo mundo, sem fazer disso uma tempestade.
A opinião dos especialistas: embora não exista uma receita para educar os filhos, a postura que combina participação, carinho e limites é apontada pelos especialistas como a mais adequada para uma formação saudável.
Você sabia que tanta paparicação pode deixar a autoestima do seu filho muito elevada?
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15% são permissivos
Perfil: esses pais não se sentem preparados para educar os pequenos e não têm certeza sobre as melhores atitudes a tomar em cada situação. Por isso, cedem à pressão do momento. Em geral, trabalham muito e, quando estão em casa, querem compensar a ausência com o excesso de mimos. Alguns passaram por privações na infância e desejam oferecer à família tudo o que não tiveram. Não é raro que deem o carro nas mãos do filho de 16 anos ou permitam que uma menina de 12 fique na rua até tarde.
Como ficam os filhos : tanta paparicação pode deixar a autoestima elevada até demais. Os pais devem tomar cuidado para não acabar, sem querer, criando indivíduos que se acham melhores do que os outros, o que dificulta as relações sociais e a evolução profissional no futuro. Afinal, quem se considera um suprassumo não costuma reagir bem a críticas, inevitáveis no mundo do trabalho e nos relacionamentos. A falta de regras de conduta é capaz ainda de fazer com que não respeitem o espaço alheio nem sejam responsáveis.
A opinião dos especialistas: antes de tudo, esses pais precisam trabalhar a culpa de não poder estar sempre em casa pilotando a vida das crianças. “É muito comum que eles tenham a sensação de que não devem disciplinar os filhos no pouco tempo de que dispõem”, afirma Tânia Zagury. “O problema é que assim acabam não preparando as crianças para enfrentar a vida”, alerta a psicóloga Maria Cristina.
15% são autoritários
Perfil: controlam com mão de ferro a rotina da casa, ditam regras e gostam de mandar mesmo nas horas de lazer. Se a família vai almoçar fora, eles escolhem o restaurante e até o prato de cada um sem perguntar se todos estão de acordo. Beijos e abraços são raros, pois imaginam que as demonstrações de afeto “estragam” os pequenos. Suas frases favoritas são: “Você vai fazer isso porque estou mandando” e “Engula esse choro agora”. Foram educados assim e pretendem repetir o modelo com a nova geração por acreditar que, se funcionou para eles, vai dar certo de novo.
Como ficam os filhos: em geral, tendem a ser submissos, já que temem as poderosas figuras paternas, e podem ter dificuldade em soltar as asas e deixar fluir a criatividade. Outra possibilidade é se tornarem pessoas bastante tímidas. Aqueles que assimilam a cara feia dos pais correm o risco de ficar agressivos, brigando com todo mundo – primeiro na escola e depois, já mais velhos, no trânsito, no trabalho, com a mulher, os filhos…
A opinião dos especialistas: essa atitude pede ajustes urgentes. O ideal é tentar dialogar mais com as crianças e abrir espaço para que elas possam se expressar. Vale a pena também investir em carinhos e elogios. Outro ponto importante é repensar as exigências. “Quando os limites são colocados como barreira, atrapalham a conquista da autonomia, colaborando para a formação de pessoas com pouca iniciativa”, adverte o filósofo e educador Mario Sergio Cortella.