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Carga Mental: Mulheres ficam esgotadas por tarefas invisíveis

Elas precisam planejar e coordenar as tarefas do lar, além de muitas vezes pedir aos maridos para que façam algo – e isso cansa

Por Lorraine Moreira
Atualizado em 5 abr 2024, 17h48 - Publicado em 5 abr 2024, 08h54
Mulher cansada em mesa de escritório
Carga mental esgota mulheres (Andrea Piacquadio/Pexels)
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Mesmo em lares onde as tarefas são dividas de maneira equivalente, é comum a mulher acabar sobrecarregada por realizar a maior parte do trabalho de gerenciar a família. Embora alguns homens entendam sua corresponsabilidade no cuidado do lar e das crianças, geralmente eles precisam receber ordens do que e como fazer, gerando uma carga mental às parceiras.

As mulheres, o trabalho doméstico e a carga mental

Se no mundo dos negócios os homens ainda detêm o poder e ditam as regras, em casa a dinâmica é bastante diferente. Planejar, organizar e tomar as decisões relacionadas ao lar e às crianças geralmente ficam nas mãos das mulheres.

Elas programam, preveem erros e tomam conta de todas as interações entre as partes. Tudo isso enquanto cozinham, limpam, educam e trabalham fora de casa.

Parcela dos homens está preocupada em participar da divisão de tarefas, é verdade, mas a maioria apenas executa as ordens que, muitas vezes, devem ser verbalizadas mais de uma vez e de forma convincente. O resultado é a necessidade delas gerenciaram famílias inteiras.

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Não é exagero dizer que esse trabalho invisível e, ao mesmo tempo, fundamental para o bom funcionamento da casa incentiva mulheres a pararem de trabalhar apenas quando dormem. Afinal, elas precisam criar a lista de compras do mercado, conferir se as crianças estão comendo adequadamente, assegurar que os maridos vão fazer suas funções de maneira correta e mais uma porção de coisas que sequer cabem neste parágrafo.

É nesse lugar que surge a carga mental, um esforço mental e intelectual para organizar todos os compromissos da dinâmica familiar.

O que é carga mental?

Carga mental é o cansaço em decorrência do trabalho invisível de gerenciamento das tarefas domésticas. O assunto começou a ser falado nos anos 1970, graças à escritora Silvia Federici. De lá para cá, pesquisadoras e feministas aperfeiçoaram o tema, que ficou popular nas redes sociais depois que um artigo do The Guardian, da colunista Jess Zimmerman, viralizar.

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Na década de noventa, a socióloga Susan Walzer pontuou a carga mental das mulheres, principalmente depois de passarem pela maternidade. A especialista descobriu que elas fazem a maior parte do trabalho intelectual e emocional na criação dos filhos e na organização da casa.

Mulher cansada e deitada na cama
Carga mental afeta psicologicamente as mulheres (Andrea Piacquadio/Pexels)

As consequências da carga mental

Esse trabalho mental permite à família seu funcionamento, mas é extremamente desgastante em níveis emocionais.

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Aqui, vale o destaque: a divisão do trabalho doméstico é desigual. Segundo o relatório desenvolvido pela Oxfam em 2020, 90% do trabalho de cuidado no Brasil é feito informalmente por famílias e, desses 90%, quase 85% é responsabilidade de mulheres.

Em solo brasileiro, de acordo com dados do IBGE referentes a 2022, as mulheres dedicam 9,6 horas a mais que os homens nos afazeres domésticos e/ou cuidados de pessoas.

Essa configuração, logicamente, traz problemas a elas. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as mulheres estão mais expostas a riscos de saúde mental pela sobrecarga física e mental decorrente dessa dinâmica.

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“Contar com uma rede de apoio é fundamental para a saúde da mulher. Não somente pelo alívio dessa sobrecarga que vivemos, mas também para essa mulher se sentir acolhida e pertencente ao seio familiar e não somente uma peça que funciona muito bem dando conta de tudo”, pontua a terapeuta familiar Lilian Ferreira (@terapeutalilianferreira).

Mas isso implica não só na saúde física e mental delas, como também na financeira: sobra menos tempo para se profissionalizar.

O impacto da carga mental para as finanças pessoais das mulheres

Quando a mulher precisa estar à frente de todas as tarefas domésticas, possui pouquíssimo tempo para cuidar das finanças ou investir na própria carreira.

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“É impossível falar sobre finanças sem fazer esse recorte de gênero”, afirma Bruna dos Santos (@eibrunadossantos), mentora financeira de mulheres. As mulheres, em geral, ganham menos, porque, dentre outros fatores, têm menos tempo disponível para se dedicar a atividade remunerada, uma vez que, em comparação aos homens, dedicam o dobro de tempo nas tarefas domésticas e de cuidado com a casa e os familiares, explica a especialista.

“Sobra muito menos grana disponível, quando sobra, para a realização de sonhos e construção de patrimônio ao longo da vida, o que gera uma enorme frustração e afeta sua carreira, relação consigo mesma, relacionamentos amorosos e familiares”, continua a profissional.

“O peso do cuidar reverbera em todos os âmbitos da vida”, pontua Bruna. “Inserida em um contexto de sobrecarga, esgotamento e excessiva cobrança, como ter energia para olhar para as finanças? Assim como problemas financeiros afetam nossa saúde mental, podendo desencadear irritabilidade, estresse, ansiedade, dor muscular e insônia, o inverso também acontece”, acrescenta.

“É humanamente impossível dar conta de todas as tarefas com total entrega. Precisamos sair desse lugar e começarmos a aplicar o ‘fiz o que pude’, respirar e seguir”, acrescenta a terapeuta.

Os homens precisam aprender a fazer o trabalho doméstico sem a supervisão de mulheres

O debate sobre a necessidade da divisão de tarefas mais justa existe, e homens que concordem com a necessidade de mudança na distribuição de responsabilidades também. A mulher precisar ensinar e conferir se tudo está saindo como deve, porém, é bastante cansativo. Não dá mais para só elas perceberem isso – especialmente em tempos onde é possível pesquisar como realizar tarefas no Google ou mesmo anotar na agenda do celular os compromissos enquanto pai e morador de uma casa.

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