As mulheres, os homens e o cuidado como parte da economia
Como o trabalho muitas vezes invisível de mulheres move 11% do PIB nacional
Quando imaginamos alguém fazendo faxina, cuidando de idosos ou educando crianças, qual é o gênero da pessoa que vem à mente? E quando vemos a cena, ao vivo, em geral, é um homem ou uma mulher? Segundo o relatório desenvolvido pela Oxfam em 2020, 90% do trabalho de cuidado no Brasil é feito informalmente por famílias e, desses 90%, quase 85% é responsabilidade de mulheres.
De acordo com um cálculo realizado pela professora de economia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos do Trabalho (Abet), Hildete Pereira de Melo, 11% do PIB brasileiro seria o tamanho da economia do cuidado, caso esse trabalho fosse remunerado. A pesquisa, toda feita com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra o valor dos afazeres domésticos, conhecidos como trabalho não remunerado.
É a partir dos anos 1970 que a presença feminina no mercado de trabalho começa a crescer. De acordo com dados do IBGE, o número de mulheres ativas profissionalmente saltou de 18%, naquela década, para os atuais 50%. Nesse cenário, temos as questões que nos desafiam hoje. Se elas estão trabalhando, quem cuida dos filhos? Das casas? Dos pais idosos?
Culturalmente, em diversos países, especialmente no Brasil, o trabalho doméstico é visto como uma obrigação exclusivamente feminina. Com a chegada da mulher ao mercado profissional, criou-se essa dupla jornada que a vasta maioria das mulheres em diferentes classes socioeconômicas enfrenta hoje.
A definição do que é essa tal economia do cuidado ainda é um pouco nebulosa. O termo nasceu em 1993, mas o conceito começou a ser estudado ainda nos anos 1980, no Canadá, com a cientista política Joan Tronto. Na época, a pesquisa apontou que mesmo o trabalho muitas vezes não remunerado de mulheres, em sua maioria, também é trabalho e faz a roda da economia girar.
Basicamente, está dentro da economia do cuidado tudo que é definido como atividade desempenhada a prestar serviço à satisfação e necessidade do outro, além da criação e desenvolvimento de crianças e jovens. Essencialmente, estamos falando da responsabilidade, ainda muitas vezes exclusiva de mulheres, em relação à casa e aos filhos. É uma discussão econômica, mas também, majoritariamente, uma questão de gênero.
O trabalho doméstico pode ser um ciclo sem fim. A coordenação logística e preparo da alimentação, a limpeza, a educação infantil, o cuidado dos idosos podem levar uma mulher, já exausta de sua função profissional, a ter problemas de saúde, tais como pressão alta e síndrome de burnout.
Os primeiros passos já foram dados para que a discussão fundamental sobre a equidade de gêneros seja pautada pela sociedade e que as primeiras mudanças estejam num horizonte próximo, mas sabemos que ainda há um longo caminho a ser percorrido e o importante é dar cada dia mais voz e relevância para esses temas.
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