Por que as academias não devem ser reabertas durante a pandemia
A inclusão das academias entre os serviços essenciais durante o isolamento social pode trazer riscos à saúde e facilitar a transmissão do coronavírus
No dia 11 de maio, o presidente Jair Bolsonaro editou um novo decreto que incluía academias na lista de serviços essenciais que podem funcionar durante o período de quarentena, em meio à pandemia do novo coronavírus. A decisão pode trazer riscos à saúde de quem frequenta esses ambientes por facilitar a transmissão do vírus.
Renato Grinbaum, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), afirma que a medida é “totalmente equivocada”, levando em conta que a reabertura das academias aumentará a circulação de pessoas em ambientes fechados. “O problema é a respiração. As pessoas na academia conversam e respiram pesadamente o tempo todo, fazendo com que as gotículas atinjam os aparelhos, principalmente as barras de manipulação”, explica o médico. “Além disso, as academias têm bebedouros coletivos, o que é uma coisa inaceitável. Usar o mesmo bucal é inaceitável.”
Na visão de Grinbaum, as academias precisam se organizar para a reabertura — que, na opinião dele, deve demorar para acontecer — e retirar bebedouros coletivos, evitar aglomeração nos horários de picos e disponibilizar álcool em todos os aparelhos, para que os usuários façam higienização contínua.
Além disso, os alunos das academias devem tomar cuidados pessoais. “Uma pessoa que ficar resfriada não poderá ir à academia. Além disso, deve ser mantido distanciamento uns dos outros, usar o braço para cobrir a boca ao tossir e espirrar e higienizar as mãos com muita frequência. São regras simples que ajudam muito a saúde de todos”, finaliza.
É necessário pensar no coletivo
A decisão de Bolsonaro dividiu opiniões dos profissionais de educação física. Muitos, por serem autônomos e dependerem do serviço presencial para gerarem renda, defendem a reabertura. Outros, acham que existem outras formas de praticar exercício físico e ganhar renda mesmo sem frequentar academias.
É o caso do personal trainer Gustavo Ynouye, de 30 anos. Ele é contra a reabertura das unidades. “Acredito que as estruturas das academias hoje não estão preparadas para assumir o retorno, tanto na parte de gestão, quanto de organização”, opina. “As pessoas vão voltar a frequentar a academia com horários de aglomeração e, mesmo com higienização adequada, o uso de máscara não é recomendado na prática de atividade física, porque pode acarretar na dificuldade de respiração”, explica.
Na opinião de Ynouye, como um professor de educação física, é preciso zelar pela saúde, a própria e a dos outros. “Vejo os colegas de profissão que são favoráveis à reabertura. Eu até entendo que exista uma preocupação profissional e financeira, porque somos autônomos, precisamos disso para trabalhar, mas existem outros recursos”, opina.
O professor, por exemplo, está dando aula aos seus alunos através de videochamada, assim como tantos outros profissionais das mais diversas áreas. Em seu perfil no Instagram (@_gustavo_personal), ele também passa opções de treinos possíveis de serem feitos em casa.
“Acima do profissional e do financeiro, temos que pensar no coletivo”, declara. “Nossa preocupação tem que ser na saúde dos nossos alunos, dos nossos funcionários e na nossa própria. [Ao reabrir as academias] vamos estar expostos com outras pessoas. Acabamos atendendo vários alunos por dia, um atrás do outro, ficamos mais expostos”, finaliza.
Todas as mulheres podem (e devem) assumir postura antirracista