Perfeccionismo é qualidade ou defeito? Entenda
Para algumas pessoas, as conquistas não podem ser apenas boas: elas devem ser as melhores
Ser uma pessoa perfeccionista nem sempre é sinônimo de sucesso, como muitos podem acreditar. Aliás, a busca excessiva pela perfeição pode trazer justamente o contrário. Claro que, enquanto seres humanos, é comum que nos importemos com as coisas que planejamos (daí a vontade de fazer o melhor). Porém, a partir do momento que isso se torna uma necessidade constante, as coisas podem ficar um tanto complicadas.
“Esse é um traço que costuma ser bastante valorizado no trabalho, mas não podemos esquecer que o perfeccionismo vem com um custo enorme. Sabe aquela frase: ‘O ótimo é inimigo do bom’? É justamente sobre isso. Às vezes, na tentativa de melhorar algo que já é positivo, a pessoa perde energia de forma desnecessária. É maravilhoso para quem recebe um projeto extremamente bem feito, mas traz consequências para a nossa saúde mental”, explica Danielle Admoni, psiquiatra e preceptora na residência da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM).
De onde vem o nosso perfeccionismo?
Apesar dessa ser uma questão bastante particular, Danielle aponta que, de forma geral, o perfeccionismo nasce de uma ansiedade exacerbada. “As pessoas fantasiam controlar tudo. Elas acham que, se fizerem as coisas de uma determinada maneira, tudo sairá como planejado. Isso é uma grande ilusão, pois estamos constantemente lidando com imprevistos”, afirma.
Outro traço que potencializa o nosso senso de autocobrança é a baixa autoestima. “Há quem seja elogiado por uma determinada ação e, por já não se sentir bom o suficiente, passa a viver em função deste reconhecimento”, esclarece.
Daí vem aquela situação clássica de procrastinação e falta de ânimo para realizar até mesmo as tarefas mais simples. “Gastamos tanta força planejando e idealizando conquistas que, na hora de realmente tirá-las do papel, não conseguimos.” Aliás, em casos mais graves, a dificuldade em aceitar resultados “comuns” ou “ordinários” pode levar a quadros de ansiedade e depressão gravíssimos.
Não deveríamos ter medo do “ordinário”
Para além da ansiedade e baixa autoestima, a psicóloga Mônica Machado nos relembra que a busca exaustiva pela perfeição esconde uma vaidade (comum a todos nós): “Achamos que não podemos errar nunca. O único problema é que são os erros que proporcionam alguns de nossos maiores acertos na vida”, declara.
Pensando nisso, a profissional propõe uma reflexão: qual é o problema em nos desenvolvermos de acordo com as nossas próprias capacidades? Quando não nos permitimos ser apenas ordinários (no melhor sentido da palavra), estamos nos impedindo de construir uma identidade singular. “Entramos num ciclo de copiar algo ou alguém, sendo que o ideal seria apenas nos inspirarmos no próximo. Mas isso definitivamente não vem acontecendo”, diz.
Ela finaliza nos alertando que o sistema social competitivo que estamos inseridos é repleto de padrões e, portanto, não leva em consideração a essência de cada um. “Não deveríamos copiar ou ser copiados, mas sim, evoluir por nós mesmos.”