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Alzheimer afeta mais mulheres que homens; entenda

Doença acomete duas vezes mais mulheres que homens, um fenômeno ainda sem explicação. Falar sobre essa diferença é o começo

Por Fernanda Bassette
Atualizado em 23 jan 2024, 10h17 - Publicado em 19 jan 2024, 10h50

Primeiro é o nome de uma amiga querida que é esquecido. Em seguida, a pessoa está empurrando o carrinho de compras e não consegue mais se lembrar o que queria do mercado. Então aparecem as histórias repetidas: sempre os mesmos episódios, contados da mesma forma, sem notar que o interlocutor já ouviu aquele causo algumas vezes. O que será que está acontecendo? Fazer confusão com nomes, datas e atividades é inevitável, acontece com todo mundo. Mas apresentar esses sintomas repetidamente, de forma que atrapalhe a independência na rotina, pode ser um sinal de alerta para a saúde mental: pode ser a doença de Alzheimer.

Os números impressionam: estima-se que ao menos 1,8 milhão de pessoas vivam com algum tipo de demência no Brasil. Com o envelhecimento da população, a previsão é ainda mais alarmante: acredita-se que até 2050 esse número atinja 5,5 milhões de pessoas.

Entre elas, a doença de Alzheimer é a mais frequente. Trata-se de um transtorno neurodegenerativo progressivo que se manifesta especialmente na deterioração das funções cognitivas, incluindo a memória.

O Alzheimer tem uma característica própria, que pouca gente conhece: ele afeta muito mais mulheres. Estima-se que seja quase duas vezes mais frequente nelas do que nos homens — ou seja: a cada três pessoas diagnosticadas, duas serão mulheres. Apesar de comum, a doença ainda é pouco discutida no universo feminino.

Sombra de uma mulher observando um álbum de fotos em branco
O esquecimento frequente não é natural (Julia Jabur/CLAUDIA)

Historicamente, questões de saúde da mulher focam mais em doenças do aparelho reprodutor e mamas do que em outras enfermidades.

De fato, um estudo conduzido pelo Coletivo Weber Shandwick analisou menções sobre o Alzheimer nas redes sociais e na imprensa e encontrou 231 mil menções a ele, mas somente 3.500 delas eram atreladas às mulheres. Em comparação, havia mais de 190 mil menções ao câncer de mama.

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“Ainda enfrentamos preconceito quando falamos de saúde mental. É diferente de falar de uma doença física, como o câncer de mama”, diz o neurologista Rodrigo Schultz, presidente da Associação Brasileira de Alzheimer.

A geriatra Claudia Suemoto, professora da Faculdade de Medicina da USP e coordenadora do Banco de Cérebros da universidade, concorda: “Muita gente ainda acredita que ter um idoso com problemas de memória em casa faz parte do envelhecimento normal, mas não faz”.

Por que o Alzheimer afeta mais as mulheres?

A ciência ainda não tem uma resposta definitiva para essa pergunta. Há uma série de potenciais razões sociais, genéticas e biológicas para tentar explicar por que as mulheres têm mais Alzheimer do que os homens.

Um dos argumentos mais repetidos é que essa discrepância ocorreria por elas viverem mais do que eles — o avanço da idade é um fator de risco e há um aumento exponencial de casos com o passar dos anos.

A prevalência é de 3% acima dos 65 anos, e esse valor dobra a cada cinco anos. Assim, uma pessoa com mais de 90 anos tem em torno de 40% de risco de desenvolver a doença.

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Pessoa observando o próprio olho em uma colher
Cerca de 5,5 milhões de pessoas vão conviver com algum tipo de demência até 2050 (Julia Jabur/CLAUDIA)

“No entanto, várias pesquisas foram feitas ajustando a idade, com homens e mulheres da mesma faixa etária, e ainda assim elas continuam tendo mais Alzheimer do que eles”, afirmou a professora Suemoto.

Há outras possíveis hipóteses além do envelhecimento feminino. Uma delas é o acúmulo de reserva cognitiva — que é a reserva cerebral construída ao longo da vida por meio da neuroplasticidade (capacidade do cérebro formar novos neurônios e aumentar a conexão entre eles). 

De maneira simplificada, quanto maior a reserva cognitiva, mais o cérebro suportaria as lesões causadas pelo Alzheimer. Segundo Suemoto, uma das maneiras mais importantes de criarmos reserva cognitiva é estudando.

“Mas em muitas sociedades existe uma desigualdade entre o acesso à educação entre homem e mulher. Mesmo onde existe o acesso, a educação delas nem sempre é valorizada”, explicou. 

“Há diferenças de gênero em relação ao trabalho. Cargos cognitivamente estimulantes requerem habilidades mais qualificadas. Muitas mulheres acabam em ocupações que não exigem qualificação e são menos desafiadoras. No Banco de Cérebro da USP, boa parte da amostra é de mulheres que eram donas de casa. E ser dona de casa não é uma atividade cognitivamente estimulante”, destacou.

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Segundo a médica geriatra Ana Cristina Canêdo Speranza, diretora científica da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), uma terceira hipótese está nas alterações hormonais das mulheres na menopausa.

Em meio às flutuações de hormônios típicas do climatério e da menopausa existe um forte impacto sobre o funcionamento cerebral, que repercute na memória, humor e comportamento. “Mulheres que entram na menopausa mais cedo têm risco maior de ter demência do que as que entram mais tardiamente”, diz Canêdo.

Pés negros em um calçado
Medidas específicas para proteger as mulheres contra o Alzheimer devem ser pensadas (Julia Jabur/CLAUDIA)

E quem vai cuidar das mulheres com Alzheimer?

Mas o impacto do Alzheimer sobre a vida das mulheres vai além da mera doença. No Brasil, 82% dos cuidadores de pessoas que têm Alzheimer ou outras demências são justamente… mulheres.

“Elas não são apenas a maioria das pacientes, são a maioria dos cuidadores. E entre cuidadoras, cerca de dois terços desenvolvem algum transtorno de saúde mental por causa da sobrecarga e do estresse”, afirmou Schultz.

Para Canêdo, diante desse cenário, é preciso pensar em estratégias de prevenção que sejam sexo-específicas. “Se a gente sabe que as mulheres têm duas vezes mais risco, talvez devêssemos implementar ações de prevenção exclusivamente voltadas para elas. Precisamos levar essa discussão para a sociedade”, diz. 

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Como prevenir o Alzheimer

– Praticar atividades físicas

– Ter uma alimentação saudável

– Conviver com amigos e familiares

– Estudar

– Tratar a depressão

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– Cuidar da saúde auditiva

– Ficar em ambientes silenciosos

– Não fumar

– Cortar o álcool

– Controlar a pressão arterial

– Controlar o diabetes

– Perder peso

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