Testamos os absorventes de algodão orgânico e embalagens biodegradáveis
Marca brasileira Amai desenvolveu modelos para acompanhar as mulheres em todo o fluxo
Há algum tempo, sentia um leve desconforto no final do meu período menstrual. Tentei me adaptar ao copinho coletor, mas não deu certo. Além das calcinhas menstruais de boa qualidade disponíveis no mercado, queria uma opção de absorvente “tradicional” que não agredisse a minha pele. Conversando com uma amiga, descobri os modelos sustentáveis da Amai, marca nacional recém-lançada no mercado com uma proposta interessante de autocuidado. No ciclo seguinte, acabei usando todos os formatos oferecidos: fluxo intenso, normal e dia a dia (aquele menorzinho). Os dois primeiros funcionaram superbem de acordo com a minha menstruação, sem vazar ou me incomodar. O último já não usava muito, então não fez tanto sentido para mim, mas é eficiente igual aos outros.
Curiosa (e jornalista) que sou, fui conversar com uma das criadoras para entender como tudo isso aconteceu. Amigas e colegas de profissão há 12 anos, Erika e Luri deixaram o mundo corporativo pouco antes da pandemia para investir em soluções sustentáveis. A primeira ideia era criar uma empresa de moda circular, mas, por conta da Covid-19, os planos morreram na praia. Durante o isolamento social, Luri compartilhou suas dores e alergias em relação aos absorventes comuns – reclamações bastante similares às minhas. “Nessa vontade de consumir cada vez mais produtos responsáveis com o meio ambiente, descobrimos que os modelos tradicionais são feitos de até 90% de plástico e componentes tóxicos que podem causar danos à saúde íntima”, conta Erika à CLAUDIA. Foi aí que surgiu a ideia da marca: elaborar um absorvente que fosse prático, confortável e sustentável.
A tarefa, claro, não foi nada fácil. Empenhadas em fazer o melhor possível pensando nas pessoas que menstruam, elas realizaram por um longo período de pesquisas das mais diversas para chegarem ao resultado atual. Conversas com um possível público alvo ficaram cada vez mais profundas até elas entenderem as necessidades macro. Feitos de algodão orgânico certificado, bioplástico à base de plantas que se biodegrada em menos de 6 meses e adesivos não tóxicos, os absorventes da marca são, de fato, macios e respiráveis. “Queríamos fazer algo que fosse seguro e gentil com o corpo das pessoas, sem deixar de lado o desempenho do produto e a consciência ambiental. Porém, mais do que saber a composição deles, queremos que as consumidoras saibam o que não tem: cloro, fragrâncias e corante”, aponta Erika.
A fabricação contempla produção das matérias-primas, depois do absorvente em si e, por fim, testes de qualidade (nenhum feito em animais, vale ressaltar). “Somos muito preocupadas com a produção das matérias-primas para que sejam rastreáveis e com práticas ambientais e sociais adequadas. Até por isso usamos algodão orgânico certificado pelo Global Organic Textile Standards (a produção do algodão é a que mais usa agrotóxicos no mundo)”, esclarece ela. É uma máquina de alta tecnologia que combina todos os componentes e forma um absorvente, sem que haja contato humano nenhum. “Assim, garante-se a higiene do produto.” Com todos os testes de qualidade e certificação da Anvisa, os produtos da Amai são também dermatologicamente testados e hipoalergênicos.
Fazer os absorventes da maneira mais sustentável e consciente possível interfere também no valor final. Equiparando com os tradicionais, a Amai tem produtos mais caros, que chegam até R$ 45 a caixa com oito versões do noturno. Sim, pode assustar, de fato, mas Erika explica: “Uma pessoa gasta em média R$2 por dia do mês para ter uma menstruação tranquila e saudável com a Amai. A partir do momento que temos um produto que não prejudica o nosso corpo (sem toxinas maléficas ao corpo, sem alergias e sem desconfortos de usar uma “fralda”) e nem o meio ambiente, mudamos a nossa percepção do custo e entendemos que é um valor justo em prol de nós mesmas, da nossa saúde e do planeta”. Ainda assim, é compreensível, dentro do contexto socioeconômico brasileiro, que gastar esse valor numa caixa de absorvente soe um tanto desconexo. Mas, de novo, se for uma realidade possível para o seu orçamento e mesclada com outras alternativas sustentáveis, não há porque não investir.
Inclusive, para que itens de saúde íntima com qualidade para pessoas com vulva sejam acessíveis, precisamos, de uma vez por todas, normalizar a troca e o debate a respeito da menstruação. “Quanto mais nos calamos sobre esse assunto, menos melhorias, inovações, condições básicas de higiene nós temos para vivenciar a menstruação de uma forma saudável e sem preocupação”, defende Erika. Segundo ela, três frentes de atuação ajudariam (e muito) no avanço para conseguirmos que todas as pessoas menstruantes tenham garantido o básico da saúde íntima: abordar o tema no currículo escolar, atuação do RH nas empresas e a normalização do tópico com as pessoas por meio das redes sociais. “As lideranças e formadores de opinião são quem disseminam a mensagem, quem gera conscientização e, por isso, podem ajudar ensinando e incentivando as pessoas a aprenderem mais sobre menstruação.” Tudo com muito cuidado e apuração, claro. Mas que precisamos conversar sobre isso, precisamos.