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A importância do acompanhamento clínico na saúde mental

Estigmas, preconceitos e acesso são alguns dos desafios no cuidado da saúde mental

Por Malu Pinheiro
Atualizado em 25 set 2023, 09h48 - Publicado em 25 set 2023, 09h08

Muitos fatores interferiram para o aumento da visibilidade do tema da saúde mental – o aumento da leitura de livros que permeiam o assunto, filmes e séries que trazem a questão para seu enredo e, claro, a pandemia do coronavírus que fez com que o mundo parasse (literalmente) e desse atenção ao bem-estar da mente. Mas, ainda assim, a saúde mental continua sendo atravessada por estigmas e desafios. E talvez o principal deles seja a crença de que buscar ajuda é sinal de fraqueza. 

Para Larissa Fonseca, psicóloga e Membro da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP), um dos principais desafios é a cultura que se enraizou na sociedade de que precisamos resistir sozinhos. “Isso também se relaciona com o processo de educação familiar, quando amigos e familiares desvalorizam a angústia e diminuem as dores relacionadas aos problemas emocionais”, acrescenta. Segundo Larissa, ignorar e ‘engolir’ o sofrimento faz com que o adoecimento seja ainda maior. 

A disponibilidade de profissionais é outra questão importante: sobretudo quando falamos de terapia. “Nem sempre os tratamentos são acessíveis, pode haver dificuldade em conseguir logo um profissional pelo plano de saúde e a rede pública ainda é bastante limitada”, acrescenta Daniel Martins de Barros, psiquiatra e professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP e autor do livro “Rir é Preciso” (Editora Sextante). Além disso, a falta de informação sobre os benefícios do acompanhamento clínico contribui para a perpetuação desse tabu.

A saúde mental como foco

A pandemia do Covid-19 foi um momento de estresse para todo mundo – e um dos temas que ganhou destaque foi a saúde mental, afinal o isolamento afetou muitas pessoas nesse sentido. Para Larissa, o momento fez com que cada um tivesse que passar a conviver mais consigo mesmo e, assim, prestar atenção em dores e desconfortos antes ignorados. “As pessoas precisaram ficar sozinhas e a falta de interação acentuou questões pré-existentes”, diz. 

A partir disso, houve um aumento de demanda pela saúde mental, tanto por pessoas que adoeceram em função da ansiedade como por conta da maior atenção dada ao tema “As empresas evoluíram nesse sentido, oferecendo mais frequentemente programas de bem-estar e atenção psicológica. E nos tornamos mais cientes das importâncias de comportamentos saudáveis como sono, atividade física, descanso”, acrescenta Daniel. 

Mesmo com o fim da pandemia, parece que a atenção ao tema veio para ficar (e que bom). As emoções não são lineares e, segundo o psiquiatra, devemos ficar atentos quando os sentimentos negativos se instalam. “Quando a tristeza, o medo e a desconfiança vêm e não vão mais embora é preciso ligar o alerta. Isso geralmente traz sofrimento no dia a dia e a pessoa não consegue melhorar só por força de vontade. O tratamento precoce pode evitar o agravamento do quadro e tornar mais fácil e rápida a recuperação”, completa.

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Terapia online
Terapia, mesmo que online, e suporte são essenciais para a saúde mental. (Maskot/Getty Images)

Benefícios do cuidado com a saúde mental

Quando a pessoa já tem um diagnóstico, seja ele de depressão, transtorno ansioso ou outro, o acompanhamento clínico é essencial para a recuperação ser mais rápida e efetiva. “Mas, mesmo antes de adoecer, quando a pessoa nota alguma dificuldade, um estresse mais elevado, eventualmente uma ansiedade mais constante ou tristeza mais frequente, abordar esse sofrimento pode ser importante para evitar o adoecimento, mantendo a saúde mental e promovendo o bem-estar”, diz Daniel.

Larissa reforça que conviver de forma equilibrada e saber como balancear as emoções e situações do dia a dia são aprendizados da psicologia. “Uma pessoa com ansiedade, por exemplo, quando percebe situações desconfortáveis desenvolve, em terapia, alternativas para enfrentar os próprios pensamentos e lidar com resiliência às situações adversas.” 

O acompanhamento clínico e o tratamento psicológico da saúde mental refletem diretamente no bem-estar emocional – e promove o desenvolvimento da inteligência mental, melhora da autopercepção, autoestima, gerenciamento do estresse, relacionamentos saudáveis e outros.

Há muitos caminhos para iniciar o cuidado com a saúde mental. Os psicólogos têm diversas técnicas disponíveis para ajudar, com linhas terapêuticas diferentes e muitas vezes mais indicadas para situações distintas. Daniel lembra também os terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos, que podem ajudar em dificuldades específicas que também trazem sofrimento “E, claro, os médicos são fundamentais: não apenas os psiquiatras, que obviamente podem ser essenciais, mas mesmo os clínicos gerais, médicos de família e ginecologistas. Eles devem estar preparados para acolher e iniciar o tratamento de pacientes em sofrimento emocional”, aponta.

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Acessos aos cuidados com a saúde mental

Por fim, um grande desafio que merece destaque é a disponibilidade limitada de profissionais de saúde mental, especialmente quando se trata de terapia. Muitas vezes, as pessoas enfrentam dificuldades para encontrar um profissional que esteja disponível através do sistema de saúde pública ou mesmo por meio de planos de saúde. Isso resulta em longas listas de espera e, em alguns casos, na impossibilidade de receber tratamento imediato. 

No entanto, é importante lembrar que existem recursos acessíveis, como atendimento em universidades e serviços de voluntários, que podem ser cruciais para aqueles que buscam apoio para sua saúde mental. A Universidade de São Paulo, por exemplo, oferece diferentes tipos de auxílio e o Plantão de Acolhimento Psicológico proporciona escuta e cuidado em momentos emergenciais. A Clínica Psicológica “Ana Maria Poppovic” da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo proporciona serviços clínicos abrangentes e abertos a indivíduos de todas as faixas etárias, incluindo diagnóstico, aconselhamento e psicoterapia com base em várias abordagens teóricas.

Vale também lembrar o trabalho do Centro de Valorização da Vida (CVV), que realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias.

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