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A doença que atinge 1 milhão de brasileiros e que quase ninguém conhece

Entenda a Urticária Crônica Espontânea (UCE), problema que é duas vezes mais comum em mulheres do que em homens.

Por Júlia Warken
Atualizado em 16 jan 2020, 13h44 - Publicado em 24 Maio 2018, 18h47
Women scratch itch with hand. Woman scratching her arm healthcare concept. (kirisa99/ThinkStock)
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Você já ouviu falar da urticária crônica espontânea (UCE)? Provavelmente não, já que 91% dos brasileiros a desconhece, segundo uma recente pesquisa da Ipsos, que entrevistou 1.200 pessoas em 72 municípios. Por conta disso, grande parte das pessoas com UCE sofre durante anos sem entender o que está se passando. Estima-se que a doença atinge 1 milhão de brasileiros e ela é duas vezes mais comum em mulheres do que em homens.

Como os outros tipos de urticária, essa é uma doença dermatológica, que causa coceira. Ela também ocasiona lesões vermelhas e pode se manifestar em qualquer região da pele. Um detalhe curioso é que as lesões “movem-se” de lugar – começam num pedaço de pele, desaparecem e surgem noutro. Outro sintoma é o inchaço na boca e nos olhos.

A UCE é uma doença autoimune e os cientistas ainda não conseguiram descobrir o que de fato a desencadeia. Existem, porém, alguns agentes que ajudam a fazer com que ela se manifeste – como bebidas alcoólicas, corantes e conservantes alimentares e certos tipos de medicamento.

Por ocasionar manchas vermelhas bem visíveis, o aspecto da pele de quem UCE pode assustar e muita gente acredita que a doença é contagiosa, mas isso não é verdade. Apesar de não ser perigosa, a UCE causa um enorme incômodo – tanto pela coceira quanto pelo aspecto estético – e afeta a auto-estima das pessoas. Mas ela tem cura e é tratada com o uso de anti-histamínicos.

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Para entender melhor a urticária crônica espontânea, a gente conversou com o médico Paulo Ricardo Criado, que é dermatologista, professor de Dermatologia pela FMUSP e pesquisador pela Faculdade de Medicina do ABC.

MdeMulher – Por que essa doença afeta mais mulheres do que homens?

Paulo Ricardo Criado – Realmente há uma maior ocorrência da urticária no gênero feminino, em relação ao masculino. Não há dados científicos específicos em relação à urticária, porém as doenças auto-imunes geralmente são mais comuns no gênero feminino. Sendo assim, a urticária crônica espontânea, que na maioria dos doentes é em essência auto-imune ou auto-reativa, provavelmente acomete mais o gênero feminino devido a esta relação com a maior frequência de auto-imunidade entre as mulheres. O mesmo ocorre com o hipotireoidismo, por exemplo.

Alguns hábitos podem desencadear ou prevenir a doença?

PRC – Alguns fatores podem atuar como desencadeantes ou agravantes da urticária. Em crianças as infecções virais ou bacterianas podem estar envolvidas no desencadeamento da urticária aguda ou agravo de uma urticária crônica já existentes. Corantes alimentares, conservantes de alimentos enlatados ou embutidos, medicamentos anti-inflamatórios não-hormonais podem agravar o curso da urticária crônica se utilizados com muita frequência. Além disso, o estresse emocional intenso pode também agravar a doença.

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O que diferencia a UCE de uma urticária comum?

PRC – A urticária comum na verdade não existe. Ou ela é classificada em termos de evolução na duração da sua existência em aguda (menos que 6 semanas de instalação) ou crônica (mais que 6 semanas de instalação). Em relação ao estímulo elas são classificadas como induzidas, ou seja são causadas por um estímulo externo, como frio, calor, pressão sobre a pele, atrito na pele, exposição ao sol, vibração. Na ausência de um fator desencadeante das lesões, ela então é denominada de espontânea. Assim a UCE é a forma de urticária que teve sua instalação há mais de 6 semanas e sem fator de desencadeamento identificado (espontânea).

Qual é a faixa etária mais acometida pela doença?

PRC – Qualquer faixa etária pode ser acometida. No entanto a maioria dos casos ocorrem entre a terceira e quinta décadas de vida.

Por que é difícil de diagnosticar?

PRC – Exige conhecimento das lesões de pele e as urticas que compõem a urticária podem ser visualmente semelhantes a outras doenças dermatológicas ou alérgicas, de forma que em alguns casos há necessidade da avaliação de um médico especialista, em geral, dermatologista ou alergista para um diagnóstico correto.

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O que desencadeia a doença e o que caracteriza ela como autoimune?

PRC -A doença na forma espontânea não tem fator desencadeante identificável pelo exame clínico, nem por exames laboratoriais disponíveis na prática médica normal. O que existem, como já descrito acima, são fatores agravantes, como bebidas alcoólicas, corantes e conservantes alimentares e medicações anti-inflamatórias não-hormonais, tais como o ácido acetil salicílico (AAS) e similares.

Além do uso de anti-histamínico, há outras formas de tratamento ou medidas que auxiliam o bom resultado do tratamento?

PRC – Os anti-histamínicos são as medicações de uso inicial no tratamento da urticária. Alguns doentes obtém melhora com alguns, enquanto outros pacientes, se adaptam melhor a outros. Assim, na prática a resposta é individual e o médico em conjunto com o paciente irão encontrar a medicação mais adequada àquela pessoa. Atualmente, de forma inovadora, temos aprovada pela ANVISA, a primeira molécula não classificada como anti-histamínica para o tratamento da UCE, a qual é um medicamento biológico (um anticorpo, portanto uma proteína, desenvolvida por recursos farmacológicos complexos pela indústria farmacêutica), que é denominada omalizumabe, de uso com aplicação subcutânea (na gordura abaixo da pele), a cada 4 semanas.

A doença pode ser curada ou apenas tratada? Caso possa ser curada, quanto tempo dura o tratamento, em média? 

PRC – A doença em cerca de  50% dos doentes tem curso de até 1 ano e em cerca de 20 a 30% dos doentes ela dura entre 3 a 5 anos e em alguns poucos doentes pode durar até 20 anos. Assim, se adequadamente tratada ela pode ser curada, tanto com o uso contínuo dos anti-histamínicos e nos casos onde eles não são efetivos, muitos se curam com o omalizumabe.

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