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Mulher denuncia falta de socorro após ser atacada por homem em Paraty

A moradora foi agredida, enquanto acampava na Praia dos Antigos. O caso gerou um protesto em Paraty, que foi interrompido por tiros contra as manifestantes

Por Ligea Paixão (colaboradora)
Atualizado em 13 Maio 2021, 10h25 - Publicado em 12 Maio 2021, 18h06
Paraty - manifestações
 (Foto: Facebook / Reprodução / Arte: Catarina Moura/CLAUDIA)
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“Ele pegou um pedaço de pau, que estava próximo, e foi se aproximando da gente, enquanto nos perguntava o que estávamos fazendo ali e se estávamos sozinhas. Minha prima, para despistá-lo, falou que estávamos com um conhecido. Ele pegou o pau e me puxou pelos cabelos, enquanto dava ordens para minha prima sair de lá”, descreve Alana* a CLAUDIA sobre o início do ataque que sofreu na Praia dos Antigos, em Paraty, no Rio de Janeiro.

A moradora foi uma das vítimas dos episódios de agressão e assédio a mulheres em Paraty, que culminaram em uma manifestação realizada nesta segunda-feira (10) na cidade.

Na companhia da prima, ela decidiu acampar na praia no início de maio. “Nós chegamos lá quase de noite, então armamos a barraca, arrumamos nossas coisas e vimos o homem, aparentemente fazendo uma corrida. Até então, estava tudo bem. Ele olhou para nós e continuou”, relembra de algumas horas antes de ser agredida.

“Eu lutei com ele, até que a madeira caiu no chão, fazendo-o sair para pegar outro pau. Nesta hora, fomos para a barraca rapidamente para pegar o celular com a lanterna e saímos correndo para a ponta da praia. Lá, a gente se escondeu, enquanto ele vinha atrás de nós”, diz a vítima, que notou que o agressor estava sob efeito de drogas no momento. “Era visível o pó branco perto de seu nariz.”

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Praia dos Antigos, em Paraty (RJ) (Foto: Facebook/Reprodução)

O homem encontrou as mulheres na pedra e, dessa vez, agrediu a prima de Alana.”Nós gritamos muito para ele parar e nos deixar em paz e isso o deixou paralisado de certa forma, pelo menos por alguns segundos, mas drogado do jeito que ele estava, era como se ele tivesse mil poderes e nenhuma sensibilidade.”

As duas conseguiram fugir e chegar até a Praia do Sono para pedir ajuda. “Em uma das casas, uma senhora saiu e nos orientou a procurar o Presidente da Associação de Moradores, o Edu, que ele iria nos ajudar. No entanto, chegando lá ele saiu e falou: ‘Olha, na verdade vocês nem poderiam estar lá. Está proibido acampar e eu não posso fazer nada agora, pois eu estou com meu filho”, comenta Alana.

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“Estávamos muito paranoicas. Olhando a todo momento para ver se o homem que nos atacou estava vindo, mas, por sorte, ele nunca passou.”

 

As vítimas tentaram realizar a denúncia contra o agressor tanto na delegacia como no hospital, porém não tiveram suporte em nenhum dos lugares. O auxílio só foi oferecido na Secretaria da Mulher da cidade.

O protesto

A manifestação pacífica organizada por mulheres na região central de Paraty (RJ) por conta desses casos de violência e abuso contra mulheres do município e turistas foi alvo de repressão.

As manifestantes também pediam a criação de um Observatório de Feminicídio na região, que foi votada pela Câmara Municipal naquele dia, e melhor assistência às mulheres vítimas de violência e abuso, além do pedido de implementação de uma Delegacia da Mulher e de profissionais da segurança mulheres para tratar desses assuntos.

O protesto, que ocorria em frente à delegacia da Polícia Civil da cidade, foi interrompido após um policial, armado com um fuzil, disparar dois tiros contra o chão. Nenhuma das manifestantes se feriu. Veja o vídeo:

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O policial responsável pelos tiros foi afastado dos seus deveres de escrivão, conforme o anunciado pelo delegado Marcelo Haddad, nesta terça-feira (11).

Atualmente, a cidade de Paraty não conta com uma delegacia da mulher e todos os casos relacionados à violação dos direitos das mulheres devem ser tratados em Angra dos Reis, localizada a 95 km do município.

“Na quarta-feira (5), a gente se reuniu pela primeira vez. Era um grupo de cerca de 15 mulheres, que são todas conhecidas umas das outras. Então comentamos de fazer uma manifestação na segunda-feira, porque a Câmara Municipal ia votar uma lei para a criação de um Observatório de Feminicídio. Era um ótimo momento para poder apoiar outras mulheres”, conta Malia*, uma das mulheres presentes na manifestação, que testemunhou o abuso da posse de arma de fogo por parte do policial.

Paraty

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“Quando estávamos lá, pregando cartazes na porta da delegacia, veio esse homem querendo atirar sobre nós. Foi muito violento. Ele estava descontrolado”, expõe a testemunha.

Paraty

“Com cerca de 30 minutos, chegou o secretário de segurança e Flora Salles, que é a única vereadora mulher da cidade, que nos disse: ‘Gente, eu tenho medo de entrar na delegacia. Eles não usam máscaras e são muito agressivos, principalmente com as mulheres'”, relembra a manifestante.

Malia ainda conta que, após o ocorrido, a coordenadora da Secretaria da Mulher e o secretário de segurança orientaram o grupo a fazer um Boletim de Ocorrência online, colocando o nome do policial armado. No entanto, a delegacia não quis fornecer o nome do escrivão.

“Nós estamos com medo. Eu não me sinto segura, e isso é geral, sobretudo nas comunidades caiçaras, porque os homens dessas comunidades há muito tempo que abusam das mulheres de suas próprias famílias”, relatou.

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O posicionamento da segurança local

De acordo com a Ponte, durante uma conversa informal, os policiais civis informaram que os disparos foram feitos em defesa do patrimônio público e apontaram o esgotamento emocional, decorrente do número reduzido de servidores prestando serviço à população, como motivação para a ação do escrivão. 

Em nota, a prefeitura de Paraty divulgou nesta terça-feira (11) que lamenta o episódio, mas enfatizou que, em decorrência da pandemia da Covid-19, manifestações públicas e aglomerações estão proibidas.

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*Nomes alterados para proteção das entrevistadas.

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