Esta mulher pode ser a próxima vice-presidente dos Estados Unidos
Durante as últimas eleições estaduais, Stacey Abrams conquistou resultado histórico e agora é cotada para a chapa democrata à Casa Branca
Ela não se intimidou em ir a público dizer que gostaria de concorrer à vice-presidência dos Estados Unidos com Joe Biden, candidato democrata à Casa Branca nas eleições deste ano. Aos 46 anos, Stacey Abrams é uma liderança em emergência no plano nacional e ousada o bastante para afirmar, sempre que questionada sobre a pretensão de ocupar a posição, que a ambição está em seus planos. Ela estaria disposta a ajudar Biden “não apenas a vencer as eleições, mas a governar”, como disse à revista americana New Yorker.
A despeito de nunca ter ocupado um cargo político desse porte, Abrams passou a ser cotada para compôr a chapa do partido Democrata após o resultado significativo nas últimas eleições para o governo da Georgia, em 2018, em que foi derrotada por apenas 2% dos votos válidos. Entretanto, diversos políticos do partido dela apontam que, se não houvesse a supressão de votantes, sobretudo negros e latinos, o resultado do pleito teria sido diferente.
Durante os dois anos anteriores à votação, cerca de 700 mil nomes foram retirados dos cadastros e 200 locais de votação, principalmente em bairros pobres e de minorias, foram fechados. Como no país o voto não é obrigatório, muitas pessoas podem ter deixado de exercer o direito diante das dificuldades. Os critérios para as mudanças eram de responsabilidade do gabinete do secretário estadual Brian Kemp, que acabou vencendo as eleições contra Abrams. “Quando eu concorri à governadora, não fiz isso só por mim. Percorremos o estado e falávamos a todos sobre o poder de decidir”, disse em uma conferência recente.
Com essa corrida, ela ganhou mais votos do que qualquer outro candidato democrata na história da Georgia. Também foi a primeira mulher negra em todo país ao ganhar a nomeação para representar um dos dois grandes partidos americanos em uma eleição estadual. Assim, se tivesse ganhado, teria sido a primeira mulher governadora dos Estados Unidos – em seu estado, nunca houve uma mulher ou um negro no cargo.
Em campanha, o foco do seu programa era ampliar o Medicaid (programa nacional para subsidiar pessoas de baixa renda a custear seguro de saúde), destinar mais recursos para escolas públicas, criar empregos e ajudar donos de pequenos negócios, principalmente em cidades menores e em áreas rurais. A plataforma ficou popular e recebeu apoio de personalidades como a apresentadora Oprah Winfrey. Após a derrota, Abrams ajudou a criar iniciativas contra a supressão de votos, em favor de igualdade de oportunidades para minorias e visando que grupos marginalizados não deixem de ser considerados no censo deste ano.
Antes disso, ela foi legisladora estadual na Georgia por dez anos – durante seis desses, foi líder da minoria (isto é, encabeçando o segundo partido com mais cadeiras na Casa). Nesse período, ela obteve resultados em favor da população de baixa renda e classe média, anulando impostos em produtos; defendeu direitos reprodutivos e protegeu suas principais bandeiras, o Medicaid e a educação, de cortes orçamentários.
Na década de 1990, ela se formou na Universidade do Texas com um mestrado em relações governamentais e, em seguida, na escola de direito da Universidade Yale. É uma romancista consagrada sob pseudônimos e tem um livro que já esteve na lista dos mais vendidos do The New York Times – sem edição no Brasil, se trata de Lead from the Outside: How to Build Your Future and Make Real Change. Sua entrada oficial para a política se deu aos 29 anos, quando foi nomeada procuradora de Atlanta pela então prefeita Shirley Franklin, primeira mulher negra eleita para o cargo em uma cidade do Sul dos Estados Unidos, região conhecida historicamente por ter desigualdade racial mais aguda.
As chances da líder até aqui
Durante as primárias democratas que definiram Biden como candidato do partido, em março, o político conquistou boa parcela do eleitorado negro tendo no currículo a experiência de vice-presidente durante o governo de Barack Obama. Caso fosse escolhida por ele, Abrams somaria forças para obter confiança de uma população que não tem tanta aderência ao presidente Donald Trump, que concorrerá à reeleição. Segundo reportagem da The Washington Post Magazine, a mulheres negras têm sido apoiadoras leais do partido democrata e responsáveis por algumas de suas vitórias, então talvez seja uma questão de tempo até que uma mulher negra cresça como uma liderança nacional.
“Eu sou uma mulher negra e tive a oportunidade de navegar em espaços em que eu era geralmente a única. Eu entendo algumas coisas. Eu sempre respondo diretamente aos questionamentos sobre concorrer, porque eu sei que as pessoas negras, as jovens garotas, estão me assistindo a mim e a como eu me posiciono. Minha obrigação é ser quem eu sou e não permitir que antigas tradições continuem”, disse ela em entrevista à New Yorker.
Entretanto, a falta de experiência da política em um cargo executivo tem sido apontada como um ponto que pode pesar contra uma eventual nomeação para concorrer à vice-presidência. Além disso, o estado dela não escolhe um candidato democrata para a presidência desde 1992, histórico que ela teria a missão de derrubar.
Além de Abrams, outras políticas americanas têm demonstrado interesse em concorrer à Casa Branca ao lado de Biden, como as senadoras Elisabeth Warren e Kamala Harris, além da deputada da Flórida Val Demings. A posição delas acontece a despeito de uma acusação de violência sexual feita por uma antiga funcionária contra o candidato, revelada em março passado e que ele nega. Em entrevista a CNN, Abrams disse que as mulheres precisam ser ouvidas e suas acusações investigadas por fontes confiáveis, mas que acredita em Joe Biden. A política afirma que, se for escolhida, irá promover os planos dos dois para ajudar as mulheres de seu país.