Eu sou gente que gosta de gente. Respeito muito quem prefere as plantas, os animais, os santos ou, sei lá, os ETs. Mas eu prefiro gente, mesmo. Gosto disso que somos: seres dotados de linguagem, de emoções complexas e, as vezes, tão simples. Seres contraditórios, enfim. Acredito muito na ciência, essa coisa feita por… gente! E, graças a tal crença, sei que somos compostos por células, fluidos e impulsos elétricos. Mas eu prefiro, mesmo, dizer que gente é feita de gente. Eu sou resultado da fusão do meu pai com a minha mãe. Mas sou também o produto de equações realizadas o tempo todo, combinações das pessoas que passam por mim e me deixam de presente algumas marcas.
Por que estou falando tudo isso em um post sobre o Prêmio CLAUDIA? Porque sou eu a pessoa que, pela segunda edição, tem a missão de conhecer pessoalmente todas as finalistas desta que é a maior premiação feminina da América Latina. Sou eu quem tem o trabalho – e o prazer – de viajar o Brasil para olhar na cara destas mulheres, ouvir suas histórias, entender o projeto que realizam e ser testemunha do impacto que causam na vida de quem tem a sorte de viver perto delas.
É um trabalhão, claro! Mas me economiza uns bons reais com sessões de análise – bom, na verdade, as vezes me leva até o psicólogo, mas isso são outros quinhentos. O fato é que produzir e coordenar o conteúdo do Prêmio CLAUDIA é um ofício que me engrandece. Faz com que eu reveja minha rotina, minhas ambições, meus relacionamentos, meu trabalho e meus planos para a vida. Enquanto convivo com esta mulherada, eu recalculo a equação de quem sou. E, modéstia à parte, acredito que fico cada vez melhor.
No início do ano passado, quando recebi o convite de encarar esta empreitada pela primeira vez e suspeitei o que viria pela frente, impus a mim mesma um desafio. Queria fazer com que você, leitora, pudesse experimentar essa sensação também ao ler os perfis das candidatas publicados aqui e na revista. Preciso dizer que fracassei. Por maior que tenha sido meu empenho, um texto apenas não é suficiente.
Conhecer uma candidata ao Prêmio CLAUDIA é também viajar pelo Brasil, é entrar em casas aonde eu nunca iria não fosse este trabalho, é ouvir histórias inusitadas, comer comidas improváveis, passar por todo tipo de imprevisto. Para se ter uma ideia, nosso processo de seleção das indicações começa em janeiro e só termina em meados de julho. No início, apenas checamos à distância – por telefone e internet – as referências dos nomes sugeridos. Na última etapa, antes de escolher quem serão as três finalistas de cada categoria, conhecemos pessoalmente as candidatas. E, então, a magia acontece.
Só para citar alguns exemplos, para entrevistar a fonoaudióloga Mônica Azariti, que concorre na categoria Trabalho Social, eu e meu parceiro de trabalho, o fotógrafo Pablo Saborido, passamos uma manhã inteira na sede do Batalhão de Operações Especiais, o Bope, no Rio de Janeiro. Lá, bati um papo com um dos policiais que diariamente sobe os morros da capital fluminense para combater o tráfico. “Nunca matei ninguém”, disse a mim, o policial V. P. C., um homem enorme, de 95 quilos distribuídos em 1,88 metros de altura. “Quem mata é Deus. Eu só faço o furo.” Mais detalhes desta conversa eu contarei aqui, nas próximas semanas.
Já para conhecer Mariana Madureira, candidata na categoria Negócios, fomos à pequena Catas Altas, em Minas Gerais, vizinha do acidente de Mariana. Vimos parte da lama espalhada pelo acidente da Samarco, mas vimos também o Caraça, um morro estonteante, que embelezava a paisagem do nosso trabalho. Atrás dele, fica o Santuário do Caraça, um complexo encravado no meio do mato, onde já funcionou um dos primeiros colégios e uma das primeiras bibliotecas do Brasil, e onde estudaram vários políticos do país – alguns dos presidentes mais importantes de nossa história, diga-se.
Para poder compartilhar com vocês detalhes de curiosidades como estas, nesta 21a edição do Prêmio estreamos este blog, sobre os bastidores da produção do Prêmio CLAUDIA. Espero, desta vez, conseguir dividir com vocês um pouco mais do que é esta minha empreitada.