Yndiara Asp mostra que skate e moda caminham juntos
Skatista é a primeira brasileira a criar uma coleção com a Vans
Yndiara Asp ganhou seu primeiro shape com rodinhas aos 7 anos, de presente de Natal. Ela, que já surfava com o pai em Florianópolis, logo começou a tentar as primeiras manobras. Aos 15 anos, aprendeu a dropar e, desde então, não parou mais. Aos 25 anos, Yndi está no topo do skate park feminino e acaba de realizar mais um sonho: assinar uma coleção colaborativa com a Vans, com direito a um tênis com seu nome. “É uma realização muito grande. Fui a primeira mulher do skate no Brasil a ser patrocinada pela marca e agora sou a primeira skatista mulher lançando uma collab com ela no país”, comentou ela, cheia de sorrisos, em entrevista a CLAUDIA em São Paulo.
Quando começou a praticar o esporte, a mãe as avós de Yndi se preocupavam e reclamavam constantemente de que a menina voltavam para casa machucada, cheia de pontos roxos nos joelhos e nas pernas. Isso, no entanto, nunca a impediu de praticar. O pai, seu maior incentivador, construiu uma pista no quintal de casa, e foi sobre o skate que ela superou o período conturbado da separação dos pais. Enquanto treinava as manobras, ia também aprendendo a se expressar de outras formas. “Sempre gostei de vestir o que fizesse eu me sentir bem, independentemente do gênero. Sempre curti usar touca, por exemplo, e minha mãe reclamava, porque eu usava até no verão, mas eu me sentia super style, então não ligava”, lembra.
Para a coleção com a Vans, Yndi passou nove meses desenvolvendo uma camiseta, uma regata cropped e uma calça que trazem toda a sua essência. Mas o destaque, é claro, fica para o Skate Grosso Mid, tradicional modelo de cano médio da marca, repaginado com em violeta, a cor favorita da skatista, e amarelo, que ela aprecia por trazer “vitalidade e positividade”. Na parte de trás, o tênis traz detalhes cheios de simbolismo: os desenhos das duas únicas tatuagens de Yndi, uma em cada braço, que representam uma skatista e uma palmeira com uma onda e um skate (homenagem à sua ilha, Florianópolis).
“Acredito que o skate e a moda caminham juntos. Nós sempre tivemos o nosso estilo próprio que inspira muita gente. O skate é arte, além de todas as coisas, e eu vejo a moda como se fosse as cores do quadro”, diz ela, que sonha em ter sua própria marca de roupa, voltada principalmente para calças, que são suas peças favoritas.
No tênis concebido por ela, há ainda outro detalhe importante: as solas têm, cada uma, o esboço de metade de um girassol. “Oito meses antes das Olimpíadas de Tóquio, em 2021 [quando o skate figurou como esporte olímpico pela primeira vez], quebrei o tornozelo e tive que fazer minha primeira cirurgia, colocando uma placa com oito pinos. Quando eu estava me recuperando no hospital, muito triste, o dono da pista onde me machuquei me deu um girassol de presente, e isso foi muito especial. Virou um símbolo de esperança e positividade para mim”, conta. Não foi à toa que ela escolheu um enorme campo de girassóis, com uma pista de skate no meio, para gravar o vídeo da collab. Ela conseguiu competir no Japão e chegou à final do skate park, ficando em oitavo lugar, com 37.34 pontos.
Esporte e militância
Além do sol, seja sobre a prancha ou sobre o shape, Yndi sempre perseguiu a igualdade de gênero, principalmente no esporte. Em 2018, após vencer o campeonato Oi Skate Jam, ela pousou ao lado do campeão da categoria masculina, Pedro Barros, e ambos seguravam os cheques com os valores dos prêmios. Enquanto Yndiara recebia R$ 5.000, Pedro ganhava R$ 17.000, mais que o triplo. A foto trouxe à baila discussões sobre as diferenças de patrocínios e premiações entre homens e mulheres no skate, e Yndi passou a falar ainda mais abertamente sobre a importância de equiparar salários e demais valores, o que aconteceu em muitos campeonatos após a polêmica.
“Isso foi só um exemplo do poder do skate feminino. A gente avançou, desde então, e o fato de termos esse esporte nas Olimpíadas deu uma visibilidade enorme para as skatistas mulheres. Hoje, temos mais apoio, incentivo e liberdade, e acredito que isso só tem a melhorar. Cada vez vejo mais meninas e mulheres começando a andar de skate, com seus estilos próprios, usando saia, como quiserem…”, celebra Indy.
Ela continua com o sonho de trazer uma medalha olímpica para casa e se prepara para enfrentar, em fevereiro, o primeiro campeonato classificatório para as Olimpíadas de Paris, em 2024. No momento, sua rotina é de treino constante, com foco em fortalecer o corpo e a mente. “Tenho ficado o máximo de tempo possível em cima do skate, mas sempre cuido da saúde mental. O controle emocional define tudo, e o autoconhecimento é meu grande propósito de vida”, diz.
Além de maior visibilidade, o status do skate como esporte olímpico acirrou também a competitividade entre as atletas. “A concorrência mudou, todo mundo está ainda melhor. Agora é sangue nos olhos”, ri Yndi. E logo acrescenta que, independentemente de subir ao pódio ou não, o skate sempre será a coisa que mais ama nessa vida.