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O que vai mudar na moda em 10 anos? Pesquisa aponta tendências

Estudo do Google com a WGSN busca entender o que será da indústria em 2030 a partir de um olhar para o passado e presente

Por Maria Clara Serpa (colaboradora)
26 dez 2020, 14h00
desfile
 (Reprodução/Getty Images)
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É fato que a pandemia mudou nossa forma de consumir e nossos interesses no que comprar. As novas necessidades e a nova realidade – com menos idas ao escritório e menos encontros com amigos – refletiram no que vestimos, afinal, além de uma forma de expressão, a moda também é afetada pelo que está se passando no mundo e nossas necessidades.

Buscando entender quais mudanças ocorreram na moda nos últimos 10 anos e projetar o que deve ocorrer na próxima década – seja em modelos de negócios, formas de consumir ou produção de conteúdo – o Google se uniu à WGSN, empresa global de previsão de tendências, para analisar as principais tendências para o futuro da moda a partir de um olhar para o passado e presente.

Além de uma pesquisa com 1400 pessoas, o estudo utilizou as ferramentas do Google Trends para entender quais termos passaram a ser mais ou menos buscados nos últimos anos.

Segundo a WGSN, há cinco pilares da moda: identidade, conteúdo, protagonismo, influência e negócio. Eles são definidos por meio da relação estabelecida entre a moda e a sociedade. Na pesquisa Fashion Trends, os pilares foram analisados individualmente no passado e no presente, para criar as hipóteses do futuro.

Identidade

A moda é parte da construção da identidade dos indivíduos. Mesmo aqueles que não se interessam muito pelo assunto, usam suas roupas para passar mensagens e mostrar quem são. De 2010 até os dias atuais, essa construção de identidade passou a ser mais individual e menos coletiva.

Antigamente, a moda era vista como um padrão a ser seguido, cheio de regras. Com o passar do tempo, os consumidores buscam mais autenticidade. As buscas por conteúdos de “certo x errado” caíram 49%, assim como as pesquisas por looks para determinados tipos de corpo. Hoje, 27% dos entrevistados acredita que não há regras para a moda.

A tendência é que, em 10 anos, mais do que fugir das normas, as pessoas criem suas próprias regras. As marcas precisarão deixar de lado a busca por um ideal de perfeição para cativar os consumidores, que buscam cada vez mais a autoaceitação. Ao mostrar essa “naturalidade”, estabelecerão vínculos com as pessoas.

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Outras buscas que vem crescendo muito e devem se tornar cada vez mais populares são as roupas sem gênero. As buscas por genderless subiram 528%, assim como as por roupas de bebês unissex, que cresceram 515%.

Conteúdo

Falar sobre conteúdo, é entender quais pautas são abordadas por meio da moda, através de diálogos entre as marcas e os consumidores. Há dez anos, o conteúdo era pensado a partir de tendências e do que era visto nas grandes semanas de moda do mundo.

Em 2020, a busca por seguir essas tendências, que de certa forma também são regras, caiu muito. Apenas 12% das pessoas afirma gostar de seguir todas as tendências lançadas no mundo da moda. A busca por “fashion week” caiu 43%, reforçando a ideia de quebra de padrões. Hoje, a moda é vista como uma maneira de se sentir bem e menos como algo que deve ser seguido obrigatoriamente.

Essa nova demanda mudou o discurso e o conteúdo criado por boa parte das marcas. Além de quererem mais conforto, os consumidores fazem questão de saber de onde vem as roupas que compram. As pesquisas por responsabilidade social e trabalho escravo na moda cresceram 40% nos últimos anos, enquanto a por moda artesanal, 75%.

Em 2030, o Google e a WGSN acreditam que as marcas adotarão cada vez mais o discurso do bem estar e pautas politizadas, motivados pelos discursos de quem consome seus produtos. 16% dos entrevistados dizem preferir comprar de pequenas marcas, e isso reflete também a maneira de consumir evitando excessos.

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Protagonismo

Este pilar da moda aborda quem está no foco em termos de conteúdo e expressões da moda. Antigamente, o protagonismo era completamente da moda ocidental nas grandes semanas de moda de Paris, Milão e Londres. Quase tudo que era produzido inspirado nos grandes designers, criando coleções e peças estereotipadas e sem autenticidade. As modelos eram sempre magras, brancas e dentro do padrão.

Atualmente, isso já começou a mudar. As pessoas, cada vez mais, querem se ver representadas e não se encaixar no que a moda determina. As buscas por moda plus size, por exemplo cresceram 109% nos últimos anos. Segundo a pesquisa, 20% dos consumidores acreditam que há mais diversidade nos conteúdos de moda hoje.

A queda nas buscas por procedimentos estéticos e o aumento nas pesquisas sobre cabelos naturais e grisalhos, mostram que, talvez, a “ditadura da beleza” esteja caminhando para a extinção. Em 2030, o protagonismo possivelmente será dos grupos antes marginalizados pela indústria, desde negros, gordos, imigrantes e PCDs, até grupos religiosos que buscam roupas específicas para sua fé. A busca por “moda evangélica” cresceu 755% nos últimos anos.

A pesquisa também mostra uma intenção maior de inclusão etária, que atualmente é muito baixa – apenas 8% dos consumidores acreditam que as marcas de moda estão considerando as pessoas mais velhas.

Influência

A moda tem um papel de influência social e nós, quase sempre, nos inspiramos em alguém, inclusive na maneira de se vestir. Por muito tempo, essa influência vinha de pessoas distantes e inacessíveis, como atrizes ou modelos. Hoje, a busca por referências mais próximas de si, seja na realidade ou no tipo de corpo é muito maior: 20% dos entrevistados afirmou ter mudado sua forma de se inspirar e 30% disse buscar pessoas parecidas consigo mesmas.

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Compartilhar o mesmo propósito que as marcas e influenciadores é o terceiro fator que mais influencia nas escolhas relacionadas a moda, sendo o mais relevante para 12% dos brasileiros. Por isso, no futuro, as marcas e influenciadores podem se utilizar de sua influência para estabelecer uma rede de apoio e segurança, fazendo com que o consumidor se sinta representado em meio ao mercado e sociedade e consiga encontrar em pessoas com trajetórias semelhantes.

Negócio

Por fim, os negócios da moda, em si, também estão passando por mudanças. Por muito tempo, esse universo foi regido pelo excesso e pela abundância – os consumidores preferiam quantidade à qualidade e, por isso, as fast fashions ganharam tanta força. A busca por tendências de forma rápida também contribuiu para o sucesso desse tipo de negócio.

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No entanto, nos últimos anos, começamos a ouvir mais sobre o slow fashion e os impactos da indústria no meio ambiente. Assim, muita gente começou a repensar seu consumo, obrigando as marcas a repensarem também seus modelos de negócio, evitando excessos e priorizando peças mais atemporais.

A tendência, segundo a WGSN e o Google, é que, no futuro, isso se intensifique. Novos modelos de negócio devem surgir para atender as demandas de consumo consciente. Cada vez mais, o natural é visto como sofisticado, além de as pessoas priorizarem cada vez mais a qualidade ao invés da quantidade. Apenas 11% diz preferir comprar muito ao invés de comprar bem.

Houve um aumento de 623% nas pesquisas sobre moda biodegradável e de 700% sobre moda confortável. Conceitos como upcycling, revenda de roupas e brechós também ganham força, seguindo a tendência de busca por uma moda mais democrática, correta e que agrida menos o meio ambiente.

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