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Mulheres compartilham soluções sustentáveis possíveis para mudar a rotina

Brasileiras dividem suas experiências nas redes sociais para guiar quem pretende ter uma vida mais simples e consciente

Por Esmeralda Santos (colaboradora), Gabriela Teixeira (colaboradora), Maria Clara Serpa
18 set 2020, 14h00
Ao se tornar mãe, Gabriela Miranda passou a repensar suas escolhas de compras. (Karla Brights/CLAUDIA)

De olho no futuro

A ânsia de comprar um enxoval imenso para bebês começou a ser questionada pelas amigas Gabriela Miranda, 42 anos, e Luanda Oliveira, 38, quando se tornaram mães – a primeira tem três garotas; a segunda, um menino. “Sempre fui ligada na questão do lixo e da reciclagem. Comecei assim esse caminho da sustentabilidade. Quando meu filho nasceu, há três anos, foi o chamado definitivo para praticar aquilo em que acredito”, conta Luanda. Processo semelhante se deu com Gabriela logo após o nascimento da primogênita, em 2011. Inicialmente, ela buscou alternativas ecológicas para conter os descartes, como o uso de fraldas de pano. “A maternidade revelou a urgência de construir alternativas mais justas para o planeta”, diz.

Com a pauta do consumo rondando a vida delas há anos, a dupla de Belo Horizonte decidiu dar um passo além das atitudes individuais e criou a marca Circulô (@usecirculo) no final do ano passado. Com o objetivo de desmitificar a ideia de que sustentabilidade não é acessível, elas propõem um sistema de aluguel e reutilização de roupas infantis. Mães e pais assinam um kit com itens suficientes para as trocas por cerca de três meses. Em seguida, devolvem o pacote (que será cuidado antes de chegar a outra família) e recebem as próximas peças.

“A maternidade foi um chamado definitivo para a sustentabilidade”, diz a empreendedora Luanda Oliveira. (Karla Brights/CLAUDIA)

Além do aluguel de roupas, elas sugerem abandonar o preconceito sobre compras de segunda mão ou revenda – isso contribui com o planeta e reduz os custos para outras mães. O que não serve mais deve ser doado, mas esse hábito saudável não pode ser consequência de uma compra excessiva de itens desnecessários ou em grandes quantidades.

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Transição sem modismos

A publicitária Melissa Volk, 47, deu uma grande guinada profissional em 2016, após 25 anos de carreira. “Convivi com familiares sofrendo com problemas de saúde e percebi que meu tempo era valioso para gastar em um trabalho de que não gostava mais. Resolvi sair da agência”, conta. Pouco depois, recebeu o convite para organizar a parte de moda da Virada Sustentável. Foi um momento de reconexão, que inspirou a fundação do Slow Market Brasil (@slowmarket_br), feira itinerante de marcas brasileiras sustentáveis de vários segmentos. Fora a curadoria, o objetivo é levar conhecimento para provocar os consumidores por meio de rodas de conversa e palestras.

Melissa Volk provoca consumidores a ampliar o repertório para emigrar dos produtos convencionais. (Karla Brights/CLAUDIA)

Em 2018, foi criado o Slow Market.Beauty, dedicado ao slow beauty, movimento que prega a ritualização das rotinas de beleza, com cosméticos mais limpos e redução de excessos. Agora, o evento, um dos pioneiros no debate sobre o tema, contará com edições virtuais. Entre as novidades está o Slow Market.Lab, área voltada às resenhas em vídeo para que o público conheça as características de cada produto. “O problema no consumo é o excesso: coisas que usamos muito e acumulam química no corpo ou poluem o planeta. Não é sobre um batom que você passa vez ou outra”, explica. Para que a transição seja efetiva, Melissa defende a experimentação. “Como há variedade, recomendo testar opções, começando com a mais parecida com o item que você já usava para ir, aos poucos, se acostumando com os produtos mais ecológicos.”

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Revolução pelo prato

A fotógrafa Carla Candace, 26 anos, ofereceu certa vez manteiga vegana para um amigo provar. Para surpresa dele, o sabor era fiel à versão com ingredientes de origem animal. “Fomos distanciados da alimentação saudável. É mais fácil abrir um pacote e comer em vez de pensar”, explica a baiana de Itacaré, que segue a dieta vegana há cerca de quatro anos. O primeiro contato dela com o tema foi ao assistir ao documentário americano Terráqueos – Faça a Conexão (2005), que mostra os bastidores da pecuária. “Fiquei mal com as cenas de crueldade e cortei a carne”, explica ela. No perfil @carla.candace no Instagram, compartilha receitas e informações sobre o movimento.

Durante a adaptação à dieta vegana, Carla Candace precisou adaptar o paladar a novos sabores. (Karla Brights/CLAUDIA)

A redescoberta do paladar é ponto importante. “Foi bom perceber que eu não precisaria parar de comer o que gostava.” Carla destaca a variedade de ingredientes brasileiros, que vão de óleos naturais, como o de coco e dendê, até as variadas opções de frutas, legumes e grãos que protagonizam suas criações. Carla se denomina “afrovegana”, fazendo um recorte racial nesse movimento que muitas vezes fica limitado à classe média alta branca. “Sabemos que o foco são os animais, mas vemos a reprodução do racismo quando ele se torna algo inacessível à população negra e pobre e também quando explora produtores negros”, conta.

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Questão de família

Era 2016 quando a teóloga e designer de moda Nicole Berndt, 41 anos, ouviu falar pela primeira vez do movimento zero waste (termo em inglês para lixo zero). Em busca de alternativas naturais para tratar um problema de saúde, ela esbarrou nas estatísticas sobre a produção mundial de lixo. “Os dados me fizeram perceber que o futuro que tanto sonhava para a minha família estava em risco”, lembra. Ela logo apresentou as informações ao marido, Paulo, e o casal firmou o compromisso de reduzir ao máximo a produção de resíduos em casa. Com dois filhos pequenos, Nina, 5 anos, e Theo, 10, o objetivo parecia desafiador. Gradualmente, vieram as adaptações, como encontrar produtos sem embalagem.

Mãe de duas crianças, Nicole Berndt incluiu a família toda a missão de reduzir o lixo. (Karla Brights/CLAUDIA)

Além disso, ao notar uma lacuna de informações em português sobre o tema, criou o blog Casa sem Lixo (@casasemlixo no Instagram), onde a jornada dos quatro é registrada. Nicole também usa a plataforma para sanar dúvidas de quem quer adotar o mesmo estilo de vida. “Sempre digo que é para ir devagar, escolhendo mudanças palpáveis até que elas se tornem hábitos. Talvez comigo tenha acontecido com mais rapidez porque o ‘bichinho’ da sustentabilidade me picou muitas vezes, mas a transição é mais duradoura e saudável quando acontece com os pés no chão.” Para ela, as crianças aprendem melhor dessa forma. “Hoje elas lidam de maneira natural, se orgulham de sermos uma casa sustentável e falam sobre isso com os amigos”, conta.

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Passeio com respeito

Quando era pequena, Camilla Marinho, hoje com 31 anos, costumava viajar de caminhão pelo Brasil ao lado do pai. Assim, conheceu lugares bem diferentes da sua cidade natal, no interior de São Paulo. Curiosa, pensava nas histórias de quem ali vivia. Já adulta, formou-se em publicidade e foi trabalhar com moda. “Como a maioria das pessoas dessa área, eu me deslumbrei. Era muito consumista. Isso só foi mudar anos mais tarde, em 2015, quando fui para a Bahia nas minhas férias”, relembra. Lá, ela se reconectou com a simplicidade e voltou para casa determinada a vender boa parte de seu guarda-roupa. O bazar se transformou em negócio, o D.A.M.N Project, projeto de slow fashion que virou produtora de eventos com essa temática.

“Não queremos o turista que chega achando que pode tudo porque está pagando. Quem viaja tem que estar disposto a usufruir como os locais”, diz a empresária Camilla Marinho. (Karla Brights/CLAUDIA)

Algum tempo depois, de novo durante suas férias, ficou encantada com o povoado de Barrinha, no Piauí, e com as pessoas que ali vivem. Ela e o companheiro, Marcelo Torma, uniram-se então a mais dois casais para fundar o Chão Piauí (@chaopiaui), iniciativa que fomenta o turismo regional e, com isso, ajuda financeiramente a população, mas sem descuidar do ritmo e da capacidade do vilarejo. “Não queremos o turista que chega achando que pode tudo porque está pagando. Quem viaja tem que estar disposto a usufruir como os locais”, diz ela. O Chão reinveste 30% de seus lucros em iniciativas nas áreas de saúde, educação e cultura. O projeto reviveu também costumes que estavam esquecidos, como a produção familiar de farinha de mandioca, a farinhada.

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