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José Loreto: “Vou criar uma filha forte”

Ele não é só o ator sedutor com jeitão adolescente. Loreto tornou-se um cidadão preocupado e está trabalhando seu interior para ser um pai zero machista

Por Elisabete Antunes
Atualizado em 19 nov 2017, 09h26 - Publicado em 19 nov 2017, 09h26
 (Chico Cerchiaro/CLAUDIA)
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Com o tornozelo direito machucado em um descontraído, porém malsucedido jogo de frescobol na orla, José Loreto, 33 anos, chega mancando para a sessão de fotos desta reportagem na Praia da Joatinga, no Rio de Janeiro.

Como é cheia de sobe e desce, com muitas pedras, a equipe até pensa em mudar a locação. Mas para o ator fluminense não tem tempo ruim. “Foi só uma torção, não se preocupem. Já era para estar melhor se eu não tivesse tirado, no quarto dia, a bota ortopédica que o médico colocou. Eu deveria usar durante duas semanas. Não aguentei”, confessa ele, com seu inconfundível sorrisão.

Ele está no ar em Cidade Proibida como o gigolô Bonitão – nome que cai como uma luva para o seu corpo, de 1,84 metro de altura, definido no crossfit. Mesmo sentindo dor, Loreto não deixou de gravar as cenas da série, que terminará em dezembro, com previsão de uma segunda temporada, a ser exibida em março ou abril de 2018. E será no mesmo período que o galã realizará um dos maiores sonhos de sua vida. “Eu serei pai!”

Casados há um ano e meio, ele e a atriz Débora Nascimento, 32 anos, grávida de quatro meses, esperam uma menina, Bella Loreto. “Consegui convencer a Débora a pôr Loreto no nome da nossa filha! Porque não é sobrenome, é nome. Meu bisavô, meu avô e meu pai, todos são Loreto”, comemora. A novidade pegou o casal de surpresa. “A gente planejava ter filho um dia, mas não era para agora. Quando começamos a suspeitar, comprei o teste de farmácia”, conta.

“Deu positivo; ela não acreditou.” A atriz fez quatro testes para ter certeza. “Nos primeiros dias, ficamos em choque e bateu um desespero. Não estávamos tentando engravidar, embora não usássemos nenhum método anticoncepcional. Rolou, então ficamos muito felizes”, explica ele, que há muito tempo deseja viver em uma casa cheia de crianças.

“Eu sempre quis ser pai. Mas estava respeitando o tempo da Débora. Quando a Bella nascer, vou ter uma semana de licença e pronto, volto a trabalhar. Já ela terá de interromper a carreira, no auge, para dar à luz. É por uma razão mais do que especial, claro, porém o peso maior acaba sendo para ela”, diz o ator. Ele recorda que não aguentava mais responder  quando viriam os herdeiros. “Nem ela! É muita pressão! A Débora não tinha que sentir essa obrigação. Há uma cultura de que tem de ser mãe para ser mulher. Isso não devia existir.

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Durante a entrevista, Débora faz uma videochamada para o marido, que repara até no que ela está usando. “Bonito esse brinco”, elogia. Revela também que está com muita saudade e termina a ligação. A atriz passava uns dias em San Diego, na Califórnia, onde visitava uma amiga e começaria a comprar o enxoval do bebê.

Loreto comenta com a repórter: “Não quero fazer da Bella uma bonequinha”. Antenado com as mudanças na sociedade patriarcal e machista e solidário com as mulheres empoderadas – Débora é uma delas –, ele quer criar uma filha forte, para enfrentar qualquer tipo de preconceito. “Não vai ter essa de só usar roupinha rosa… A Débora me situa nisso também.”

Ao descobrirem que teriam uma menina, pelo exame de sangue, ela colocou um tênis vermelho em cima do travesseiro dele. “Olha como sou machista. Na hora, pensei que era um menino! Se fosse um par de sapatilhas, seria uma menina”, diz. “A gente tem que repensar um monte de coisas que foram impregnadas culturalmente na nossa infância, na nossa adolescência”, avalia ele, que está lendo Para Educar Crianças Feministas – Um Manifesto, da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, que fala de uma formação igualitária para garotos e garotas.

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“Não quero que minha filha seja inferiorizada, que receba menos do que um homem no seu trabalho, que seja vítima de absurdos, como os que estão acontecendo hoje, em que um cara esfrega o pênis na mulher dentro de um ônibus. Isso ainda parece normal para muitas pessoas”, protesta.

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O casal também não quer fazer distinção de sexo na hora de escolher um brinquedo para Bella. “Por que uma menina não pode se fantasiar de Batman? E um menino de Branca de Neve? Eu era repreendido pelos meus pais quando pegava as bonecas das minhas irmãs (a arquiteta Livia, de 35 anos, e a médica Bruna, de 34)”, lembra o caçula da professora de matemática Mariza Freixo (da família do deputado estadual Marcelo Freixo, do PSOL) e do médico-cirurgião José Loreto Prestes (também há um parentesco, mesmo que distante, com o influente político comunista Luís Carlos Prestes, morto em 1990).

Livia, mãe de Gabriel, 6 anos, e Liz, 3, há dois anos se mudou para o Canadá, levando a família, com medo da violência no Rio. Loreto já pensou em arrumar as malas e sair do país pelo mesmo motivo. Nascido em Niterói, na região metropolitana do Rio, atualmente mora em uma casa confortável em um condomínio de luxo no Itanhangá, bairro vizinho à Barra da Tijuca, na Zona Oeste da cidade.

“Sair de casa está muito perigoso. Não quero ser político, mas, em vez de pensar em ir embora, prefiro ter a esperança de que isso melhore, de que alguém possa transformar o país, o estado do Rio de Janeiro”, explica. “E não só na questão da segurança. A educação e a saúde precisam de mudanças urgentes. Fico triste, não queria minha irmã morando longe”, diz. “O Brasil é um país tão bonito… Amo nosso clima, meus amigos, minha família, minha profissão. Só não amo o síndico disso aqui. Ele está fazendo um péssimo trabalho”, reclama.

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(Chico Cerchiaro/CLAUDIA)
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Medo de ficar careca

Mais uma vez, o celular toca. Agora é um amigo com quem Loreto vai assistir à peça Galápagos, em um teatro de Copacabana. A sessão começaria às 20 horas e ele ainda estava trabalhando com a equipe de CLAUDIA, na Joatinga. Mesmo perto de casa, não daria tempo de tomar um banho, trocar a bermuda e a camiseta.

“Ah, vou assim mesmo, está bom.” Ele rejeita o rótulo de vaidoso. No entanto, o diretor-geral e artístico de Cidade Proibida, Maurício Farias, depois de desfiar um rosário de elogios ao ator, entrega: “Loreto cuida bastante do visual. Do cabelo então…”  Assim como Bonitão, que vive arrumando o impecável topete, Loreto tem xodó pelos seus cachos.

Com medo de ficar careca, revela, meio apavorado, que está tomando remédio contra a calvície. “Meu cabelo está ralinho aqui atrás, né? Faço tudo que a dermatologista manda”, afirma. “Uso spray e xampu contra queda de cabelo também. Eu não quero ficar careca. Estou muito novo”, diz com uma caretinha. “Nem que eu tenha de fazer implante”, admite. 

Com diabetes tipo 1, descoberta aos 15 anos, Loreto costuma ser muito disciplinado com a alimentação e com a prática de esportes. É faixa preta em judô! E está de olho na dieta da futura mãe. “Débora fala que eu sou muito controlador na hora de comer. Na verdade, eu quero que ela faça refeições saudáveis. Não tem nada a ver com engordar”, garante.

O ator acha que estranho seria se ela não ganhasse peso. “Estou doido para ver minha mulher bem barriguda!” Na verdade, o que tem em mente é a saúde dela e do bebê. “Peço a Débora que, em vez de bolo, coma duas mexericas quando bate aquela fome. Já falei para a secretária lá de casa parar de fazer bolo. Porque, se tiver, a gente come”, conta Loreto, que está igualmente propenso a pequenos abusos. “Venho tendo desejos de devorar barras de chocolate. “Estou grávido também. Tive até enjoos no início.”

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Débora quer mais sexo

Os hormônios mexeram com a atriz. E o desejo aumentou. “Às vezes, ela mostra uma libido além do normal. Estou adorando esta fase”, diz Loreto com um jeito maroto. Desde 2012 como um dos jurados de Amor & Sexo, da Rede Globo, o ator tenta tirar de letra qualquer assunto. O programa já o deixou em aparentes saias justas, que ele neutralizou depois. Uma delas foi quando disse ser “a favor do fio terra” no ato sexual. A internet bombou a declaração.

“Nunca me arrependi de falar algo. Acho que a gente tem que, cada vez mais, desmistificar um monte de coisas. Eu estou ali tirando as minhas máscaras, deixando de ser machista.” Loreto acredita que algumas coisas polêmicas daqui a alguns anos deixarão de ser. “De alguma maneira, estou contribuindo para isso. A gente tem que evoluir. Até minha avó Teresa, de 90 anos, está rompendo preconceitos. Por que eu não?”, pergunta. “Ele topa qualquer desafio”, atesta a dona do programa, Fernanda Lima. “É divertido e presta um grande serviço à sociedade, se desconstruindo com total liberdade.”

Sobre o vazamento de um vídeo íntimo, em julho passado, Loreto conta que o assunto está sob investigação policial. Há dez anos, com o peito nu, ele se masturbava. “Quando a gente é jovem, não pensa nas consequências”, argumenta. “Mas o que fizeram foi um crime. Divulgaram algo sem o meu consentimento. Infelizmente, tem muita gente covarde na web.”

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Os maiores amores do mundo

Loreto tem planos profissionais com a mulher, que fez uma participação em Cidade Proibida. Os dois se conheceram nos bastidores da novela Avenida Brasil, em 2012, em que interpretaram o par romântico Darkson e Tessália. Agora, querem contar as mais famosas histórias de amor do mundo, em uma mistura de dramaturgia e documentário. “Por enquanto, está engavetado. Pretendo trabalhar com a Débora. É bom dividir a cena com quem a gente admira. E eu gosto muito da minha bichinha”, derrete-se ele, citando um dos apelidos que deu à mulher.

Em 2018, ele começa a filmar a história de Walter Casagrande, 54 anos, ex-craque do Corinthians e hoje comentarista de futebol. Com roteiro de Marcelo Rubens Paiva e direção de Mauro Lima, o longa é baseado no livro Casagrande e Seus Demônios, de 2013. Nele, o ex-atleta conta a trajetória profissional e a luta contra a dependência química. No ano passado, na telona, Loreto interpretou o lutador de MMA José Aldo, em Mais Forte Que o Mundo.

“Amo biografias.” Fazer outra, ligada ao esporte, foi coincidência, apesar de o esporte estar sempre presente na vida dele. “Pratico judô desde os 5 anos, jogo tênis e não perco a pelada com a turma, às segundas, de jeito nenhum!” Isso, aliás, tira a mulher dele do sério. “Débora pega no meu pé porque o futebol acaba tarde e, depois, a galera quer um chope e um churrasco. Mas ela não sabe como isso é bom!”, confessa, rindo. “Nem quando a Bella nascer, vou deixar de jogar”, decreta. “Mesmo trocando fraldas e virando madrugadas acordado.” Ele promete ser um pai muito babão e companheiro.

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(Chico Cerchiaro/CLAUDIA)

Segurança de Stevie Wonder

Loreto estreou na novela Malhação em 2005. Fez um teste e passou, depois de frequentar aulas de interpretação na Casa das Artes de Laranjeiras (CAL). Havia descoberto a vocação para o teatro aos 18 anos, na época do vestibular. “Atuei em uma peça de brincadeira e virei a revelação do colégio”, recorda.

“Eu me senti muito confortável no palco, me descobri. Mas meus pais não curtiram. Muito protetores, achavam que era coisa de vagabundo e me mandaram estudar.” Lá foi ele para o curso de economia. “Estudei até o quarto período na PUC-Rio. Depois, eles viram que eu me dedicava mais ao teatro do que à faculdade. Tranquei sem ninguém saber”, lembra.

Aos 16 anos, fez intercâmbio em Indiana, nos Estados Unidos, e, com 20, decidiu voltar para um work experience (intercâmbio de trabalho). Mirou em Hollywood, o lugar perfeito para quem queria alcançar o estrelato. Como se virou? Trabalhando duríssimo, como agente de segurança em eventos, no show de Stevie Wonder e em uma festa de Réveillon, onde estava o então casal Gisele Bünchen e o ator Leonardo DiCaprio.

No primeiro, ficou plantado, com a cara trancada de pit bull, na porta do camarim, vendo quem podia e quem não podia entrar. Mal chegou perto do famoso cantor. No segundo, coube a ele a função de tomar conta da área de fumantes. “Deu meia-noite e eu lá, de preto, duro, sozinho, sem poder botar a mão no bolso. Ninguém me deu nem um hi (oi, em inglês).” Otaviano Costa, seu companheiro de bancada em Amor & Sexo, define muito bem a figura. “Loreto é um brutamontes. Feito de algodão.” 

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