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Após crise na carreira, Grazi Massafera está feliz e orgulhosa de si mesma

Confortável na própria pele, a atriz é pura energia boa

Por Bete Antunes
Atualizado em 14 jul 2020, 06h57 - Publicado em 30 out 2019, 08h00

Grazi Massafera não é nenhuma estranha a estúdios fotográficos. Mesmo assim, parece estar em casa quando se acomoda na cadeira de maquiagem bem relaxada. Não tem essa coisa de estrela, rotina glamourosa. “Eu sou a Fiona do Shrek. Ninguém imagina, né?”, diz a atriz de 37 anos, referindo-se ao filme. “Adoro sentar assim, toda aberta, como estou agora. Meu pai (Gilmar) sempre foi muito machista, não deixava”, continua.

A atriz também gosta de andar descalça. E não só dentro de seu apartamento, em São Conrado, no Rio de Janeiro. Na parte externa do estúdio, onde foram feitos os retratos, a intérprete da costureira Paloma na novela das 7 da TV Globo, Bom Sucesso, dispensa os chinelos e vai para lá e para cá arrastando os calcanhares no chão. “Estou sempre com o pé sujo”, conta ela, que se divertiu ao fazer a foto abaixo.

Camiseta, Rosa Chá; calça, Apartamento 03; colar, Dior; poltrona, Arquivo Contemporâneo (Karine Basílio/CLAUDIA)

Grazi se deliciou ao ver a cena em que a atriz Sharon Tate (Margot Robbie), no filme Era Uma Vez em… Hollywood, de Quentin Tarantino, mostra os pés imundos dentro de um cinema. “Eu me identifiquei com ela”, diz. “No Projac (Estúdios Globo), em tudo que é lugar, vivem correndo atrás de mim para que eu coloque sapatos (risos). Mas eu tenho que ficar com os pés livres.”

Grazi não quer o rótulo de estrela. “Eu não me acho uma deusa, sou totalmente normal. Só faço um trabalho de maior visibilidade”, explica. Mas, olhando para a atriz, de corpo trabalhado em aulas de ioga e boxe, cabeleira farta, olhos verdes e lábios grossos (ela jura que não faz preenchimento), a gente se pergunta se ela não estaria sendo muito modesta. “Eu sei que tem a questão da beleza. Não é à toa que faço propaganda de cosméticos, xampu. Sei que eu vendo, que tenho o poder de influenciar outras pessoas. Mas nasci assim”, diverte-se.

“Acho que também é pela minha história. Conquistei algo difícil para a maioria dos brasileiros. Com 30 anos, já tinha independência financeira, o que é uma raridade no mundo em que a gente vive. Isso faz o público me admirar. De resto, sou uma pessoa falha como todas as outras. Tem muita mulher mais bonita do que eu.”

Ela prossegue com seu argumento fazendo uma lista para desconstruir a artista sem retoques. “Sofro de TPM, tenho silicone no peito, há sete anos coloco Botox. Mas não vivo em centros de estética. Só vou de vez em quando à dermatologista. Quem faz meu cabelo hoje em dia? Eu mesma! Pinto esta mecha de loiro (aponta a que fica bem perto do rosto). Aprendi muito com os travestis que me levavam para os concursos, que eram minha referência de beleza. Também gosto de fazer as unhas”, afirma.

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E faz questão de avisar que não abre mão de malhar. “Já ouvi muita gente falando: ‘Ah, ela está cheia de chip’ (tratamento hormonal subcutâneo que estimula o emagrecimento). Não, eu malho mesmo, meu amor. Enquanto tem gente bebendo, estou fazendo exercícios. Amo! Sou uma atleta frustrada.”

O início turbulento

(Karine Basílio/CLAUDIA)

A obsessão dos outros pela beleza dela já criou alguns obstáculos. “Sofri muito com aquela música Lôraburra” (de Gabriel O Pensador). Quando eu jogava vôlei na escola (em Jacarezinho, interior do Paraná), cantavam para mim. Por muito tempo, acreditei que era burra porque era bonitinha”, lembra.

Em 2005, porém, depois de ser eleita vice-campeã do Big Brother Brasil 5, ouviu de Pedro Bial, na época apresentador do reality show, um discurso contra misoginia que ajudou a dar uma guinada na sua autoestima. Até hoje, o jornalista faz uma leitura clara da situação: “Há quase 15 anos, certas noções, que hoje estão mais concretizadas na compreensão geral, eram pouco entendidas. E uma loira, linda e miss é o avatar perfeito para que os misóginos chamem de burra, façam julgamentos apressados”.

“Ela já me chamava a atenção não só pela sensibilidade e graça mas também pela inteligência. E tudo foi comprovado com a carreira que ela está construindo. Grazi ainda vai nos dar muitas alegrias. É uma de nossas estrelas mais luminosas e belas”, completa o apresentador a CLAUDIA. “Bial virou uma chave dentro de mim”, agradece Grazi.

A audiência de Bom Sucesso também ressalta seu talento. Para ter uma ideia, segundo informações da Central Globo de Comunicação, em São Paulo, no sábado, 14 de setembro, a trama atingiu 30 pontos, superando a média das novelas anteriores na mesma faixa desde 2007. “Sou canceriana, estou indo de caranguejinha”, brinca ela, imitando o bichinho caminhando de lado pelo estúdio.

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Depois de receber tantas críticas no início da carreira e de virar o jogo em Verdades Secretas (2015), quando foi indicada ao Emmy Internacional de melhor atriz, ela vem saboreando novamente o gostinho do sucesso. “Ainda me surpreendo ao ouvir as pessoas me elogiando ou enaltecendo meu trabalho. É resultado de muita obstinação, disciplina, foco, desejo, empenho. Mas estou vibrando na energia do merecimento. Este papel está sendo muito especial. Eu pensava que não era suficientemente boa para ganhar um elogio. Eu me boicotava porque achava que sentir isso era vaidade ou ego inflado. E sempre fui minha adversária. Nunca coloquei foco em ninguém. A maturidade trouxe a ideia de que eu posso e de que eu mereço.”

Transformações íntimas

Camiseta e saia, Omma Studio; calça, Rosa Chá (Karine Basílio/CLAUDIA)

Grazi não esconde, porém, que achava a profissão um porre. “A questão financeira para a minha família sempre foi difícil. Minha mãe até gostava de costurar, mas ela fazia porque precisava de dinheiro. Meu pai nunca deixou de ser pedreiro porque não sabe ficar parado. Mas ninguém trabalhava porque gostava. Então, como é trabalhar por prazer? Nunca pensei. E não acho arriscado falar isso. Tem que ter sinceridade, gente! Provavelmente algumas meninas vão ler esta entrevista. Poxa, já tem tanta coisa que fala que a vida tem que ser perfeita, como as redes sociais, em que todo mundo aparece sorrindo o tempo inteiro. Tudo mentira! A gente tem chulé, tem problemas. Não à toa, o índice de suicídio e de casos de depressão só vem aumentando. As pessoas querem acreditar que existe uma vida perfeita, mas não é verdade”, frisa.

“Comecei a gostar de ser atriz quando tive dinheiro suficiente para saber que não precisava mais daquilo. Não almejo uma fortuna, mas renda para não pensar em ficar pagando conta. Quando conquistei isso, passei para ‘Agora quero que minha filha – e eu mesma – tenha orgulho de mim’. Entendi que ser atriz não é só decorar texto. É uma profissão que emociona e que faz o público se questionar. Quero deixar um legado para minha filha”, diz a mãe de Sofia, 7 anos. A menina é fruto do casamento de Grazi com Cauã Reymond, de quem se separou em 2016, depois de nove anos juntos.

(Karine Basílio/CLAUDIA)

Com essa ideia em mente, a atriz foi para a Espanha, em setembro de 2014, fazer um curso de interpretação. “Na época, eu nem queria mais saber de atuar. Aí, fiz essas aulas e fiquei encantada.” Na volta da Europa, quando surgiram os testes para interpretar Larissa, a modelo viciada em crack, em Verdades Secretas, Grazi deu mais uma chance a si mesma e à teledramaturgia. “O papel também era uma maneira de unir o útil ao agradável, porque tinha todo um lado social. Comecei a sentir mais prazer”, conta ela, lembrando que o workshop da trama das 11 da noite foi feito nesse mesmo estúdio em que realizamos as fotos para esta edição de CLAUDIA.

A dependente química da obra de Walcyr Carrasco mudou definitivamente a biografia da menina de Jacarezinho. “Passei a ser chamada para trabalhos porque queriam que eu estivesse neles. Até então, eu acabava me encaixando na novela ou era incluída porque precisavam de um nome no elenco que tivesse força na publicidade. Eu era a cereja do bolo no mercado publicitário, mas não a atriz. Queria mudar isso.”

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O projeto foi tão bem-sucedido que Grazi começou a ser chamada nas ruas pelo nome da personagem. “Achei fantástico. Hoje, quando me veem, as pessoas também gritam ‘Olha a Paloma’ ou repetem o bordão da personagem: ‘Se organiza, Paloma’.” Bom Sucesso aproximou a intérprete da literatura. “Lá em casa, ler era coisa de vagabundo. ‘Tem tempo sobrando? Vai trabalhar!’ Às vezes, eu lia às escondidas embaixo da cama para minha mãe não brigar comigo. Sei que ela não queria o meu mal, mas era assim. Não tive pai e mãe cultos, só via filme dublado. Até hoje, quando pego um livro, vem a sensação de que aquilo não me pertence”, confessa.

A lição do acolhimento

(Karine Basílio/CLAUDIA)

Com Sofia na alfabetização, Grazi, a princípio, relutou em voltar às novelas. Seu último trabalho tinha sido O Outro Lado do Paraíso, em 2017. “Não queria ficar muito tempo fora de casa. Mas, quando me falaram que a Paloma seria uma costureira, popular, pensei: ‘Caramba, vou revisitar minha vida, minha história’. Paloma tem um pouco de todo mundo da minha família. Minha mãe era costureira. Hoje só se dedica ao crochê, mas antes fazia muitas roupinhas lindas para mim. Eu vivia arrumadinha, era a bonequinha que ela não teve. Como era muito pobre, as bonecas dela, quando criança, eram de espiga de milho”, diz. “E a Paloma não é uma mocinha boba. É uma mulher que trabalha, pega trem, cria três filhos.”

O visual de Grazi, esse ar de deusa, entretanto, foi questionado pela equipe de caracterização. Ela bateu o pé. “Por ela ser do subúrbio carioca, queriam pintar meu cabelo, fazer isso e aquilo. Não deixei! Bonsucesso está cheio de mulheres lindas. Só porque é pobre tem cabelo feio? Gente, espera aí. Que padrão é esse? Sempre tive cabelão, que eu mesma pintava em casa, usava maquiagem do Paraguai. Eu fui muito pobre! E eu era feia?”, pergunta.

Para a atriz, o desafio maior era viver a mãe de um menino, Peter (João Bravo), e de duas adolescentes, Alice (Bruna Inocêncio) e Gabriela (Giovanna Coimbra). “Quando estou com as meninas, me lembro ainda mais da minha mãe, como ela era comigo”, diz Grazi, que adotou as novatas nos bastidores. “Elas são maravilhosas! Eu me vejo muito na Bruna. Ela é atenta, calma. Não está ali de brincadeira. E como é legal também dar acolhimento a essas meninas, coisa que eu não tive, a não ser de alguns poucos atores”, lamenta.

(Karine Basílio/CLAUDIA)

Em 2013, quando protagonizava Flor do Caribe, de Walther Negrão, a paranaense chegou a encontrar macumba dentro do seu carro, no estacionamento dos Estúdios Globo. “Colocaram uma boneca, pintada com esmalte vermelho no pescoço, no pé, toda estragada, sentada na cadeirinha da Sofia. Era para me assustar mesmo.”

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Grazi começou na carreira de atriz em Páginas da Vida, em 2006. Em 2008, escalada para o papel principal em Negócio da China, levou mais uma enxurrada de críticas. Na época, Miguel Falabella, o autor, não queria a ex-BBB como protagonista de sua trama. “Sei que ele foi obrigado a aceitar e sofri bastante com isso. Depois ele veio falar comigo. O Miguel é diferente”, afirma a atriz, que, hoje, pondera o que aconteceu.

“Tento olhar pelo ponto de vista do outro. Até para entender, para ter o discernimento de quem eu sou, do lugar que ocupo, para não me perder. Eu não era atriz, não tinha nenhum curso na área e vinha do BBB. O que parecia que eu queria? Glamour, fama e dinheiro. Pensam que todo mundo que entra nessa profissão quer isso. Mas é mentira! Tem gente que não tem noção do tanto que a gente abdica”, diz ela, adiantando que passará o Natal e o Réveillon gravando a novela.

“Um dos meus irmãos queria que as filhas fossem atrizes. Logo mudou de ideia quando viu quanto eu trabalho. Sem contar o tipo de pessoa com que a gente lida, né? Tem de tudo, é a selva no seu núcleo.” Falabella e Grazi repetiram a parceria em Aquele Beijo, em 2011, deixando qualquer polêmica no passado. “Sempre achei a Grazi ótima, bonita e carismática. E não estava errado. Olha a carreira que ela fez”, afirma o autor, de Miami, por WhatsApp.

Maternidade construtiva

Blazer, Fendi (Karine Basílio/CLAUDIA)

Quando o assunto é Sofia, os olhos verdes de Grazi se iluminam ainda mais. Pela primeira vez, a pequena está assistindo a uma novela feita pela mãe. “Ao olhar para ela, percebo que está orgulhosa de mim; dá até vontade de chorar. Uma vez, a gente estava vendo a novela e, por algum motivo, estouraram fogos na praia. Ela falou: ‘Mãe, você está ouvindo isso? É uma homenagem ao seu sucesso’”, conta, derretida.

A pequena já vem fazendo perguntas à mãe sobre assuntos mais íntimos. “Outro dia, ela queria saber como se conquista um menino!”, diverte-se Grazi, imitando o sotaque carioca da filha. “Estou me reeducando com ela. As crianças são muito sábias. Elas nascem prontas, e a gente estraga.” Sofia também pede um irmãozinho ou uma irmãzinha à atriz. Grazi, que não descarta a possibilidade de ter outro filho, responde com bom humor: “Pede para o seu pai, que já está casado com a tia Mari”, ri. Cauã casou com a modelo Mariana Goldfarb em abril passado.

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Os pais de Grazi se separaram quando ela era criança – tinha 9 anos. Foi criada com os quatro irmãos. Grazi, que não podia nem beijar o namorado na frente de seu Gilmar, pretende educar a filha (e outras crianças que ainda quer ter) de forma mais consciente. “Liberdade todos temos. Mas quero que ela saiba que as consequências vêm das nossas escolhas; senão estará sempre culpando alguém.”

E qual foi a maior lição que a sua separação lhe trouxe? Depois de um longo silêncio, a atriz, que não abre mão da terapia e vem estudando o universo tântrico, responde que é a de não mais viver em função do outro. “Eu gostava do que o outro gostava. Eu esquecia de mim. Quando acabou, veio a pergunta: ‘Quem sou eu?’. Não quero mais me abandonar, me descuidar nem me desvalorizar.”

Camiseta, B.Luxo (Karine Basílio/CLAUDIA)

Indagada sobre o suposto romance com o ator Caio Castro, 30 anos, o lutador de boxe Rock, de A Dona do Pedaço, também da TV Globo, ela finge que não escuta. Solta uma risada, diz que não vai falar, mas dá uma pista. “Sou mulher, sou saudável”, entrega, com carinha marota. “As pessoas ficam muito curiosas. Sabe aquela música? ‘Deixa acontecer naturalmente’ ”, cantarola o samba do grupo Revelação.

O namoro teria começado na festa de aniversário de 48 anos de Luciano Huck, no dia 3 de setembro. Os dois teriam sido vistos aos beijos na mansão do apresentador, onde aconteceu a celebração, que reuniu uma penca de famosos. Menos de duas semanas depois, no domingo (15), o casal foi flagrado em uma cafeteria em Ubatuba, no litoral de São Paulo. Até a atriz Marina Ruy Barbosa declarou em um comentário do Instagram que gostaria de vê-los juntos. À noite, o par jantou em um famoso restaurante do balneário paulista. E não para por aí. Grazi já teria sido apresentada à mãe de Caio, que é da Baixada Santista.

A atriz está solteira desde fevereiro, quando terminou pela terceira vez o relacionamento de cerca de três anos com o empresário Patrick Bulus. “Acho lindo a troca que se tem em uma relação, a maturidade que se ganha. Acho legal a rotina. Gosto de tudo que o povo acha que é chato no namoro.”

E avisa: “Eu tomo atitude. Quero beijar aquele cara, eu beijo. Respondendo à sua pergunta, não tem mais essa de esperar príncipe. As princesas agora estão em outra onda. Estou aprendendo muito com essa nova leva da Disney, que é muito mais interessante. Valente, Frozen… Você viu agora o Aladdin? Quem dá o primeiro beijo? É a Jasmine que toma a iniciativa. Acho que isso está trazendo muita coisa bacana para as mulheres. E para esta geração que está vindo. As meninas não vão mais ficar esperando o príncipe no cavalo branco nem o foram felizes para sempre”.

Edição de moda Fabio Ishimoto (Capa IMG) • Styling Kaio Assunção (OD MGT) • Produção de moda Bi Lessa • Beleza Walter Lobato • Assistente de fotografia Fabrício Pimentel e Felipe Luz • Produção de objetos Daniela Arend, Luciana Osmondi e Juliana Rodrigues • Tratamento de imagens WM Fusion

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