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O que Juliana Paes tem em comum com Maria da Paz

Como uma empreendedora de sucesso que se aventura desde jovem por diversos ramos, ela compartilha aqui a bagagem e os conhecimentos acumulados

Por Isabella D'Ercole Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 17 fev 2020, 14h00 - Publicado em 31 ago 2019, 13h00
Juliana Paes
 (Guilherme Lima/CLAUDIA)
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Ela é a primeira a negar a veia empreendedora. Diz que nasceu para ser atriz – e é verdade que desde cedo perseguiu esse sonho. Fazia apresentações de dança no colégio, batalhou pelos papéis principais nas peças estudantis e até fez trabalhos como modelo. Mas basta um bate-papo sobre histórias da infância para entender que Juliana Paes herdou, sim, da mãe, Regina, o gene para os negócios – e ele anda lado a lado com o talento artístico.

Na época da escola, por iniciativa própria, tomou a cozinha de casa para produzir brigadeiros. Levava os docinhos para os colegas e descolava o próprio dinheiro. “Sou ariana, independente, proativa”, explica a fluminense de 40 anos.

Na adolescência, arregaçou as mangas para contribuir com todas as iniciativas de Regina. Foi funcionária da locadora que a mãe teve, depois trabalhou na loja de roupas e até na creche dela. “Eu dava banho nas crianças. Era uma delícia quando as mães vinham buscar os filhos e diziam que eles estavam cheirosos”, conta, rindo.

Já na faculdade de publicidade, vendia bijuterias para garantir renda extra. E, anos depois, mesmo com a carreira astronômica estabelecida na TV, abriu um salão de beleza que virou franquia. O Espaço Juliana Paes surgiu como uma possibilidade de renda para Regina e Rosana, irmã da atriz. As duas moravam nos Estados Unidos, e Juliana queria trazê-las de volta. Criou a empresa para que a família pudesse tomar conta.

Juliana pode não ter uma rotina corporativa com agenda cheia de reuniões, mas ela é uma baita mulher de negócios. Cuida, por exemplo, dos produtos licenciados com seu nome em diversos segmentos. Tem perfume, linha de lingerie. Quer lançar ainda coleção de óculos e, mais para a frente, de maquiagem – duas paixões que gosta de colecionar. E faz publicidade para marcas de sapatos, comida e roupas.

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Tudo isso ocupa o pouco tempo livre que teria fora das gravações. Porque, como Juliana sonhava desde pequena, foi na atuação que despontou e onde ganhou reputação e sucesso. Hoje vai para os estúdios da TV Globo pelo menos cinco vezes por semana – reserva as folgas para ficar com o marido, o empresário Carlos Eduardo Baptista, e os filhos, Pedro, 8 anos, e Antônio, 6. Antes de entrar no set, passa algum tempo em frente ao espelho se transformando em Maria da Paz, a protagonista extravagante de A Dona do Pedaço, novela das 9 que tem batido recordes de audiência.

Juliana Paes
Jaqueta Lança Perfume; Brincos Sara Joias (Guilherme Lima/CLAUDIA)

A TV mostra a vida real

Na trama, ela é uma mulher romântica e sonhadora que perde o amor de sua vida muito jovem em uma rixa na cidade interiorana em que mora, a fictícia Rio Vermelho. Com medo e de luto, muda-se para São Paulo em busca de outras possibilidades. Sem muitas perspectivas, começa fazendo bolos com as receitas da avó e vendendo na rua. “São aqueles caseiros, molhadinhos, que a gente comia na casa da vó; têm memória afetiva”, descreve Juliana.

Maria da Paz combina sorte, talento, muito trabalho e se torna milionária. Após 20 anos, é dona de um império, com direito a fábrica de bolo e franquias. Juliana conta que pesquisou na internet histórias semelhantes de empreendedoras. “Li muita coisa sobre pessoas que começaram com uma birosca de nada e fizeram crescer algo dali. Percebi que a maioria delas não sabia nada de negócios, mas seguia a intuição. Foram procurando especialistas para orientá-las na parte administrativa e de logística. Tiveram que aprender enquanto faziam, errando”, diz. “Eu acho que Maria da Paz tomou muitos canos, ficou no vermelho antes de ter esse sucesso todo.”

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Fora o carisma de Juliana – que não é pouco –, o ingrediente essencial que levou Maria da Paz a cativar o público foi a identificação imediata da maioria das pessoas com a trajetória da personagem. “Ela tem o espírito batalhador e empreendedor da mulher brasileira, que é aguerrida, quer conquistar seus sonhos com o próprio esforço”, afirma a intérprete, que topou de primeira o convite do autor Walcyr Carrasco.

Maria da Paz provocou em Juliana uma forte reflexão. Ela logo compreendeu que não queria fazer a mocinha clichê, sofrida, que fica a maior parte do tempo no papel de vítima. Maria da Paz é alto-astral, se levanta rapidamente após uma queda e não deixa ninguém – nem o homem por quem é apaixonada nem a filha – passar por cima de suas decisões. “A brasileira não é de ficar se lamuriando. Ela faz como diz o samba: ‘Erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé, manda essa tristeza embora’ ”, recita Juliana.

Outra característica da personalidade de Maria da Paz que Juliana quis ressaltar é a extrema honestidade. “Chega a ser considerada inocente, ingênua. Ela não tem malícia”, explica. Para a atriz, a boleira não se deixou contaminar pela tentadora facilidade do jeitinho brasileiro, a malandragem, que é encarada por muitos como uma coisa engraçada, mas que tem seu lado comprometedor.

“Eu acho que é uma mazela nossa. Está na hora de percebermos que é um obstáculo que nos separa de uma sociedade melhor, na qual poderíamos confiar no outro plenamente, nos empenhar sabendo que o outro estaria fazendo o mesmo”, diz. Chegou a se perguntar, quando lia o roteiro, se seria possível para Maria da Paz sobreviver ao mundo real. “Temos que discutir por que essa transparência dela é vista como fraqueza, por que achamos que alguém desprovido de maldade pode ser manipulado.”

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Juliana Paes
Macacão Carmim; Regata Viviane Furrier; Brincos Sara Joias; Sandálias Alexandre Birman (Guilherme Lima/CLAUDIA)

Criador e criatura

Juliana acumula personagens emblemáticas em seu histórico. Interpretou Gabriela no remake da novela baseada no livro homônimo de Jorge Amado – papel que foi de Sonia Braga em 1975. Em Caminho das Índias, sua primeira trama como protagonista, conquistou o público com o romance intenso entre Maya e Raj (Rodrigo Lombardi). E, mais recentemente, foi a vez de criar a espalhafatosa e ousada Bibi Perigosa, de A Força do Querer.

Mas ela jura que Maria da Paz é o maior desafio da sua carreira. “A trajetória dela se assemelha muito à minha”, justifica. “Ela era insegura quanto ao futuro do negócio dos bolos. Quando começamos a elaborar o salão, eu me questionava se daria certo. ‘Será que as pessoas virão? Sairão satisfeitas?’ É uma cabeça de empreendedora, que quer saber como vai o caixa, que está preparada para não tirar lucro daquele investimento por algum tempo, até ele crescer um pouco”, revela.

Apesar de A Dona do Pedaço ter diversas outras tramas curiosas e envolventes, Juliana viu crescer entre seus seguidores nas redes sociais empreendedores que se identificaram com Maria da Paz e viraram fãs da boleira. “Outro dia um menino comentou que abriu uma loja de cupcakes e via semelhanças com ela. E uma mulher me mandou uma mensagem emocionada falando que a trama levantou a moral de boleiras e confeiteiras. É gratificante”, conta a atriz.

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A troca entre personagem e intérprete é tanta que Juliana diz admirar a inteligência de Maria da Paz e suas posturas no comando do negócio. Mas pode ser que tanto tino venha mesmo é da atriz e do bom trabalho dos roteiristas. Porém, como conselhos de negócios não são de jogar fora – ainda mais de uma mulher de tanto sucesso –, pedimos para Juliana dividir conosco seu aprendizado pessoal e as reflexões com Maria da Paz até aqui.

Juliana Paes
Jaqueta e saia Coven; Colar Lydia Dana (Guilherme Lima/CLAUDIA)

O dono é figura fundamental

“Maria da Paz é esperta. Está sempre na fábrica e nas lojas porque sabe que o olho do dono é um diferencial muito importante. Você pode delegar coisas que não domina, claro. Deve chamar alguém para comandar a área de recursos humanos ou uma pessoa que saiba mais de contas para controlar a contabilidade, mas a qualidade do produto é responsabilidade do dono. Só ele pode garantir que saia 100% todas as vezes, da maneira como ele imaginou quando o criou. Além disso, precisa se certificar de que o atendimento combina com a proposta do negócio. Ele é o grande responsável pela alma da empresa. Isso paira sobre todos os processos burocráticos e desaparece se ele deixa de frequentar o local.”

Entenda seu limite

“Quando eu era mais jovem, queria abraçar o mundo. Sou centralizadora, controladora, tenho dificuldade de delegar. Só fico feliz quando coloco a mão na massa, participo. Mas hoje sei que de nada adianta eu topar tudo e não poder me entregar da maneira como gostaria, com a dedicação que considero ideal. Por isso, limitei meus licenciamentos. Dou conta do que tenho, me envolvo integralmente. Prefiro ter menos produtos, mas assegurar a qualidade de tudo. Sou exigente, não me perdoo quando algo não sai do jeito que quero. Aí me estresso, não durmo. E atualmente minha paz não tem preço; então aceito meus limites.”

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Invista no seu talento

“Eu digo que não sou boa de vendas. Se tivesse que trabalhar em uma loja, não conseguiria fazer como aquelas vendedoras que convencem a pessoa a levar duas roupas ou juram que a peça ficou boa quando não é verdade. Se o cliente dissesse que iria parcelar, eu aconselharia a guardar o dinheiro (risos). Mas sou boa marqueteira. Afinal, me formei nisso. Sei fazer meu marketing pessoal muito bem. Conheço meu ponto forte, a comunicação. Se as marcas me procuram, é porque sabem que posso entregar.”

Juliana Paes
Vestido Louis Vuitton (Guilherme Lima/CLAUDIA)

Tudo tem seu tempo

“Como sou imediatista, tive que fazer um exercício enorme desde que abrimos o salão para entender que cada coisa tem seu tempo e que, mesmo sendo dona, nem sempre terei como interferir nos processos. A curva do negócio de sucesso não é ascendente o tempo todo. Ela cresce um pouco, baixa, para, cresce mais um pouco. Quando os prazos não rolam como esperado, não significa que alguém errou, que o negócio vai mal ou que falta comprometimento. E isso dá para levar para a vida pessoal, para os relacionamentos. Aprendi que algumas pessoas, quando estimuladas, vão até determinado ponto; outras travam antes. Cada ser humano reage de uma maneira a situações iguais. É fascinante, na verdade. Mas, para encarar com tranquilidade, é preciso ter maturidade e paciência.”

Valorize o que é essencial

“Em qualquer ambiente de trabalho, o fundamental são as relações humanas. Você pode estar na melhor empresa do mundo, ganhando um baita salário, mas, se a equipe não tiver sintonia, se não rolar troca, de nada vale. Às vezes, uma única pessoa que tem outra energia pode atrapalhar todo o processo. No final das contas, tudo é coração. Não importa em qual ramo você esteja. Claro que as redes sociais são importantes e revolucionam o mundo, mas a comunicação olho no olho será sempre a melhor de todas. O encontro, o tête-à-tête, o toque, esse será sempre o bom networking.”

Foco no cliente

“A venda é importante, mas ela não pode ser o mais gratificante. Olhe para a relação construída com clientes e consumidores. Quando trabalhava na loja de roupas da minha mãe, gostava quando as mulheres vinham me contar que o vestido comprado no dia anterior tinha feito sucesso, que elas tinham arrasado. Não é só o lucro que importa, mas a experiência que você vai proporcionar às pessoas.”

Edição de moda Fabio Ishimoto (OD MGT) • Styling Andreia Matos • Beleza Lucas Luz • Assistente de fotografia Leticia Lavatori • Assistente de beleza Thiago Corccino • Tratamento de imagens Doctor Raw.

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