O M+ Museum Hong Kong celebra seu primeiro ano com uma exposição especial, a Yayoi Kusama: 1945 to Now. Essa é a retrospectiva mais extensa da artista na Ásia fora do Japão. A exposição destaca seu surgimento como um ícone cultural global para o século XXI, perseguindo sua visão de vanguarda intransigente. A estreia ocorreu no dia 12 e dezembro, e a retrospectiva fica aberta ao público até 14 de maio de 2023.
“É com grande prazer que apresento esta exposição em comemoração do primeiro aniversário do M+. Minha oração constante e sincera é que as pessoas deste mundo criem um caminho através e além do atoleiro de guerra e terror, ódio e tristeza. Eu procuro beneficiar a sociedade com a pedra fundamental que é minha busca sincera da verdade na arte”, compartilhou a artista.
Vanguarda
Desde criança, Yayoi Kusama enxergava pontos e bolas em todos os lugares. Essa alucinação, reproduzida por suas mãos até hoje, aos 84 anos, a faz uma das principais artistas japonesas do pós-guerra. Sua obsessão inspirou outros criadores, como Marc Jacobs, que estampou com poás as bolsas Luis Vuitton. Kusama aprimorou uma estética pessoal e singular ao longo de sua carreira, com uma filosofia de vida central que cativa vislumbres de espaço sem limites e reflexões sobre os ciclos de regeneração natural.
Uma de suas instalações está exposta no Brasil, no Museu de Inhotim (MG): em referência ao mito de Narciso, que se encanta pela própria imagem refletida na água, Narcissus Garden Inhotim (2009) reúne 750 esferas de aço inoxidável sobre um espelho d’água, no terraço do Centro de Educação e Cultura Burle Marx. Nas palavras da artista, a obra se comporta como “um tapete cinético”, dada a ação do vento, que cria diferentes agrupamentos das esferas em meio à vegetação aquática. A obra é uma versão da escultura apresentada pela primeira vez na 33ª Bienal de Veneza (1966). Naquela ocasião, Yayoi Kusama colocou à venda, clandestinamente, 1.500 esferas distribuídas ao lado do pavilhão Itália com duas placas com os dizeres: “Seu narcisismo à venda” e “Narcissus Garden, Kusama”.
O foco da retrospectiva no Museu M+ é narrar e evidenciar sua vida e obra extraordinárias, com destaque ao desejo de interconexão e as profundas questões sobre a existência que impulsionam suas explorações criativas. Mais de 200 trabalhos estão expostos, incluindo pinturas, desenhos, esculturas, instalações e material de arquivo de importantes museus e coleções particulares na Ásia, Europa e EUA, além de arquivos da própria Kusama.
“[A retrospectiva] examina a carreira de Kusama desde os primeiros desenhos que ela fez quando adolescente durante a Segunda Guerra Mundial até suas mais recentes obras de arte imersivas. Organizada cronológica e tematicamente, a retrospectiva guia os visitantes através da criatividade ao longo da trajetória de Kusama, dividida em temas principais: Infinito, Acumulação, Conectividade Radical, Biocósmica, Morte e Força da Vida”, escreveu o museu.
Além dos trabalhos iniciais, a exposição apresenta três novas criações da artista. A primeira, Death of Nerves (2022), é uma instalação que estende suas renomadas pinturas Infinity Nets para o espaço 3D. Seu segundo projeto, Dots Obsession—Aspiring to Heaven’s Love (2022), combina as bolinhas de assinatura de Kusama e designs espelhados em um reino imersivo e caleidoscópico. Por último, Abóbora (2022) está disponível para exibição pública no salão principal do museu, com duas grandes esculturas.