Estudo revela fato perturbador por trás dos filmes românticos
Não é ~simplesmente amor~. É perseguição e comportamento abusivo.
Lá está a Keira Knightley assistindo às filmagens do casamento e se dando conta de que o melhor amigo de seu marido é secretamente obcecado por ela. Romântico ou assustador? Eis a questão! Em “Simplesmente Amor”, a personagem se espanta num primeiro momento, mas passa a achar tudo muito fofo quando o perseguidor toca sua campainha da noite de Natal, portando os cartazes daquela clássica cena da declaração de amor. O desfecho? Um beijinho terno, enquanto o marido da personagem estava dentro de casa sem suspeitar de nada.
A maioria das pessoas que assiste a esse clássico de 2003 não pensa no quanto essa cena é, na verdade, muito assustadora. Ela romantiza a obsessão e a perseguição exercida ali. Serio que aquele homem merece um prêmio de consolação por ser ~incontrolavelmente~ fissurado na mulher do melhor amigo? Serio que é OK esse cara gravar closes perturbadores da noiva durante o casamento e se declarar secretamente? Serio que o “mas, eu fiz isso por amor” justifica tudo? Não. Mas a gente acaba não se dando conta disso.
Uma recente pesquisa realizada pelo Centro de Estudos da Comunicação, da Universidade de Michigan, acabou concluindo que sim, as mulheres interpretam comportamentos desse tipo como algo positivo quando estão inseridos em filmes românticos. No estudo, diversas mulheres assistiram a trechos de um desses seis filmes: “Quem Vai Ficar Com Mary?” e “O Amor Pede Passagem” (que retratam a perseguição como algo romântico); “Nunca Mais” e “Dormindo com o Inimigo” (nos quais os perseguidores são mostrados como homens odiosos), e “A Marcha dos Pinguins” e “Migração Alada” (dois filmes neutros).
Ao final, as mulheres eram convidadas a opinar sobre os filmes e a professora Julia Lippman, pesquisadora que comandou a pesquisa, concluiu o que já suspeitava: aquelas que assistiram aos dois primeiros filmes da lista consideraram a perseguição retratada como algo romântico e positivo. “Histórias sobre stalkers (perseguidores em inglês) são falsas e exageradas, ao ponto de minimizar a seriedade desse assunto. Isso significa que quem mais consome esse tipo de ficção, menos leva a sério o comportamento do perseguidor”, declarou Lippman.
Para ela, é muito perigoso que isso esteja incutido na mente das mulheres, pois reafirma o mito de que o amor justifica tudo. Dessa forma, comportamentos obsessivos e até mesmo violentos tendem a ser minimizados, o que pode trazer consequências sérias. “Isso pode ter implicações para o suporte legal de mulheres vítimas de perseguições”, acrescenta a pesquisadora.
Pode parecer besteira problematizar filmes considerados bobos e açucarados, mas perseguição e pressão psicológica fazem parte da realidade de inúmeras meninas e mulheres. É extremamente necessário saber diagnosticar esse tipo de comportamento abusivo, pois muitas vezes ele vem fantasiado de amor incondicional. Afinal, todo mundo conhece bem aquele velho provérbio que diz que “no amor e na guerra vale tudo”. Esse é o tipo de mito que está incrustado no nosso imaginário desde sempre e revisá-lo é bastante urgente. Não vale tudo não e, com certeza, não é simplesmente amor.