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Stéphanie Habrich é CEO da editora Magia de Ler, apaixonada pelo mundo da educação e do jornalismo infantojuvenil. Fundadora do Joca, o maior jornal para adolescentes e crianças do Brasil e do TINO Econômico, o único periódico sobre economia e finanças voltado ao público jovem, ela aborda na coluna temas conectados ao empreendedorismo, reflexões sobre inteligência emocional, e assuntos que interligam o contato com as notícias desde a infância e a educação, sempre pensando em como podemos ajudar nossos filhos a serem cidadãos com pensamento crítico.
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Projeto arrecada livros para refugiados venezuelanos. Veja como ajudar

A colunista Stéphanie Habrich fala sobre ação que incentiva leitura entre jovens refugiados da Venezuela

Por Stéphanie Habrich Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 24 ago 2021, 19h38 - Publicado em 24 ago 2021, 19h30

Hoje gostaria de falar um pouco sobre o projeto Mi Casa, Tu Casa • Minha Casa, Sua Casa, uma iniciativa que leva livros para crianças e adolescentes venezuelanos que vivem em abrigos em Roraima. A situação dos refugiados da Venezuela é preocupante e tem recebido pouca ou nenhuma atenção por parte da comunidade internacional. Por isso, acredito ser importante falar a respeito e fazer com que nós, como sociedade, pensemos com mais frequência sobre essa pauta tão relevante e que, queiramos ou não, nos afeta diretamente.

Antes de tudo, gostaria de explicar como surgiu a ideia de criar bibliotecas infantojuvenis para jovens venezuelanos em abrigos de Roraima. Hoje, a Venezuela vive uma crise econômica e social sem precedentes. Falta comida, emprego e serviços que atendam o bem-estar da população. Esse cenário fez com que milhares de cidadãos migrassem para outros países, especialmente para nações da América do Sul.

De acordo com o ACNUR (a Agência da ONU para refugiados), existem atualmente mais de 5,6 milhões de venezuelanos fora do seu país, entre refugiados e migrantes. É a segunda maior crise humanitária da atualidade, atrás somente da Síria, um país assolado pela guerra.

Nos últimos dez anos, o Brasil já reconheceu cerca de 57 mil pessoas como refugiadas de diversos países, de acordo com dados do ACNUR junto ao Comitê Nacional para Refugiados (CONARE). Destas, 46 mil são venezuelanas. Esses números colocam o Brasil como o país da América Latina que mais tem concedido status de refugiado aos venezuelanos, permitindo que eles se estabeleçam e comecem uma nova vida por aqui.

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Aqueles que chegam ao Brasil, em sua esmagadora maioria, entram no país por Roraima, estado que faz fronteira com a Venezuela. Por aqui, famílias inteiras, compostas por pais, filhos e avós, sofrem para aprender a nova língua e conseguir emprego, alimentos, saneamento básico e moradia. Como muitos chegam com poucos recursos, acabam não tendo muitas opções a não ser se mudar para abrigos para refugiados e migrantes. Segundo o ACNUR, há cerca de 8.100 venezuelanos vivendo em abrigos de Boa Vista e de Pacaraima, cidades de Roraima. Desse total, quase a metade (47%) é composta por jovens com idade entre 0 e 17 anos (dados do início de agosto de 2021).

Essa crise, como um todo, sempre me impactou muito. No Joca, jornal para crianças e adolescentes que fundei há dez anos, sempre tratamos da questão. Creio ser importante que os leitores não apenas entendam a realidade sofrida dos refugiados, como também se coloquem no lugar deles, além de fazerem uma reflexão sobre o papel da migração na construção de um país – afinal, o Brasil é uma nação formada por pessoas vindas de diversas nações e muitas das qualidades que temos atualmente se devem a esse processo. 

Livros
Espaço aberto em Roraima para os jovens visitarem (|ACNUR/Divulgação)

Seguindo esse intuito de sempre tratar sobre os refugiados, em 2019 publicamos uma reportagem no Joca sobre uma ONG francesa que criou um cinema em um campo na Jordânia. Achei essa ideia incrível e logo quis fazer a mesma coisa nos abrigos para venezuelanos em Roraima.

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Assim, liguei para um amigo que tinha contato com o ACNUR e, em outubro de 2019, fomos para Roraima visitar os espaços que acolhem refugiados e migrantes. Por um lado, fiquei impressionada positivamente com a organização dos abrigos, que são administrados pelo ACNUR, Operação Acolhida (iniciativa do Governo Federal para acolher migrantes e refugiados) e por uma série de ONGs. As pessoas que moram lá têm acesso à alimentação, moradia e segurança. 

Mas me entristeceu ver tantas crianças e adolescentes sem muitas coisas para fazer na maior parte do tempo. Os abrigos contam com poucos brinquedos e atividades e, devido à grande demanda, só alguns jovens conseguem vagas para a escola. Um estudo recente do Banco Mundial mostrou que menos da metade (45%) das crianças e adolescentes venezuelanos está matriculada na escola.

Perguntei a integrantes da organização desses locais se havia a possibilidade de criar uma sala de cinema por lá, como fez a ONG francesa. Porém, eles disseram que, esporadicamente, já realizavam atividades com filmes.

Ao voltar para São Paulo, onde moro, continuei com a ideia fixa de que precisava fazer algo por aqueles jovens venezuelanos. Quem sabe levar um pouco de lazer – e até de acolhimento – a quem já enfrentou uma dura jornada até aqui. Então, surgiu a ideia de criar bibliotecas infantojuvenis em cada abrigo de Roraima. Para isso, lançamos uma campanha no Joca, em parceria com o ACNUR e com a organização Hands On Human Rights, especializada em Direitos Humanos, para que os leitores nos ajudassem a arrecadar livros (em português e espanhol) e dinheiro para construir os espaços.

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Projeto
Biblioteca do Mi Casa, Tu Casa (|ACNUR/Divulgação)

Além disso, achamos que seria enriquecedor incentivar a troca de experiências entre jovens brasileiros e venezuelanos. Dessa forma, estimulamos os leitores do Joca a escreverem cartas para as crianças e adolescentes que moram nos abrigos em Roraima. A ideia era mostrar a todos os participantes o valor da tolerância, da diversidade e da coexistência — algo, infelizmente, cada vez mais raro nos dias atuais.

Com o plano pronto, no dia 12 de abril de 2021, demos início à ação Mi Casa, Tu Casa • Minha Casa, Sua Casa. Criamos um site para divulgar o projeto e começamos a publicar diversas reportagens e vídeos sobre a situação das crianças e adolescentes nos abrigos. A ideia era oferecer aos leitores a exata dimensão do que estava acontecendo por lá e os mobilizar a apoiar a causa. 

Como sempre valorizamos o protagonismo juvenil no Joca, sabíamos que as crianças e adolescentes que leem o jornal iriam nos ajudar no projeto. Por isso, estabelecemos o que nos pareceu uma meta ousada para tão pouco tempo: 5 mil livros de 3.500 cartas.

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Pois qual não foi a nossa surpresa ao perceber que os jovens superaram — e muito! — todas essas metas. Em apenas dois meses, recebemos mais de 37 mil livros (sete vezes a meta inicial) e cerca de 5 mil cartas (43% além do previsto). Mais uma vez, os jovens provaram que podem ter grande atuação para a construção de uma sociedade melhor. 

Em julho, eu e mais 12 voluntários fomos até Roraima para inaugurar as duas primeiras bibliotecas. Uma artista plástica voluntária pintou os espaços, que ficaram ainda mais lindos do que eu poderia imaginar. Além disso, capacitamos jovens venezuelanos que moram nos abrigos para ficarem responsáveis pelo cuidado com os livros e pelos empréstimos. Estes mesmos jovens serão responsáveis por capacitar outros, mantendo as bibliotecas funcionando mesmo quando não estiverem mais nos abrigos, que são temporários (uma das ações com os venezuelanos em Roraima prevê a interiorização – a estratégia procura por melhores oportunidades para os venezuelanos em outros estados do nosso país, como vagas de emprego. Dessa forma, os refugiados e migrantes podem reconstruir suas vidas no Brasil).

Nos dias em que estive lá, vi diversos jovens abrirem os livros e ouvirem/lerem histórias com grande fascínio. Mesmo agora, duas semanas após a inauguração, as bibliotecas continuam cheias e jovens responsáveis por elas seguem realizando rodas de leitura e sessões de contação de histórias. 

O que temos visto em Roraima é, sem dúvida, muito emocionante. As narrativas nos transportam para novos universos, ampliam nosso repertório de mundo e estimulam a capacidade de se colocar no lugar do outro. Certamente, as bibliotecas terão um grande impacto na vida de várias gerações de crianças e adolescentes — não só agora, mas em seu futuro também. E não falo apenas dos refugiados venezuelanos. Temos visto a cada dia como essa mobilização tem mudado a vida de diversos jovens brasileiros também, que puderam se perceber como cidadãos atuantes na nossa sociedade.

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Nosso próximo objetivo é construir bibliotecas em mais 11 abrigos. Para isso, precisamos arrecadar mais recursos financeiros na nossa campanha de crowdfunding. Caso queira nos ajudar, basta acessar o site do projeto (clique aqui) e contribuir com qualquer valor.

 

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