Como encontrar amor nos apps de relacionamento?
Os apps parecem manter a lógica antiga e romântica dos flertes, demandando performance, figurinos e joguinhos
Há quase 10 anos, quando o Tinder chegou ao Brasil, nossa percepção sobre a possibilidade de encontrar um amor através de apps de relacionamento era muito diferente. Mais céticos, menos experientes com essa tecnologia e mais curiosos, encaramos essa aventura como uma extensão da vida real.
Eu conheci meu parceiro atual no app, 7 anos atrás. E são muitas as histórias de casais que se conheceram lá e permanecem juntos até hoje. Mas é verdade também que cada vez ouvimos menos dessas histórias. Talvez porque já não sejam novidade. Mas também porque, como qualquer relação antiga, essa entre a gente e o cardápio virtual de potenciais dates perdeu bastante a graça.
Recentemente, fiz o experimento de me cadastrar em dois dos maiores apps de relacionamento. Aqueles que prometem estreitar o caminho com múltiplas perguntas pessoais. Em um primeiro momento, a ansiedade para descobrir quem vai gostar de volta. Aquele frio na barriga pelo primeiro match. Depois a grande frustração com as conversas rasas e sem criatividade alguma.
Era um domingo e perdi as contas de quantas conversas foram iniciadas com “como está esse domingo aí?”. Desisti de responder na terceira. O início de papo mais diferente pareceu um enfrentamento. O rapaz questionava minha bio como se quisesse que eu provasse um ponto. Mas eu não estava ali para provar pontos. Aliás, aos 30, já não quero e não tenho mais energia para provar que sou interessante o suficiente para me tornar crush – pretendente, na minha época- de ninguém.
Foi uma longa caminhada de muita terapia, autoconhecimento e reconstrução de autoestima para me ver novamente nesta vitrine do julgamento. Não levei tanto tempo me entendendo como uma mulher firme, competente, determinada e inteligente para convencer alguém de que valho a pena. Preguiça.
A verdade é que os apps parecem manter a lógica antiga e romântica dos flertes, demandando performance, figurinos e joguinhos, na mesma medida em que pouco abre espaço para que se possa ir além. As autodescrições mais carismáticas guardam em si mesmas todo o afeto, que não extravasa para as conversas que se iniciam ali.
Um mar de gente buscando amores voláteis, sexo de consolação e migalhas de carinhos ilusórios. E a pior constatação de todas é que esse é apenas um reflexo de quem estamos sendo nesse momento. Uma sociedade carente, que diz mais sobre vulnerabilidade do que pratica e que clama pelo real, mas sem conseguir sequer sair da tela do celular.